A dimensão social da fé (Chico Machado)

Sábado da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Enquanto aqui vamos convivendo com a fumaça, decorrente das queimadas sistemáticas de todos os anos, nesta época do ano, lá fora, o outro Brasil, ainda segue com as temperaturas baixas. “Os tempos são outros“, dizem os mais velhos “enfrentantes da Prelazia” por aqui. A Mãe Terra clama por dias melhores, sem tanta agressão ao meio ambiente. Ainda bem que o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou, com 63 vetos no dia de ontem (8), a Lei 15.190/25, com regras gerais para o licenciamento ambiental. Da forma como estava proposto, este licenciamento iria causar um desastre ainda maior, satisfazendo os interesses da Bancada Ruralista do Congresso Nacional. Como observa o teólogo Leonardo Boff: “o mal não está para ser compreendido, mas para ser combatido”.

09 de agosto. Um dia especial para os povos indígenas. Celebramos hoje o “Dia Internacional dos Povos Indígenas”. Data criada em 1995, pela Organização das Nações Unidas (ONU), este Dia Internacional dos Povos Indígenas busca garantir a autodeterminação e os direitos humanos às diversas etnias indígenas do planeta. Garantir as condições de existência dignas mínimas aos povos indígenas, principalmente no que se refere aos seus direitos culturais e suas condições de vida, assegurando a garantia aos Direitos Humanos, para aos mais de 300 povos indígenas no Brasil, com uma população de aproximadamente 1,7 milhão de pessoas, segundo o IBGE. O Censo 2022 do IBGE registrou 1.693.535 indígenas no Brasil, representando 0,83% da população total, falando cerca de 274 línguas distintas. Línguas estas que pertencem a diversas famílias linguísticas, como Tupi-Guarani, Macro-Jê, Aruák, Karib, Pano, além de famílias linguísticas menores, sem contar as dos povos isolados.

Aprende-se a amar desde pequeno, no espaço da vida familiar. Apesar de fazer parte da essência do ser humano, como característica fundante, o amor se aprende também com os pais. Sendo amado, se aprende a amar! Amor que está presente na relação de Deus com o ser criado. Deus tudo criou por amor. Deus é Amor! “Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele”. (1 Jo 4,16) O centro da vida humana é a prática do amor. Esse amor, testemunha concreta e visivelmente, o conhecimento e a união que temos com Deus e com o seu Filho, Jesus de Nazaré. Deus que é amorosidade infinita, Pai de todos e todas, que manifesta este seu amor infindo, na pessoa de seu Filho no meio de nós, permitindo-nos assim, acessar esta divindade de Deus. Por isso, quem ama sabe que está em sintonia com este Deus que a todos ama indistintamente.

Amor que fez Jesus olhar com extremo carinho para a pessoa de um pai aflito, que o procura, pedindo a cura de seu filho doente, conforme o relato do evangelista Mateus, no texto da liturgia deste sábado. “Senhor, tem piedade do meu filho. Ele é epilético, e sofre ataques tão fortes que muitas vezes cai no fogo ou na água”. (Mt 17,15) Lembrando que no tempo de Jesus, a epilepsia era associada a um tipo de possessão demoníaca. Sendo assim, a sua cura passava pelo processo de “expulsão de demônios” ou a intervenção divina. Era considerada uma doença misteriosa e sob os aspectos religiosos e espirituais. O próprio Mateus, que testemunhou pessoalmente esse episódio, afirma que Jesus realizou um “exorcismo”, ao qual se seguiu uma cura. O pai da criança, já havia pedido aos discípulos que curassem o menino, mas eles não conseguiram. O menino é levado diante de Jesus e imediatamente recupera a consciência.

Aqui vemos a dimensão social da fé, conforme também preconiza a Doutrina Social da Igreja (DSI). Ter fé é sair do intimismo introspectivo, e partir para uma relação que envolve a pessoa num plano maior de convivência humana. Ter fé é sair de si mesmo e assumir, que fazemos parte de uma família mais abrangente, situando-nos no contexto da convivência humana dos filhos e filhas de Deus. Jesus procurou o tempo todo mostrar esta dimensão aos discípulos, ensinando-os o tamanho desta inter-relação. É por este motivo que Ele se envolve direta e comprometidamente com a vida sofrida dos pobres, doentes, marginalizados, todas aquelas pessoas que eram descartadas pela sociedade e pelos religiosos daquela realidade. O pai aflito encontra em Jesus alguém que o acolhe, cuida e cura as feridas de seu filho, devolvendo-lhe a dignidade de sua vida.

Chamados por Jesus e por Ele instruídos e formados, os discípulos, que estão iniciando o trabalho de continuar a obra de Jesus, falham nas suas primeiras tentativas. O motivo é a falta de fé, ou seja, não acreditam que o poder de Deus se expressa também através da ação concreta deles. Considerar impossível a “desalienação” (enxergar/ouvir com os próprios olhos/ouvidos e caminhar com as próprias pernas) das pessoas é não acreditar no poder transformador de Deus que age na pessoa de Jesus e em todos aqueles e aquelas que fazem a sua opção pelo seguimento radical d’Ele. Desta forma, os discípulos de Jesus e também nós, só poderemos ajudar as pessoas a discernir a realidade (ouvir) e dizer a palavra transformadora (falar) se estivermos plenamente convictos de que Deus quer realizar uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.