Fé do caminho (Chico Machado)

Sábado da Segunda Semana da Páscoa. Jesus Ressuscitado, Caminho, Verdade e Vida, segue no meio de nós, motivando-nos a viver a fé de maneira encarnada, sem fugir dos desafios da vida cotidiana. Ser e estar com Ele é provar da força vital que d’Ele emana, como Filho de Deus, Verbo encarnado, presente no meio de nós. Não estamos órfãos, e nem fomos abandonados, mas, em Jesus de Nazaré, Deus faz a sua morada definitiva no meio de nós. Somos novas criaturas, graças Aquele que nos deu seu Filho unigênito, como foi a sua manifestação Teofânica assim que fora batizado pelo profeta João: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada”. (Mt 3,17) Este é Jesus no meio de nós, cumprindo toda a justiça, e realizando plenamente a vontade do Pai e seu projeto salvador.

Um sábado de alegria para a Igreja Católica. Celebramos hoje a Festa de Filipe e Tiago. Santos e apóstolos, seguidores de Jesus de Nazaré. Ambos foram martirizados, aliás, este foi o destino dos primeiros e fieis seguidores da proposta cristã. Por abraçar o projeto evangelizador de Jesus, como missão, foram assassinados. Filipe foi pregado de cabeça para baixo em uma cruz em forma de X. Já Tiago Menor morreu, provavelmente por apedrejamento, entre os anos 62 e 66. Tiago é o autor das primeiras Cartas “católicas” do Novo Testamento. Ali, ele nos recorda uma frase que ficou bastante conhecida de todos nós: “a fé sem obras é morta”. (Tg 2,17) Os dois foram sepultados, juntos, na Basílica chamada Santos XII Apóstolos, que, no início, era dedicada apenas aos dois.

Uma data importante também para nós aqui da “Terra Brasilis”¸ termo utilizado para denominar o Brasil antes da chegada do colonizador europeu, habitat natural dos povos originários que aqui residem, desde então. Hoje é o Dia Nacional do Pau-Brasil. A finalidade desta data é homenagear a árvore que deu origem ao nome do país: o Pau-Brasil. O objetivo é planejar ações de reflorestamento e sensibilização na sociedade e nas escolas, sobre a importância desta espécie para a história do Brasil. Lembrando que O pau-brasil existia em abundância nas florestas brasileiras e na Mata Atlântica, no entanto, com a intensa exploração e exportação, feitas pelos europeus, a árvore começou a ficar cada vez mais escassa. A madeira era utilizada para produção de tintas e móveis na Europa, devido a sua alta qualidade.

Seguindo adiante, dentro desta perspectiva pascal, damos continuidade à reflexão com o Evangelho de João. O texto de hoje inicia-se com uma forte afirmação, feita pelo próprio Jesus, falando de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14,6) Jesus como o caminho a ser percorrido por todos aqueles e aquelas que fizerem a sua adesão pelo seu seguimento. É sempre bom lembrar que os primeiros cristãos, antes de serem chamados “cristãos”, eram conhecidos como “Seguidores do Caminho”. Esse termo foi utilizado pelas comunidades primitivas, nos primeiros anos do movimento cristão, conforme registrado no Novo Testamento, sobretudo no Livro de Atos dos Apóstolos. Desta forma, os primeiros seguidores de Jesus eram aqueles e aquelas que aceitavam esse “caminho” de vida e ensinamentos, apontados por Ele.

Entretanto, para se fazer esta experiência mais profunda do seguimento de Jesus, é necessário crescer na fé, amadurecer-se. A “fé do Caminho” exige um conhecimento maior da proposta radical de Jesus. A fé infantil e ingênua nos afasta do projeto libertador de Jesus. Abraçar as causas do Evangelho, requer maturidade e engajamento nas mesmas causas defendidas por Jesus de Nazaré. Por este motivo, a fé também nos leva a fazer escolhas, provenientes do discernimento, para ver de que lado estamos nós: do lado da vida e da transformação pelas nossas ações, ou do lado das forças da morte, advindas da alienação, usadas quase sempre, pela visão fundamentalista de uma fé infantilizada. Quando a fé é consciente e amadurecida, fazendo opção pelo “Caminho”, inevitavelmente trará também as suas consequências: “Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim”. (Mt 5,11)

Entre os vários caminhos que aparecem em nossa trajetória de vida, só há um caminho a seguir. Jesus é o verdadeiro caminho para a vida. Jesus é o caminho de esperança que nos leva a estar em sintonia com a amorosidade do Pai e as causas do Reino. Através da encarnação, Deus, doador da vida, se manifesta inteiramente na pessoa e ação de Jesus. Todos aqueles e aquelas que seguem a este Jesus, não caminharão para o fracasso, para o medo ou para a desolação, pois a meta deste “Caminho” é a vida. Jesus não apresenta uma proposta utópica e irrealizável no aqui e agora da história, mas nos convidam a percorrer um caminho historicamente concreto no chão das nossas vidas. Inspirados nos sinais que Jesus realizou, criaremos novos sinais dentro do mundo, abrindo espaços de esperança e vida fraterna. Baseado na sua fé, você entende que já encontrou este “Caminho”? Por falar em caminho, sigo na mesma toada do que disse a poetisa goiana Cora Coralina (1889-1985): “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”.