Reflexões Bíblicas

A cultura da indiferença (Chico Machado)

33º Domingo do Tempo Comum. O tempo litúrgico é Comum, mas o dia é especial, pois neste domingo, celebramos o Dia Mundial dos Pobres. Data esta que foi instituída pelo Papa Francisco para sensibilizar a sociedade sobre a pobreza e promover ações de solidariedade e justiça social. Este dia faz parte de um contexto maior da 9ª Jornada Mundial dos Pobres (JMP), que neste ano traz como tema “Tu és a minha esperança” (cf. Sl 71,5). Inspirada pelo convite bíblico à esperança, a iniciativa busca fortalecer o compromisso da Igreja com as pessoas em situação de pobreza, promovendo a solidariedade, a escuta e o encontro fraterno. Esta celebração ocorre sempre no 33º Domingo do Tempo, que neste ano acontece no dia 16 de novembro.

Coincidentemente a data de hoje traz também uma reflexão importante, pois a comunidade internacional celebra o Dia Internacional da Tolerância. Criada em 1996, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), esta data tem o objetivo de promover o bem estar, o progresso e a liberdade de todos os cidadãos e cidadãs, fomentando a tolerância, o respeito, o diálogo e cooperação entre diferentes culturas, religiões, povos e civilizações, ainda mais neste contexto pluriétnico que é constituído o Brasil. Aqui no nosso país, ainda há a comemoração do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado no dia 21 de janeiro. Para nós esta data possui o significado de também sensibilizar a população brasileira a respeitar as diferenças religiosas que existem no país. “As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto”. (Mahatma Gandhi)

Apesar de todo o modernismo proveniente dos avanços da tecnologia, ainda vivemos intermeados pela cultura da indiferença, sobretudo em relação às comunidades mais pobres. As “pessoas de fé e do bem”, até se sensibilizam em relação à caridade, mas mesmo esta, carece de uma melhor definição, pois, enquanto há a prática da caridade, estas mesmas pessoas se indispõem quanto à justiça social, se referindo a esta como algo oriundo do “comunismo”, ou de uma ideologia presente na Teologia da Libertação. A caridade destas pessoas se constitui no ato de “dar esmolas”, mas não se preocupam com uma ação social solidária, que possa trabalhar a situação da desigualdade de uma sociedade estruturada na exclusão, denunciada na Conferência Episcopal Latino-Americana de Puebla de 1979: “há ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres”. É preciso combater a cultura da indiferença com a cultura da solidariedade.

“Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25,40) Ter fé significa manter o reconhecimento e um compromisso concreto com a pessoa de Jesus, que no dia hoje, através do texto de Lucas, está orientando os seus discípulos quanto a relação que estes devem ter com o templo. Na verdade, os discípulos estavam fascinados com a beleza do Templo e recebem a investida de Jesus, que profetiza a destruição do Templo de Jerusalém: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. (Lc 21, 6) Isto que Jesus fala, acontece no ano 70 d.C., já que o Templo que era o símbolo da relação de Deus com o povo escolhido, havia se transformado no centro do poder político, econômico e religioso, promovendo a sociedade da desigualdade. Jesus salienta que o fim de uma instituição não significa o fim do mundo e nem o fim da relação entre Deus e os homens.

O texto de hoje trata de um discurso escatológico de Jesus, que retrata os eventos futuros, como a vinda do Filho do Homem, o juízo final e o “fim dos tempos”. Nele, Jesus também alerta sobre os falsos profetas, perseguições aos cristãos e a importância de permanecerem firmes até o fim, pois Deus é o Senhor da História. Não se trata de algo para amedrontar e causar espanto, mas sim para o ressurgimento da esperança, para aqueles que se mantiverem vigilantes e atuantes na prática da justiça. Jesus alerta para que os seus discípulos não se deixem enganar pelos falsos profetas e mantenham firmes na convicção do seguimento d’Ele, pois: “e permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19)

O texto de Lucas deste 33º Domingo Comum situa-se na última semana de Jesus, em que Ele avista no seu horizonte próximo, a sombra da cruz. Mesmo neste cenário da morte eminente de Jesus na cruz, Ele continua ensinando os seus discípulos, pois serão eles os continuadores que deverão prosseguir com a missão pelo testemunho. E, assim como Jesus encontrou resistência e foi rejeitado, eles também serão perseguidos, presos, torturados, julgados e até mesmo mortos, por continuarem a ação d’Ele. Mas eles não devem ficar preocupados com a própria defesa. O importante é a coragem de permanecerem firmes até o fim, solidários com as causas dos que mais sofrem, os empobrecidos. Para os discípulos permanece a afirmação feita por Jesus no final do capítulo 16 do Evangelho de João: Eu disse essas coisas, para que vocês tenham a minha paz. Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem; Eu venci o mundo”. (Jo 16,33)

Luiz Cassio

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