Recebo sempre fotografias da artista visual Gisele B. Alfaia, que me inspiram sempre. Desta vez, de forma orante, contemplei a paisagem de ondas naRecebovegando para o oceano de Deus, na mesma medida em que fui conduzido pela atenção, solidariedade e pela compaixão junto aos idosos através de seus cuidadores e cuidadoras.
Recebi, também, a postagem de uma amiga distante, geograficamente, que conheci aos 10 anos e que já completou 60. Uma idosa que, certamente, será longeva por ter descoberto o segredo da “Caixa de Minutinhos” que aprendeu a encher desde bem cedo com a própria vida, no cuidado de seus pais. Um cuidado que, quem assim procede, humaniza-se e torna-se mais feliz.
Quase sempre o cuidado com os idosos, começa em familia. Margherita de Cassia Mizan fez esta afirmação e isto, constatei em sua pesquisa, publicada no livro que menciono abaixo, nas entrevistas que realizou com cuidadoras de ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos)
Clamo, como prioridade familiar e social, a atenção ao ciclo da vida em ondas ou ciclos quando estes chegam á terceira (60 anos) e à quarta idade (80 anos) quando têm saúde frágil e tornam-se dependentes para sobreviver. Antecipamos esta atenção pelo cuidado que a afeição provoca, desde criança, seja por obrigação ou por amor gratuito, como poetizou Carlos Drumond de Andrade em “As Sem Razões do Amor”.
São os pequenos gestos, palavras ternas, escuta afetiva, paciência perseverante que acontecem por nós, mas sem estresse, ê o que enchem as “Caixas” do coração de quem dá e de quem recebe. São minutos que se tornam eterna e fraterna presença ininterrupta do nascer ao morrer.
Não bastando encher a Caixa de Minutos, as velhices, atualmente, exigem profissionalismo, onde se aliam técnica e afeto, através de cuidadores vocacionados e capacitados para este plausível e emergente ministério (serviço). As cuidadoras e cuidadores, que perseveram na função, estão convencidos de que se trata de um dom de qum acredita encontrar Deus nos idosos. Mas, sem a poesia da fé, a realidade é sempre desafiante, como testemunham duas cuidadoras entrevistadas.
“Lidar com o ser humano é bom. É difícil, mas sabemos que a gente esta cuidando, ajudando, de alguma maneira, para que ele fique bem. Você poder dar um carinho, conversar e no final do dia, ver que você está deixando o plantão bem, sem sentimento de culpa.. (…) mas é gratificante você estar lidando com um ser humano. É isso. (VM, 44 anos, 7 anos como cuidadora de idosos em obra citada abaixo)
“Cuidar é um dom porque você mexe com urina, fezes, você mexe com uina secreção, você mexe com óbito, é muita coisa envolvida. (R.G.J., 38 anos 3 anos como cuidadora).
Em minhas andanças pelas “Casas de Repouso”, ILPIs e variantes, tenho testemunhado que profissionais da saúde, cuidadores e tantos outros estão viabilizando o que antes eram exceções, um respeito à singularidade de cada idoso, como sujeito de direitos e em resposta aos desafios, demandas e condicionamentos das mudanças culturais e jurídicas.
Nas mídias sociais, muitas mensagens de carinho, chamadas de atenção e informações povoam e provocam preocupação e nos alertam para o não descarte dos idosos, mas absorver a sabedoria que trazem no rosto e na alma. Algumas vezes, lágrimas nos olhos ocorrem, quando não estão ressecados de solidão e de um histórico de abandono e pobreza.
Nos cursos e pesquisas , sejam em mestrados ou doutorados, a longevidade passou a ser foco de estudos, até porque a pirâmide populacional está se invertendo e chamando como mercadoria ou nicho onde se vê como segmento para se ganhar dinheiro, num jogo de contradição entre o direito de ser cuidado e o possível lucro por proporcioná-lo e expandi-lo como oportunidade competente para quem se vê impossibilitado de proporcionar cuidado e carinho para seu amado pai, mãe, irmão ou tio, em casa.
Por mais que nossa preocupação se volte para as ILPIs públicas, sabemos que são urgentemente necessárias porque a vulnerabilidade dos mais pobres não tem outra alternativa, a fim de que na nova moradia adquiram direitos que lhe foram negados a vida toda.
Uma parte do título desta postagem quer mostrar que, cuidadores e cuidadoras são ainda profissionais de pouca visibilidade e de pouca importância para a sociedade. Por que será? Afinal, eles executam tarefas que estão relacionados às situações de alta vulnerabilidade etária e da proxomidade da morte mas que possibilita uma existência mais amena e suave para muitos idosos necessitados, entre os quais podemos ser qualquer um de nós. Dai, o interesse de pesquisas e de estudos para a preparação destes profissionais do presenete e do futuro.
Adquiri uma publicação de valor acadêmico de uma dissertação de mestrado, que serve muito para compreender a situação dos idosos residentes nas instituições, também chamadas de Casas de Repouso, mas não de descanso eterno. Sem dúvida, quase todos estão ali em diferentes fases e vulnerabilidades inerentes ao envelhecimento. Muito é verdade que quase todos morrerão, mas certamente não mais sozinhos, porque moram com outros na mesma condição.
Persegue-me uma dúvida que gostaria das opiniões dos leitores. São as seguintes:
1.Quando ocorre a morte de um dos residentes deve-se esconder o fato?
2. Como abordar a realidade da morte entre os idosos?
3. Seria oportuno que nas casas de repouso ou nas ILPIs, os idosos recebessem aconselhamento espiritual, de acordo com sua crença ou valores quanto ao sentido da vida e da morte?
Amigos e amigas queridos, aguardo retorno de quem se alia comigo nesta causa que, ainda, nos causa constrangimento quando vemos idosos sem visita de familiares ou daqueles que se não se tornaram padrinhos dos IDOSOS SEM FAMÍLIA OU SEM VISITAS.
Nelson Peixoto, em 15 de agosto de 2025.