Segunda feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. A semana iniciando, quando vamos vivenciando o 230º dia do ano. Significa que outros 135 apontarão no nosso horizonte histórico do Calendário Gregoriano. A segunda sempre deixa o corpo com a sensação de cansaço, mas devemos sempre erguer a cabeça e recomeçar. Como o nosso ideário é fundamentado na proposta cristã, seria interessante que em cada recomeço, adotássemos a mesma perspectiva de Deus “que faz novas todas as coisas”. (Ap 21,5) Sim, Deus renova tudo, pois Ele é o Senhor da história, a fonte e o fim da vida. Ele dá a vida a todos nós. Assim, quem perseverar entrará para a realidade em sintonia com a proposta de Deus, revelada por Jesus de Nazaré.

Recomeçar sempre com o mesmo propósito e disposição para dar o melhor que podemos de nós. Superando o eu de ontem com o melhor que podemos ser de nós mesmos no aqui e agora. A caminhada não para! Estamos sempre em movimento. Cada dia buscando novos horizontes, firmes na fé e na convicção de que Deus está conosco e não larga a nossa mão, como o próprio Jesus, já o dissera numa das passagens do Evangelho Joanino: “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (Jo 16,33) Jesus não engana seus seguidores: o futuro é tempo de testemunho em meio a lutas e perseguições. Mas é também tempo de confiança e paz, pois quem o segue de verdade, pode contar com o amor do Pai. E desde já estamos certos da vitória: Jesus já venceu todos os adversários. Para quem acredita em Jesus, a ordem social injusta, que condena o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre.

Hoje continuamos refletindo o capítulo 19 de Mateus, em que esta perícope deste Evangelho Sinótico, relata o diálogo de alguém anônimo com Jesus, que lhe pergunta: “Mestre, o que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?” (Mt 19,16) Interessante observar que esta mesma passagem aparece também no Evangelho de Marcos, com uma diferença. O mesmo homem se ajoelha diante de Jesus, o chamando de “bom mestre”: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” (Mc 10,17) A resposta de Jesus é simples e direta: “Se tu queres entrar na vida, observa os mandamentos”. (Mt 19,17) Entretanto, a complicação maior para entrar no Reino, segundo a proposta de Jesus, está na conclusão do texto de hoje: “vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. (Mt 19,21) Desapegar para seguir.

Mediante esta última recomendação, o homem arrefeceu o seu entusiasmo, por se tratar de alguém muito rico. O texto diz que este foi embora cheio de tristeza. Quem busca apenas a riqueza, poder, prestígio e privilégios, está distante da proposta do Reino, anunciado por Jesus. Fazer parte do grupo de Jesus exige que este alguém esteja disposto a partilhar. Sentar-se a mesa da partilha e distribuir o pão que mata a fome, a água que sacia a sede, o teto que abriga os desabrigados. Vida partilhada com aqueles que necessitam de pão e de cuidados, como está descrito numa das passagens de Mateus: “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. (Mt 25,35-36)

Não basta cumprir os mandamentos. Não basta ter uma prática devocional voltada exclusivamente para o interior do templo, mas sem uma conexão com a prática do amor que se dá nas relações que estabelecemos com os outros. Não basta ter boas intenções, mas estas precisam ser acompanhadas de uma prática coerente com aquilo que acreditamos. Seguir a Jesus exige muito mais do que ficar chamando-o de “bom Mestre”, “Senhor”, ajoelhar-se diante dele e inventar um amontoado de devoções, que mais alienam que libertam, mediante uma fé amadurecida e consciente da missão que cada um tem a desempenhar. Entrar para o Reino é construí-lo com as nossas ações em favor da vida para todos, sobretudo dos descartados.

Para entrar no Reino de Deus, ou Reino dos Céus, como diz Mateus (vida eterna) é preciso mais do que observar leis, regras, preceitos, devoções, ritos. Em primeiro lugar, o Reino é dom gratuito de Deus às pessoas, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista capitalista desigual. Construir uma nova sociedade, onde todos e todas tenham oportunidades iguais, onde a fraternidade seja a moeda de troca na mesa da partilha. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. Quando abrimos mão do querer sempre mais, em detrimento do outro que nada tem, encontramos esta nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vivendo a certeza da plenitude que virá.

Luiz Cassio

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