GRAVIDEZ, FOMES E ABANDONOS, SINAIS PARA EXERCER CARIDADE – “SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO” E DE FREDERICO OZANAN. (NELSON PEIXOTO)

Naquela noite, não havia o pãozinho de Santo Antônio, e nem a garantia de comida para o dia seguinte. A gravidez da mulher pedinte foi notada diante de um poço com torneira, que estava a serviço de todos que lá chegassem para matar a sede e levar para casa sua garrafinha ou garrafão. Não era a sede que doía, mas a fome da Maria e dos filhos que ia encontrar no meio da noite, no seu barraco.

Os devotos do terço estavam chegando, pois era o dia em que se celebrava o nascimento de Maria de Nazaré, filha de pais idosos, Ana e Joaquim, avós de Jesus. Estávamos vendo a cena daquela Maria, sedenta e faminta de tudo que lhe faltava para viver com dignidade e esperar o nascimento de seu próximo filho.

Naquele dia 8 de setembro, além da Natividade de Maria, também se fazia a memória de Fredéric Ozanan, um dos sete fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) para socorro, promoção e defesa dos pobres, idosos e doentes. A união destes motivos nos faz pensar e resolver que ao se supervalorizar o pensamento e multiplicar as palavras em orações, diante dos sofredores abandonados pela ausência de seus direitos, não se cumpre por completa a proposta do Reino de Jesus. Nem fazer as análises sociológicas acerca da produção dos pobres do mundo é suficiente, sem o decisivo das ações.

A massa sobrante que ficará mais vulnerabilizada na velhice precisará com toda a urgência ser abastecida com ações de caridade, justiça e organização, para efetivar um mundo diferente deste, que é um “vale de lágrimas”, até ser transformado num céu de sorrisos. Ainda são multidões de sofredores vítimas das guerras, migrações forçadas e da concentração de renda. Por aproximada situação na história, o Frederic Ozanan, saindo do saber reflexivo e acadêmico, deixa os sermões idealizados, une membros compromissados para operar um conjunto de ações politicamente transformadoras. Podemos até dizer que ele passou a pensar menos e a agir mais. Saiu da devoção das Mil Ave-Marias para as centenas de Obras de Caridade.

Voltando àquela mulher faminta, que não esquecia os filhos, vi aparentar um desgaste físico nos seus 30 anos de vida. Foi me contando o drama de sua vida e de seus filhos, percebi-a bem endereçada para os cristãos que ficam procurando Jesus nas igrejas, enquanto Ele teima em estar identificado com os pobres e indefesos.

A espiritualidade  vicentina hoje, como no passado, é desafiada a inserir-se no nosso momento histórico, assim como Ozanan fez, num tempo marcado por muitas mudanças políticas, com a ascensão do liberalismo econômico. Segundo Renato Lima de Oliveira, em  “As Origens do Socialismo”, as próprias “Conferências de Caridade”, criadas por Ozanam, ou seja, grupos de base, em vizinhança, com outros sete fundadores, inclusive com mulheres lideradas por Luísa de Marilac, “poderiam ser consideradas as pioneiras do movimento social católico, com a finalidade de aliviar os efeitos da Revolução Industrial, junto aos trabalhadores”. Acredita-se ter sido o precursor da Doutrina Social da Igreja (Encíclica “Rerum Novarum”), devido à atuação que teve na defesa dos direitos dos operários.

Em Manaus, as Pastorais Sociais de Conjunto, inclusive a PPI (Pastoral da Pessoa Idosa) e a Cáritas Brasileira, estão em andamento crescente e convicente, mas, de uma certa forma, enfraqueceram o Movimento Vicentino independente ou leigo.

Você sabia que o Movimento Vicentino deixou de ser uma “pastoral” da Igreja Hierárquica ou das paróquias, mesmo que, em sua origem, tenha nascida dela, mas que mesmo tendo apoio, tornou-se um jeito ecumênico de amar, servir os pobres e viver o Evangelho sem rótulo confessional?

Um dos equívocos é que muitos párocos da Igreja Católica não valorizam o movimento como no passado, ou querem que fique sobre seu controle. Muitos padres ficam mais ocupados com os sacramentos celebrados sem relação com o compromisso transformador do Reino de Deus e de sua Justiça, sobretudo para com os pobres, os indefesos e excluídos, de acordo com a prática de Jesus. Sendo assim, o protagonismo laico esfriou, embora o Movimento Vicentino tenha se mostrado, incansavelmente, realizando muitas iniciativas, apesar de seus poucos membros espalhados pela cidade, mais fortes ou fracos, de acordo com a espiritualidade vicentina. O mapeamanto das condições de vida dos pobres e as visitas domiciliares são suas formas proeminentes de viver o zelo, que foi a grande virtude de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marilac.

No Amazonas, celebramos, em 2025, 138 anos de presença e, neste dia 27 de setembro, acontecerá a celebração das “Conferências” Manauaras (comunidades da caridade),  com uma carreata saindo da Paróquia de São Vicente de Paulo, no bairro da Compensa, até a Casa de Idosos da SSPV (Sociedade de São Vicente de Paulo), no bairro de S. RAIMUNDO, atrás do Estádio de Futebol Ismael Benigno

A HISTÓRIA DO MOVIMENTO registra que ecoava no coração dos fundadores o que dissera Jesus aos discípulos, seguidores do Mestre, nas estradas de poeira da Galileia:  “A messe (campo de pobreza) é grande, mas poucos são os operários da caridade, como JUSTIÇA EM GESTOS DE PARTILHA”.

O apelo a cada um de nós, observando os homens e as mulheres que estão envelhecendo, no desespero e no abandono, podem encontrar, em nós mesmos, uma presença próxima da compaixão que precisam para que nós nos façamos humanos servidores da ESPERANÇA (Serviens in Spes).

O grito dos excluídos precisa ser respondido por aqueles que cuidaram de seus pais até falecerem ou dos que os abandonaram antes de  morrerem. Que a continuidade dos que não abandonaram seus pais ou a reparação da culpa seja o motivo da entrada no Movimento Vicentino, tornando-se membro, nas pegadas de Jesus, de sua Mãe Maria, de São Vicente e de Ozanam. 

Aqueles que se sentirem chamados, manifestem-se, indo até a Paróquia de São Raimundo, ou provocando os padres responsáveis por suas paróquias, comunidades e movimentos eclesiais.

AINDA PODERÃO IR COM FACILIDADE AO ESPAÇO DE ORAÇÃO NO PLAZA, ABERTO A TODOS, PARA MANIFESTAREM O INTERRESE DE SE JUNTAR AO MOVIMENTO VICENTINO, NAS TERÇAS, ENTRE 16:30 ÀS 18 HORAS. (Whatsapp: 92 993-79 53 60 – Nelson Peixoto)

Obs. Em memória de Dona Altina, deficiente visual que uma outra Luísa, minha mãe, adotou para alimentá-la, por meio de seus 3 filhos mais novos, na antiga Vila São Vicente, que ficava no final da Rua Ramos Ferreira, no bairro de Aparecida.

Nelson Peixoto, 27 de setembro, 2025 – Dia de São Vicente de Paulo! VIVA !!!!!!!!!