Reflexões Bíblicas

Converter é preciso (Chico Machado)

Terça feira da Décima Quinta Semana do Tempo Comum. Festa na Igreja Católica. Hoje a liturgia nos motiva a celebrar a Memória de São Boaventura, bispo e doutor da Igreja. Boaventura nasceu no ano de 1218, na cidade de Bagnoregio, em Viterbo, Itália. Foi um influente teólogo da Igreja durante o século XIII, conhecido por sua profunda espiritualidade e erudição. Ingressou na Ordem dos Frades Menores Franciscanos e se destacou rapidamente por sua inteligência e dedicação. Ele serviu como Ministro Geral da Ordem Franciscana, onde promoveu sua expansão. Em reconhecimento à sua contribuição teológica e espiritual, foi proclamado Doutor da Igreja em 1588, recebendo o título de “Doutor Seráfico”, após a sua canonização, formalizada pelo Papa Sisto IV. O Papa Sisto V, destacou São Boaventura e Santo Tomás de Aquino como os maiores Doutores da Igreja,

“Ainda que friamente aproxime-se confiando na misericórdia de Deus”, afirmava São Boaventura. Aproximar-nos de Deus fazendo todos os dias o nosso processo de conversão. Este é o grande desafio para a fé cristã. Não existe uma conversão que poderíamos chama-la de pronta e acabada, mas ela acontecendo a cada passo que damos em direção a proposta do Reno anunciada por Jesus. Em seu tempo, o profeta Jeremias já alertava seus ouvintes sobre este processo de conversão. Dizia ele numa mensagem direcionada de Deus: “Obedeçam-me, e eu serei o Deus de vocês, e vocês serão o meu povo. Andem sempre no caminho que eu lhes ordenar, para que sejam felizes” (Jr 7,23). Através de uma fé madura, tomamos consciência de que Deus nos salva não através do culto, mas através da prática da justiça. Um culto que não exprime a vida segundo o projeto de Deus, não passa de hipocrisia, pois serve apenas para sustentar uma estrutura que explora e oprime o povo.

A palavra-chave da liturgia desta terça feira é conversão. Converter é preciso! É isso que fica expresso no texto do “discurso missionário de Jesus”, apresentado por Mateus. Na fala de Jesus, Ele está cobrando uma atitude mais coerente dos habitantes daquelas cidades mencionadas: “começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido”. (Mt 11,20) Muita ingratidão daquela gente, que teve a experiência concreta de viver os sinais de libertação, realizados por Jesus. Mesmo diante destes sinais, eles não se converteram, demonstrando toda a sua ingratidão. Situação parecida acontece com a mensagem do salmista que assim se manifesta: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz. Não fecheis os corações como em Meriba!” (Sl 95,7-8 ) Ali, naquele contexto do Primeiro Testamento, Deus deu a terra ao povo. Seu usufruto, porém, depende da fidelidade ao projeto de Deus. Se a infidelidade dos antepassados impediu que eles entrassem na terra da liberdade e da vida, a infidelidade da geração atual poderá perdê-la.

Conversão não combina com ingratidão. Converter não é mudar desta para aquela religião. Converter não se trata de apenas cumprir normas, preceitos tradicionalistas, fundamentalistas da religião. Converter não é ir à igreja, rezar e depois sair dali fazendo tudo errado. Converter é assumir uma atitude que começa no nosso interior, numa mente e coração que se abrem em amorosidade, compaixão e misericórdia, promovendo a extensão desta fé na prática cotidiana da vida, com ações concretas. Promover uma transformação radical em nossa vida. Escolher um novo caminho a seguir. dando um significado novo ao nosso jeito de ser, pensar a agir diante dos desafios que temos pela frente.

Interessante observar que nesta perícope de hoje, Jesus faz um comparativo entre algumas cidades daquela região: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que se realizaram no meio de vós, tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia, há muito tempo elas teriam feito penitência”. (Mt 11,21) Corazin, Betsaida e Cafarnaum são exemplos do predomínio da auto-suficiência e orgulho que não reconhecem a presença do Reino nas ações realizadas por Jesus. Por este motivo, serão julgadas com mais severidade do que as cidades pagãs de Tiro, Sidônia e Gomorra, símbolos da perdição.

Corazim, Betsaida e Cafarnaum são três cidades mencionadas nos Evangelhos como locais onde Jesus realizou boa parte de seus sinais e ensinou. No entanto, essas cidades também foram severamente criticadas por Jesus devido à falta de fé e arrependimento de seus habitantes, apesar dos sinais que testemunharam. Betsaida, localizada próxima ao Mar da Galileia, também foi palco de muitos sinais de Jesus, incluindo a multiplicação dos pães e peixes. Apesar disso, a cidade não demonstrou a fé esperada, o que levou a uma profecia de destruição. Cafarnaum era considerada a “cidade de Jesus”, onde Jesus morou e realizou diversos sinais, como a cura de um paralítico. Apesar de ter sido um centro do ministério de Jesus, também foi alvo de recriminação por sua falta de arrependimento. Resumindo, as três cidades são importantes no contexto do ministério messiânico de Jesus, mas também servem como exemplos de incredulidade e falta de arrependimento diante dos sinais divinos. Por isso, como o próprio texto de hoje conclui, elas serão julgadas com mais severidade do que as cidades pagãs de Tiro, Sidônia e Gomorra, símbolos da perdição. Lembrando que, segundo os relatos bíblicos, duas destas cidades foram destruídas por Deus com fogo e enxofre devido à sua grande impiedade e imoralidade.

Luiz Cassio

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