Reflexões Bíblicas

A Cristologia da Cruz (Chico Machado)

34ª Semana do Tempo Comum. Solenidade de Cristo Rei do Universo. Mais uma vez, a cor Litúrgica é vermelha. Com esta Solenidade, a Igreja encerra o Ano Litúrgico C, em que estivemos refletindo e meditando com a ajuda do Evangelho de São Lucas, nosso companheiro na caminhada de fé neste período. O próximo Ano será o do Ciclo A, em que Mateus nos conduzirá, com exceção nas solenidades, em que a liturgia escolhe textos específicos de um dos quatro evangelistas.

A temática central da Solenidade deste domingo é Cruz. Ela que entra no itinerário histórico de Jesus, não porque Deus assim o quisesse, mas por obra e graça da crueza do coração humano que, além de não aceitar Jesus como o Messias enviado de Deus, tratou de pendurá-lo numa, como se a morte fosse o destino final do Filho de Deus. As autoridades religiosas, que não tinham o poder de condenar e matar Jesus, se aliaram ao poder romano, a quem coube a sentença final da morte na cruz.

Morrer na cruz era uma das piores sentenças aplicadas aos malfeitores, o que não era o caso de Jesus. Ele representava uma ameaça à ordem constituída daquela sociedade, seja no âmbito religioso, como na política. Lembrando também que naquela época, a crucificação era geralmente reservada e aplicada a escravos, estrangeiros e criminosos de menor importância, especialmente aqueles que haviam cometido crimes violentos ou traição. Era uma punição cruel reservada para os não “cidadãos romanos”.

A Cristologia, em seus estudos, define o Filho de Deus como o “Jesus Histórico”, e o “Jesus da Fé”. O primeiro é aquele Jesus de Nazaré, que viveu sua vida pública, desenvolvendo o ministério messiânico na Galileia entre os pobres e marginalizados, como as prostitutas, os doentes, cobradores de impostos e até mesmo os pagãos; o segundo é o “Cristo da Fé” pós pascal, que desce da cruz e é ressuscitado pelo Pai, que detém a última palavra, e esta é a vida em sua plenitude para os filhos seus.

Nem os discípulos de Jesus, que caminhavam com Ele, tinham esta convicção de que Jesus ressuscitaria, apesar d’Ele os terem preparado e ensinado. Esta incerteza aparece na fala de um dos discípulos que, a caminho de Emaús, sem perceber que caminhavam com o Ressuscitado, relata a sua frustração com a morte iminente de Jesus: “Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que tudo isso aconteceu! (Lc 24,21) Para alguns dos discípulos, a ficha demorou a cair e só vão se acostumando com a ideia, depois das sucessivas aparições de Jesus, devolvendo-lhes a coragem para seguirem em frente, na missão de testemunhar e anunciar o Reino.

Celebrar o Cristo, Rei do Universo é celebrar a Glória do Pai, que se faz presente na caminhada histórica de Jesus de Nazaré, tendo a roteiro da cruz em sua vida, como fidelidade ao projeto do Pai. Como servo de Deus, foi até o fim, dando sua vida pelas causas do Reino. Jesus é crucificado como criminoso, entre criminosos. Mesmo sendo martirizado e, entre a curiosidade do povo e o escárnio dos chefes e soldados, faz ecoar a palavra de perdão: os responsáveis pela morte de Jesus devem ser perdoados, porque não conhecem a gravidade e as consequências do próprio gesto.

A fala de um dos oficiais presentes no cenário da crucificação define quem era aquele crucificado: “de fato, esse homem era mesmo Filho de Deus!” (Mc 16,39) O letreiro da cruz, indicando a causa da condenação, proclama para todos a chegada da realeza que dá a vida. No momento em que tudo parece perdido, Jesus se mostra portador da salvação. Ele anunciou a salvação aos pecadores, durante a sua vida; agora, na cruz, a oferece ao criminoso. Jesus não está sozinho na cruz. Acompanham-no todos aqueles e aquelas que são condenados/as por uma sociedade que não aceita o projeto de Deus e que clamam: “Lembra-te de todos nós que ainda não conseguimos conceber na sua amplitude a Cristologia da Cruz que liberta e salva!”

Luiz Cassio

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