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AMIGO PÉ DE VALSA, UM VIOLEIRO INCANSÁVEL QUE CASOU BEM CEDO (NELSON PEIXOTO)

AMIGO PÉ DE VALSA, UM VIOLEIRO INCANSÁVEL QUE CASOU BEM CEDO

Era mais do que uma viola encantada que se transformava em bandolim, pandeiro e reco-reco nas mãos de “caduco” feliz, que se lembrava de seu tempo de forrozeiro.

Tocava todos instrumentos que apareciam naquelas bandas, no seu tempo de jovem, quando começou a namorar, com todo o respeito, a sua linda filha do patrão, que completava 13 anos. Disse-me: “O pai dela ficava entre nós dois enquanto namorávamos”. O meu amigo foi dizendo que, se o padre passasse no ano seguinte, na Fazenda “Boi Manso”, faria o casamento, porque o pai dela já tinha consentido.

Naquela longa espera, mesmo sendo músico e cozinheiro da patroa, trabalhava com seus companheiros de segunda a sexta-feira para o patrão, que seria seu futuro sogro. Era um homem trabalhador, de confiança da família da noiva, pois tinha toda a permissão de levar a jovenzinha para a festa das redondezas da fazenda.

A Dança das Ondas – Foto de Gisele B. Alfaia

Selava seu cavalo com pele de ovelha e zarpava com a noiva perfumada para a festa. Todos dançavam com todos, só não homem com homem. “Muitas famílias, naquele sertão, viviam sem ciúmes, viviam num paraíso de muito trabalho, dança e comilança”.

O trabalho era pesado e suado, mas sempre se molhavam nas bicas para descansar nas horas de sombra ou no fim da tarde das sextas-feiras. Os maridos, inclusive o patrão, combinavam para a valsa do “morangotango”, cujo nome surgira quando um novato, também festeiro, trouxe umas mudas de morango para plantar na fazenda. 

Naquele tempo, não se bebia cachaça de engenho, mas começou-se a fazer uma mistura fina da “moreninha” de alambique com morango, o que deu o nome da valsa benfazeja e bem alegre”.

 

Contavam os antigos do lugar que aparecera, muitos anos antes, um homem mau que diziam ter parte com o “diabo”, de tão mau que era. Daí, o padre velho disse que se rezassem para o “diabo dos infernos”, este mesmo ia expulsar o homem do meio deles, porque não admitia ninguém fosse mais mau do que ele no mundo. Nesse caso, depois se descobriu que o homem não era mau, apenas sofria da doença da danada da cachaça e ficava valente. O padre deu um banho de água benta tão forte que o homem se tornou manso, que nem coelho cego.

A Valsa ds Árvores – Foto de Gisele B. Alfaia

Meu amigo contou que, deste dia em diante, não entrou mais cachaça nas festas, mas o nome da valsa ficou famoso naquelas beiradas do Rio Jequitinhonha, bem ao norte de Minas. A valsa dos finais de semana prosseguiu sem interrupção, até o dia em que o padre voltou para o casamento da moça faceira com o meu amigo respeitador. O porco foi assado no rolete, tinha cocada e doce de leite, alegrando a noite com valsa do morango+tango argentino, mas sem cachaça, apenas vinho de buriti.

 

Lembrei que Jesus atendeu sua mãe nas festas que participava com seus escolhidos para segui-Lo. Certa vez, faltara vinho e a festa ia acabar para a tristeza de todos. Sabe-se que Jesus aproveitou o momento para anunciar que sua hora estava perto e deu seu jeito, transformando água em vinho.

 

O grande recado que a mãe de Jesus deu para os festeiros foi que fizessem o que Jesus mandara. “Fazei o que Ele mandar”. Pois bem, meu amigo “Pé de Valsa”, declarou: “Meus amigos e eu já vivíamos unidos e trabalhando para conservar as fontes de água e afastando aqueles que chegaram para tirar minério dos morros e envenenar os rios”

 

“E Deus viu que tudo era muito bom” Foto de Gisele B Alfaia @giselealfaia

Eu, escutador de histórias, tive a tristeza de dizer que, atualmente, nas terras das Minas Gerais, já aconteceram desastres ecológicos devido à mineração, onde muitos morreram sem ter a vida festejada entre amigos de fé e de trabalho. Lembrei que na Bíblia, no começo do mundo, Deus criou tudo muito bom para a alegria de todos e a festa não ter fim.  

Luiz Cassio

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