Sábado da Sexta Semana da Páscoa. Maio vai dando o seu adeus, nos colocando nos braços de junho. Um final de semana bastante rico de nossa liturgia. Hoje, véspera da Solenidade da Ascensão do Senhor, estamos celebrando a Visitação de Maria à sua prima Isabel. Momentos muito significativos para a nossa caminhada de fé cristã, ocasião para aprendermos um pouco mais, para que os nossos passos sejam direcionados no sentido de uma fé engajada, comprometida e transformadora da realidade. Não basta alimentar uma fé de devocionismos, mas sim de ter a consciência e o discernimento, para que o nosso compromisso no seguimento de Jesus seja alimentado por uma espiritualidade transformadora e comprometida com a justiça, a igualdade a fraternidade.
Os Mártires da Caminhada estão ai para nos mostrar que a vida cristã, desde os seus primórdios, foi marcada pela vida de pessoas que deram o seu sangue pelo Reino. Em virtude da sua coerência e fidelidade em seguir os passos de Jesus, foram perseguidos e até mortos pelas causas do Reino. Não foram pessoas que ficavam apenas rezando, louvando e adorando dentro dos templos, mas marcaram as suas vidas como peregrinos de esperança, na luta pela vida plena dos empobrecidos, num cenário de desigualdade e injustiça, promovidas pelos poderosos de ontem e de hoje. Ainda bem que Jesus já alertara todos aqueles que fizerem a sua adesão pelo projeto de Deus: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33) Jesus não engana seus seguidores, mas os adverte também que, é pelo de testemunho fiel que as nossas lutas serão vencidas. Para quem acredita em Jesus, a ordem social injusta, que condena o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre.
Maria visita sua prima Isabel. A liturgia deste sábado nos coloca diante de um texto que nos relata o encontro solidário de uma mulher que, mesmo estando grávida, se desloca até a sua parenta, para prestar-lhe sua amorosidade solidária. Maria e Isabel, o encontro de duas gerações, expressando toda uma riqueza teológica, quando o Antigo Testamento encontra-se com o Novo, fazendo acontecer assim a profecia já anunciada, com a chegada da Nova Aliança, cumprindo a promessa feita por Deus e anunciada pelos antepassados patriarcas e profetas. João Batista encontra-se com Jesus, fazendo assim a passagem para a nova vida trazida por Aquele que ele viera anunciar como Precursor. Dois ventres gestando vidas. Ainda no seio de sua mãe, João Batista recebe o Espírito prometido e reconhece o Messias, apontando-o através da exclamação de sua mãe Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”. (Lc 1,42)
Maria é aquela que acreditou, mesmo sendo uma mulher. Lembrando que naquele contexto histórico, as mulheres eram tidas como seres inferiores e de nada valiam, para o patriarcado machista de homens acima de tudo e de todos. Maria sabe e reconhece que Deus olhou para ela com extremo carinho e ternura, possibilitando que através de uma mulher pobre e marginalizada, portanto, excluída, o Filho de Deus seria gestado e preparado para assumir a missão de Salvador de toda a humanidade: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,46-49) Somente uma fé madura e consistente chega a este entendimento como Maria.
Depois de reconhecer a manifestação Teofânica de Deus (aparição ou revelação da divindade; manifestação de Deus) em sua vida de mulher pobre e marginalizada, Maria pronuncia uma das paginas mais revolucionárias de todo o Novo Testamento, conhecido por todos nós como “Magnificat”: “Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias”. (Lc 1,51-53). Texto que traduz, sem meias palavras, a predileção de Deus pelos pequenos, tornando-os destinatários primeiros do Reino. Uma página que se tornou desconhecida e até rasgada por muitos daqueles que se dizem “cristãos católicos”, dada a sua clareza quanto à missão dos seguidores de Jesus neste mundo tão dividido, desigual e injusto. Diante desta proposta clara e objetiva de Deus, Maria, corajosamente responde com o seu sim digno de uma grande mulher: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38).
Numa sociedade patriarcal, marcada pelo pensamento, pela ética e moral de homens machistas, Maria se torna a digna representante direta da comunidade dos pobres. Sim, porque o cântico de Maria é o cântico dos pobres que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através daquele que ela traz em seu ventre: Jesus, o Filho de Deus. Cumprindo a sua promessa feita desde sempre, Deus assume o partido dos empobrecidos, realizando uma transformação histórica, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história. Portanto, cabe-nos, ao devotar a nossa fé em Maria, assumir o lado dos empobrecidos. Não basta acreditar em Maria, repetindo chavões provenientes de um devocionismo vazio de compromisso. É necessário ter a mesma fé de Maria, sendo instrumento nas mãos de Deus, para que Ele possa fazer de nós, transformadores da realidade de pobreza e desigualdades, fruto da injustiça promovida por homens (inclusive religiosos), usando o nome de Deus para fazer valer os seus interesses e privilégios mesquinhos e de avidez. Que muitas outras Marias possam renascer um nós, fazendo acontecer o grito dos pobres por libertação!
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