As águas do Mindu cruzam ruas e avenidas, vindas de longe , carregando odores, flores e folhas. Outrora limpo, hoje, sujo, mal olhado e desprezado.
Quase todos os dias vou até a ponte, caminhando, para mais uma vez, olhar a corredeira lenta e saudar um amigo camaleão cristal e arrepiado.
Se passar criança com o pai e a mãe, chamo atenção para o bicho, comendo folhas, pegando sol ou se preparando para dormir. Com certeza, tem nas margens uma família que é dele.
Eu dei o nome para esse ponto de encontro: Ponte do Camaleão. Pode ser iguana, disse-me um refugiado venezuelano que mora na Vila Amazônia.
Fiz da ponte , um lugar para saudar as pessoas. É passagem obrigatória de trabalhadores e trabalhadoras de comércio, de clínicas, restaurantes e condomínios do Bairro do Vieiralves. Fácil acesso do ir e vir ao Plazza Shopping, onde muitos do bairro vão fazer compras sem precisar de transporte.
Alguns transeuntes da ponte estão se tornando conhecidos por mim, com os quais converso e mostro o igarapé (rio).
Passagem transitada por tanta gente que me faz refletir a necessidade das pontes que precisamos construir para ligar os corações, antes de impor os pensamentos para o discurso único e totalitário, impositivo e ideologizado pela busca cega da segurança ou movido pelo ressentimento.
Pontes que apontem e abram trilhas para seguir com justiça social, igualdade de oportunidades, práticas de tolerância e compaixão.
Jogar nas águas os detritos da alma, nas formas de indiferença, preconceitos, desprezos, mentiras e prepotências.
O mergulho nessas águas recordam o Rio Jordão e os clamores de João Batista. “Preparai novos caminhos para o Senhor”.
Buscar a limpidez das águas, ir à fonte originária, despoluir da prática cristã as desavenças do domínio da razão sobre a fé e do EU centrado no desejo de vencer sobre os outros, a todo custo.
Sobre a ponte passamos de mãos unidas, ligando as margens que, apesar de diferentes, da esquerda e da direita, são banhadas pelo mesmo rio. Por cima , vem a chuva que nos lava, por baixo , correm as águas, levando as mágoas.
O amigo camaleão testemunha o abraço que acontece ligando as diferenças por um mundo de Paz e Fratenidade.
E um amigo, padre Martin Laumann, escreve no seu comentário diário sobre o Evangelho de Jesus:
“Vida da gente, coração da gente, cabeça da gente é como água de rio; nunca é a mesma nem igual.”
Mas podemos ser UNIDOS no amor de Jesus e nos abraçar.
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