Reflexões Bíblicas

Amizade verdadeira (Chico Machado)

Terça feira da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. Neste dia, a Igreja celebra a memória dos irmãos, Marta. Maria e Lázaro, uma família muito amiga de Jesus. Coube ao Papa Francisco, através de um decreto da Congregação para o Culto Divino, em 2 de fevereiro de 2021, estabelecer esta data de hoje para a celebração conjunta dos três santos Marta, Maria e Lázaro no Calendário Romano Geral da Igreja Católica. Antes disso, Marta já era celebrada individualmente em 29 de julho, mas a inclusão de Maria e Lázaro marcou a primeira vez que os três irmãos de Betânia são lembrados juntos como santos. Esta família morava em Betânia, que no tempo de Jesus, era uma pequena aldeia situada a cerca de 3 km de Jerusalém, próxima ao Monte das Oliveiras. Por ser amigo intimo daquela família, Jesus frequentemente se refugiava ali.

É verdade, Jesus tinha amigos muito próximos de si. Ele não somente tinha amigos, como também ensinou os discípulos e os seguidores dele, sobre a importância da amizade e a valorização destas amizades nas relações cotidianas. Como os discípulos faziam parte do grupo de Jesus, eram eles seus amigos mais próximos, com os quais tinha uma relação de intimidade. Todavia, Jesus também tinha amigos que não faziam parte do discipulado, mas que o seguiam. Jesus sabia da importância das amizades, tanto que orientou os seus, a terem sempre amigos em quem confiar e depositar neles tal confiança. A importância dada por Jesus às amizades, não se tratava apenas de uma questão de sentimentos, mas principalmente de ação e fidelidade para com as coisas do amor na relação fraternal. Tanto que o tempo todo, Ele demonstrou o seu amor e cuidado por seus amigos, estando presente em momentos de alegria e tristeza, oferecendo apoio e ensinamentos.

Amizades! O que seria de nós sem as nossas amizades? O filósofo empirista e ensaísta inglês, Francis Bacon (1561-1626), dizia assim sobre a amizade: “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto. A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas!”. O que seria da minha pessoa, não fossem os amigos e amigas, que catalogo no mural da minha história? Sou o que sou e quem sou, graças aos amigos e amigas que a vida me reservou. Tenho por eles/as uma profunda gratidão, que procuro traduzir no afeto e amorosidade que sinto por cada um/a deles/as. A forma que encontrei de tê-los guardados nas esquinas de meu coração é rezar por eles/as a cada manhã, nos meus momentos de intimidade dialogal com Deus. Vou rezando e fotografando na memória, estes amigos e amigas de plantão.

Apesar da amizade que unia Jesus àquela família, o clima era de tristeza mediante a morte. Aliás, a morte sempre nos surpreende, ainda mais quando se trata de alguém muito próximo que amamos. Com Marta e Maria não foi diferente, porém, enquanto elas estavam falando da morte, Jesus fala da vida: “Teu irmão ressuscitará”. (Jo 11,23) Para os que têm fé, a morte não é o fim, porque Jesus se apresenta como a Ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física. Para a fé cristã a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude. A vida plena da ressurreição já está presente naqueles que pertencem à comunidade de Jesus.

Se a morte não é o fim, a partir de então, somos novas criaturas, como São Paulo manifestou assim em um de seus escritos: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas passaram; eis que uma realidade nova apareceu”. (2 Cor 5,17) A nossa adesão a Jesus faz de nós estas novas criaturas. A cruz de Jesus anuncia o fim da inimizade com Deus e inaugura a era da reconciliação definitiva universal. Enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus vai escolhendo pessoas para exercer o ministério da reconciliação. Por meio deles, Jesus continua sua atividade na terra, convocando-nos para está reconciliação com Deus. A dor da perda se transforma em esperança de que, assim como o Ressuscitado triunfou, haveremos também de alcançar esta grande graça de estarmos frente a frente com o Deus Criador.

“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais”. (Jo 11,25-26) Mais do que uma profissão de fé, trata-se da essência da vida cristã, uma vez que a morte não tem a última palavra, porque Deus fez descer da cruz o Ressuscitado, dando-lhe a vida. A Ressurreição torna-se o núcleo central da fé crista, como Paulo demonstra em uma de suas cartas: “Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”. (1 Cor 15,14) Marta deposita toda a sua confiança nas palavras de Jesus, tornando assim o exemplo da discípula fiel, que descobre a Palavra de Deus em Jesus de Nazaré e a acolhe com atenção, dando continuidade à vida na experiência concreta que teve com o Mestre Galileu. Conhece mais profundamente a proposta de Jesus e passa a conhecer a si mesma, fazendo da vida um seguimento concreto de Jesus, tornando-se integrante do grupo dele. Marta, Maria e Lázaro, testemunhas vivas da amizade verdadeira e fiel

Luiz Cassio

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