Era mais uma ação solidária que o amor de Jesus despertava em nós para encontrá-Lo, de carne e osso, com fome e outras sedes. Naquela noite, como sempre, as “quentinhas” contavam com nossos quitutes temperados com muito carinho.
Reunimos no salão paroquial, sinalizando estar em nome da comunidade, saímos para repartir o pão com nossos irmãos “passarinhos”, perdidos em situação de rua. Começamos a encontrá-los ao redor do Pronto Socorro 28 de agosto, onde trabalhávamos. Talvez estivessem ali à procura ou à espera de seus parentes doentes. Solidarizamos com atenção e carinho e seguimos para centro da cidade, onde encontrávamos em cada ação com um grande números de rostos já conhecidos. Esses demonstravam alegria aos nos ver, outros mais introspectivos, eram novatos para nós, mas não para as calçadas, papelões e baratas presentes em suas realidades de sempre.
Neste dia convidamos três alunos da faculdade de medicina e a namorada de um deles. Estávamos atrás de “médicos de almas de rua”, pois havia em nós o desejo de termos uma nova geração de médicos por vocação.
Ao descer do carro, um novato, entre os nossos irmãos moradores, chamou pelo nome um dos alunos…. “Michael, amigo! Como você está? Tens uma sandália para me dar?”
Michael era técnico de enfermagem na Aeronáutica e fazia Medicina. O Átila que o chamou tinha trabalhado com ele na área de informática da Aeronáutica.
Era casado, tinha um filho e esposa. Aconteceu que quando sua esposa estava grávida do segundo filho, faleceu. Passou a morar com os sogros, que lhe culpabilizavm pela morte da filha, passando a maltratá-lo com palavras e xingamentos.
Átila desolado e sem os filhos encontrou o que dizia ser ali o bálsamo para sua vida, decidindo sair da casa dos sogros e ir morar nas ruas, em acolhedora companhia.
Nosso gesto naquele dia ganhou maior conteúdo.
Vimos a certeza de Deus, falando conosco e pedindo ajuda. Fizemos a partilha com oração e ceia santa.
Na despedida, conversamos com ele sobre sua recuperação em uma clínica, que ficamos de verificar na segunda feira. Combinamos nos reencontrar na segunda,à noite, para dar o retorno.
Tristeza nossa! Não foi possível o reencontro, pois não estava lá, e ainda o procuramos em outros locais, sem sucesso. Não houve o reencontro, apenas a despedida ligeira e saudosa da noite anterior.
“Cura, Senhor, onde não podemos ir !”.
(*) Átila significa paizinho no gótico. Muito a ver com Deus Pai e com a história do Átila e de todos nós, filhos e irmãos que somos.
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Dr Miguel, excelente relato. Comove-me pensar que , com tão boa vontade, não encontraram mais o rapaz. Triste!