Categories: Reflexões Bíblicas

A Montanha Eucarística (Chico Machado)

  1. Quarta feira da Primeira Semana do Advento. Deus é o nosso esperançar! O tempo da esperança de Deus que, como virtude, não nos decepciona jamais! Como afirmou o apóstolo Paulo: “Por meio d’Ele e através da fé, nós temos acesso à graça, na qual nos mantemos e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus” (Rm 5,2). Somos seres de esperança e estamos em paz com Deus. Essa esperança é vivida em meio a uma luta corajosa e perseverante, embasada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado. Deus manifestou seu amor no Menino-Deus da periferia de Nazaré. “Tu vens, tu vens. Eu já escuto os teus sinais!”

Advento é vida nova! A certeza da vitória que aponta no horizonte dos nossos sonhos, que coincidem com o sonhar de Deus. Tempo de preparação e espera confiante vigilante. Temos a certeza de que alcançaremos dias melhores, mais alegria, ânimo e um ano sob as bênçãos de Deus, uma vez que o Advento nos proporciona tudo isso por causa da celebração festiva do nascimento do Deus-Menino. Preparemos o chão de nosso coração para acolher aquele que vem vindo: “o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir”. (Ap 4,8). O Senhor da história presente na história.

A chuva foi se embora de vez por aqui. O rio Araguaia segue agonizando, vendo suas águas se perderem, desnudando suas límpidas areias. Nos meus mais de 30 anos de convivência com ele, nunca o vi tão baixo nesta época do ano. O calor segue nos maltratando. Dias saáricos por aqui. Mas este prognóstico prosseguirá, enquanto continuarmos com o nosso “pecado ecológico”, maltratando aquela que nos provê de todo o necessário para a nossa sobrevivência: a mãe natureza. Bem que Eduardo Galeano já nos alertou: “Devemos tomar consciência que os direitos da natureza e os direitos humanos, são dois nomes da mesma dignidade. E qualquer contradição é artificial”.

A manhã deste dia se fez Teofania em meu quintal, com Deus se manifestando no canto festivo e alegre dos pássaros. A cada manhã, me integro nesta Teofania que é uma manifestação visível do próprio Deus. Lembrando a todos que a palavra “Teofania” tem origem na combinação de duas palavras gregas,”theos”, que significa “Deus”, e “phainein”, que significa “mostrar” ou “manifestar”. Portanto, literalmente a cada manhã, sinto esta “manifestação de Deus” em cada uma destas suas criaturas, mostrando a face de um Deus criador de tudo e de todos.

Deus sempre se manifestou na história da humanidade. Foi assim no Antigo Testamento, e foi assim também no tempo de Jesus. Quem não se lembra das leituras feitas em nossa catequese, de Moisés subindo a montanha para conversar com Deus? Hoje estamos diante de uma situação semelhante: Jesus que sobe a montanha para estar a sós com Deus, se as multidões assim o permitissem, claro! A montanha é o lugar Teofânico, onde Deus se manifesta aos seus, revelando os segredos dos mistérios de sua divindade. Teofania que acontece em momentos decisivos da história da redenção, quando Deus resolveu deixar-se ser visto por alguém com o objetivo de comunicar sua vontade a tal pessoa.

A multidão dos deserdados não deixa Jesus em paz: coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. E Jesus, ao invés de ser importunado, abre o seu coração e começa agir movido por uma imensa compaixão, curando a todos os doentes e ainda saciando a fome deles. Deus se manifesta em Jesus, que promove um dos seus sinais de partilha do pão, prefigurando aquilo que aconteceria na Quinta Feira Santa com a instituição da Eucaristia: pão partilhado para saciar a fome.

Pão da Eucarisita! Pão em todas as mesas! Este é o sinal visível de uma Igreja Sinodal em Saida. Eucaristia como Pão Partilhado à todos os famintos e não como um prêmio aos “perfeitos”. Aliás, o Papa Francisco tem chamado à atenção de muitos padres, que transfromaram o Sacramento da Eucaristia em uma “alfandega”, onde estes mesmos padres se dão o direito de escolher quem vai e quem não comer deste pão, como se fossem eles os embaixadores do sagrado. Se esta sua lógica fosse verdadeira, pode até ser que nem mesmo estes padres, estariam aptos a partilhar do pão, dadas as suas contradições no seguimento do Mestre.

O texto de Mateus de hoje nos ensina que, com a partilha do pão e dos peixes, Jesus responde às necessidades da multidão, mostrando a presença de Deus que salva o seu povo, cuja gratidão se traduz no ato de louvor. A função do seguidor e seguidora de Jesus é a de saciar a fome de pão e de cuidados daqueles que mais necessitam. Mais do que “Missas de Cura” e “Cercos de Jericós”, a Mesa da partilha da Eucaristia é o lugar do comprometimento com as causas dos que estão sendo ameaçados na sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Participar da Eucaristia é fazer-se pão partilhado, tornando-nos “Eucarísticos” e “Crísticos”, nos desafios da vida, como manifestação Teofânica de Deus em nós. Não agir desta forma é traficar o Sacramento do Pão, deixando de saciar as fomes sociais, geográficas e existenciais.

Luiz Cassio

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