Reflexões Bíblicas

A lógica do Reino (Chico Machado)

Quarta feira da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. No horizonte de nosso campo visual já vemos a luz de um novo mês que vem chegando. Deverasmente, o tempo passa rapidamente, como demonstra o escritor, que no dia de hoje, celebramos o seu nascimento: Mário de Miranda Quintana (1906-1994). Além de escritor, poeta, tradutor e jornalista, Mário Quintana nasceu nas terras gaúchas e contribuiu enormemente com os seus escritos para a cultura brasileira. Como disse acima, num de seus poemas, ele descreve de forma simples e objetiva o nosso ser neste mundo: “A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… Quando se vê, já é 6ª-feira… Quando se vê, passaram 60 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado… E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente…” (“O Tempo”, também conhecido como “Seiscentos e Sessenta e Seis”)

Quando se vê, já é dia 30 de julho! Mais da metade deste ano já se foi. Cada dia que passa é um dia a menos em nossa história de vida. Para alguns de nós (como eu), o tempo que resta nesta estada aqui neste plano, é bem menor do que aquele já vivido. Por este motivo, nunca devemos deixar para depois, o que deveria ser feito no aqui e agora, como bem diz o adágio popular: “Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje”. Significa aproveitar o momento presente. Do contrário, pode ser tarde demais, como alerta-nos o poeta. Neste tempo que anda veloz, é importante ter atitudes diferenciadas: tratar as pessoas com amorosidade; ter empatia diante das adversidades e as dificuldades que o outro está enfrentando; ser solidários nas causas dos que mais necessitam de carinho, acolhida e cuidado. Mesmo quando tudo parecer difícil, se tratarmos as pessoas com gentileza, então a felicidade, de alguma forma, vai chegar, uma vez que, gentileza gera gentileza!

Esta é também a lógica do Reino anunciado por Jesus. Para nele entrar, tornam-se necessárias algumas mudanças significativas em nossas vidas. Aquilo que a proposta da experiência de fé chama de conversão. Se bem entendido, a conversão cristã é uma mudança radical na vida de uma pessoa, onde ela deixa de seguir seus próprios interesses e caminhos, e se volta para a proposta de Jesus de Nazaré. Uma transformação que envolve uma mudança de mente (arrependimento), de coração e de comportamento, de atitudes no modo de ser, agir e pensar, assumindo uma nova vida, como seguidor e seguidora de Jesus. O desafio maior é o de converter-nos na perspectiva do Reino, como Jesus mesmo nos propõe: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia”. (Mc 1,15)

A hora é agora! Não é mais tempo de esperar. É hora de agir. O Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical da situação injusta que domina as pessoas. Está próximo: o Reino é dinâmico e está sempre crescendo. A ação de Jesus exige mudança radical da orientação de vida. Acreditar na Boa Notícia é aceitar o que Jesus realiza e empenhar-nos com Ele. É nesta perspectiva que devemos olhar para o texto proposto hoje pela liturgia, nos fazendo pensar. Jesus anunciando o Reino em parábolas. Importante salientar que as parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus são narrativas curtas e ilustrativas que usam situações do cotidiano para ensinar verdades profundas sobre o Reino de Deus e como viver em relação a ele. Sua preocupação maior é revelar a natureza do Reino, seu valor incomparável e o chamado para a nossa entrega total a Ele.

No texto de Mateus sugerido para esta quarta feira, Jesus conta duas parábolas: “Parábola do Tesouro Escondido” (Mt 13,44). O Reino sendo comparado a um tesouro escondido, pelo qual um homem vende tudo para adquirir o campo onde ele está, ilustrando a alegria e o valor do Reino; “Parábola da Pérola de Grande Valor” (Mt 13,45-46), onde o Reino de Deus é comparado a uma pérola preciosa, pela qual um dado homem vende tudo para comprá-la, simbolizando o valor incomparável do Reino e a necessidade de priorizá-lo acima de tudo. Em ambas as narrativas estão implícitas a alegria e o contentamento que os personagens citados manifestam diante do valor imensurável do objeto encontrado (o tesouro e a pérola preciosa).

Entrar no Reino é a necessidade que devemos manifestar em vida com a nossa força maior. Para entrarmos no Reino de Deus não basta dizer que o queremos simplesmente. Para entrar no Reino é necessária uma firme e corajosa decisão, como escolha primordial. É preciso sair de nós mesmos, das nossas indiferenças, maldades, incertezas e acomodações. Como o texto de Mateus hoje nos provoca apegar-nos a seguranças, mesmo religiosas, que são falsas ou puras imitações, em troca da justiça do Reino, é preferir coisas mesquinhas e de pouco valor no lugar de uma “pedra preciosa”. Aqueles e aquelas que acham que somente participar dos cultos religiosos, já bastaria para acessar ao Reino, terão uma grande decepção, pois para fazer parte deste Reino é necessário fazer opções radicais e, como sabemos, toda opção que fazemos, tem as suas consequências. Termino esta minha alocução citando uma das frases de Mário Quintana: “Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo… Quem pretende apenas a glória não a merece”.

Luiz Cassio

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