Reflexões Bíblicas

Aonde quer que tu vás (Chico Machado)

Segunda feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Junho vai se despedindo de nós, entregando o bastão ao sétimo mês de nosso Calendário Gregoriano. Lembrando que foi um dos papas, Gregório XIII, 226º papa da Igreja Católica, que instituiu este calendário, em 1582, sendo seguido por nós até os dias de hoje. Ele assinou um documento determinando uma reforma na maneira de contar o tempo. Ficou assim chamado de Calendário Gregoriano em homenagem a este papa que teve o seu pontificado entre os anos de 1572 até o ano de sua morte em 1585. Uma semana que se inicia em clima de ressaca, depois de tantos festejos juninos, para a alegria de nossas comunidades. Começar a semana é sempre um desafio, sobretudo para aqueles que não se acomodam, mas estão sempre em busca de novos horizontes e desafios.

Somos novas criaturas, na medida em que abraçamos as causas do Reino, e nos deixamos ser tomados pelos desafios que a vida, no seguimento de Jesus nos impõe. Paulo, que celebramos ontem a memória de seu martírio, entendeu muito bem o que isso significou na sua vida, ao afirmar em uma de suas cartas: “se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2 Cor 5,17) Esta proximidade com o projeto de Deus não acontece simplesmente vendo o Evangelho como uma história da vida de Jesus, e sim o anúncio de sua morte e ressurreição, que refaz a condição humana, vencendo a alienação causada pelo pecado e inaugurando uma nova era. Assim, a cruz de Jesus anuncia o fim da inimizade com Deus e inaugura a era da reconciliação universal de toda a humanidade. Sob esta perspectiva, enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus escolheu apóstolos para exercer o ministério da reconciliação. É por meio destas pessoas que Jesus continua sua atividade na terra e convoca todos nós para esta missão.

Certamente um destes escolhidos por Deus foi Francisco Cândido Xavier, ou simplesmente, Chico Xavier, que na data de hoje, em 1910, fez a sua páscoa. Mineiro como eu, Chico foi um médium, considerado um dos mais importantes expoentes do espiritismo. Através de seus mais de 450 livros escritos, com certeza, ajudou muitas pessoas a encontrarem o caminho para uma vida de equilíbrio, fundamentada nos valores do Evangelho. Esta frase dita por este mineiro de Pedro Leopoldo nos ajuda a relacionar com os outros de maneira mais amável: “Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor… Magoar alguém é ato terrível!”

“Eu não luto pra vencer. Sei que vou perder. Luto pra ser fiel até o fim”. Ouvi dia desses, Padre Júlio Renato Lancellotti repetir esta frase emblemática, e que faz todo sentido diante do contexto do texto de Mateus que a liturgia nos propõe refletir nesta segunda feira. Nesta perícope de hoje, Mateus narra o diálogo de um mestre da Lei com Jesus: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás”. (Mt 8,19) Todavia, a resposta de Jesus diante daquela proposição daquela liderança religiosa, o deixa certamente deverasmente preocupado: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt 8,20) Seguir a Jesus não comporta segurança, não traz prazeres, mas leva à instabilidade e traz consigo desafios. Sabendo que o desafio maior foi enfrentado por Ele, que morreu na cruz.

O que podemos perceber e concluir com este texto de hoje é que Jesus não engana aqueles e aquelas que quiserem fazer a opção pelo seu seguimento. Estes não terão vida fácil e nem estarão isentos de dificuldades, obstáculos e desafios. Não é o fato de estar com Jesus que nos isenta de todas as tribulações. Quem “põe a mão no arado” (Cf. Lc 9,62), sabe que terá que enfrentar muitos desafios. Engana-se quem acha que a vida ficará bem mais fácil de ser vivida, quando fazemos a adesão por seguir os passos de Jesus. Ledo engano! Para seguir a Jesus, a pessoa precisa estar disposta a duas coisas básicas: correr o risco da insegurança sobre o futuro, e estar pronta para não adiar o este compromisso feito a cada dia.

Seguir a Jesus nos leva a estar preparados para o fracasso. Este seguimento pressupõe contrapor-nos a uma forma de organização de sociedade que se fundamenta na desigualdade, na injustiça e na exploração de uns sobre os outros, pobres e marginalizados. Talvez, foi pensando assim que um de nossos maiores antropólogos brasileiro, meu conterrâneo da saudosa Montes Claros/MG, tenha escrito esta frase que nos remete a este contexto do Evangelho de hoje: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”. (Darcy Ribeiro – 1922-1997)

Luiz Cassio

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