Reflexões Bíblicas

Alegra-te Cheia de Graça (Chico Machado)

Sexta feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a comunidade católica, que celebra no dia de hoje, a memória litúrgica de Nossa Senhora Rainha. O mês de agosto é um mês especial para a Igreja, que dedica este às vocações. Em agosto também celebramos festas importantes dentro do calendário litúrgico: Transfiguração do Senhor, a Assunção de Nossa Senhora e, por fim, a festa de Maria Rainha. A memória litúrgica de Nossa Senhora Rainha é celebrada exatamente oito dias após a Assunção de Maria, para realçar a relação entre as duas festas: Maria elevada ao céu é coroada como Rainha ao lado de seu Filho. Esta festa foi instituída por Pio XII, em 1954, através da encíclica Ad Caeli Reginam. Antes, esta festa era celebrada em 31 de maio, no encerramento do mês mariano. Entretanto, com a reforma litúrgica, foi transferida para o mês de agosto.

Por ser a Mãe de Jesus, Mãe da Igreja e nossa, Maria, desde muito cedo, segundo a tradição, foi invocada como Rainha. Invocá-la como Rainha não significa colocá-la em um trono de poder humano, mas reconhecê-la como a humilde serva do Senhor, como ela mesma se colocou diante de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Sendo assim, sua realeza é marcada pelo amor, pelo serviço e pela maternidade, de quem se colocou nas mãos de Deus, para que se cumprisse nela a sua vontade. Desta forma, ela é a nossa referência, de como trilhar os caminhos de Deus, nos educando para seguir os passos de seu Filho, com humildade, doação total e entrega pelas causas do Reino. “Maria, Mãe dos caminhantes, ensina-nos a caminhar! Nós somos todos viajantes, mas é preciso sempre andar!”

Celebrar Nossa Senhora Rainha é reconhecer que sua missão materna continua ainda hoje no meio de nós. Maria intercede por nós, protege-nos e guia os nossos passos no caminho da paz. Maria é invocada como Rainha da Paz, enquanto o mundo de hoje convive com guerras sangrentas, destruindo a vida de milhares de pessoas inocentes, dentre elas, mulheres e crianças. Foi pensando assim, que o Papa Leão XIV, nos convida no dia de hoje, a rezar pelo fim das guerras na Terra Santa, na Ucrânia e em tantas outras regiões do mundo: “suplicando ao Senhor que nos conceda paz e justiça, e que enxugue as lágrimas daqueles que sofrem por causa dos conflitos armados em curso. Maria, Rainha da Paz, interceda para que os povos encontrem o caminho da paz”.

Nosso bispo Pedro, num dos versos de seu poema, “Oração da paz na caminhada”, dizia assim: “Deus da Paz verdadeira, que brota da Justiça e floresce em irmandade: dá-nos a tua Paz! Livra-nos da paz inerte, que se omite. Livra-nos da paz corrupta, que se vende. Livra-nos da paz que foge, se refugiando no fatalismo ou até numa falsa espiritualidade. Dá-nos a Paz em caminhada, a Paz que luta pelo Reino…” Nosso profeta do Araguaia via a paz como uma busca constante pela justiça, dignidade, liberdade e harmonia entre os povos e a natureza. Como ele mesmo definia, uma “paz inquieta”, que não se contenta com a situação existente, mas que exige ação e transformação para construir um mundo mais justo e fraterno, contrapondo à “paz armada” da violência, daqueles que se julgam donos do poder.

Além de Mateus, Lucas é o evangelista por excelência que narra os caminhos de Maria, rumo ao projeto de Deus, desde a sua vida simples em Nazaré, na Galileia. Ela é descrita como uma mulher simples, humilde e corajosa. Segundo a tradição cristã, Maria é vista como um modelo de virtude. Acredita-se que ela descendia de Davi e teria entre 12 e 16 anos ao conceber Jesus em seu ventre, sendo chamada “Mãe de Deus” desde o Concílio Ecumênico de Éfeso, realizado na cidade de Éfeso, na Ásia Menor, em 431 d.C., convocado pelo imperador Teodósio II. Como podemos ver no texto lucano de hoje, O Anjo Gabriel vai até a periferia, para anunciar o projeto de Deus, a ser construído com a participação decisiva de uma mulher pobre, simples e humilde, longe dos centros do poder: “Maria, alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor é contigo; és bendita entre todas as mulheres da terra!”

A descentralização teológica e antropológica do centro do poder para a periferia. Deus que não escolhe os palácios grandiosos de Jerusalém, para fazer acontecer o seu projeto libertador, mas numa casa pobre, de uma moradora da periferia. Numa sociedade patriarcal machista, Deus escolhe a figura de uma mulher pobre, para implantar o seu projeto libertador. Maria se torna assim a digna representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da graça da intervenção divina de Deus. Aquele que vai iniciar a nova história surge dentro da história da periferia, de maneira totalmente nova. Maria foi escolhida por Deus para ser a “cheia de graça”, a primeira discípula e aquela que permaneceu unida aos Apóstolos em Pentecostes. Maria, intercedei a Deus por nós e nos dê a paz!

Luiz Cassio

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