Reflexões Bíblicas

Habemus Papam (Chico Machado)

Sexta feira da Terceira Semana da Páscoa. Uma feliz sexta feira, que nos faz lembrar, com alegria da quinta que se foi. Nosso coração está em festa, movido pelo desafio de professarmos a nossa fé no Deus de Jesus de Nazaré, e fazermos parte de uma grande Igreja, cuja sede central, encontra-se na cidade de Roma. Este 8 de maio, 128º dia do ano de nosso calendário gregoriano, ficará marcado para a história do cristianismo e a fé católica. No dia em que a população mundial comemorava os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Igreja elegeu o seu 267° Papa. A tão desejada fumaça branca, da Capela Sistina, indicava a eleição do novo Sucessor de Francisco e, por que não, de Pedro.

Na quarta votação do Conclave, na tarde desta quinta-feira, 8 de maio de 2025, os cardeais chegaram a um consenso. Eram 18 horas e 07 minutos quando a fumaça branca começou a sair da chaminé instalada no telhado da Capela Sistina, provocando uma verdadeira comoção entre os milhares de presentes na Praça São Pedro, testemunhas oculares de um dia histórico para a Igreja e para o mundo. O badalar dos sinos da Basílica de São Pedro que se seguiu, foi uma confirmação de que “Habemus Papam”. O cardeal dos Estados Unidos, naturalizado peruano, Robert Francis Prevost é o novo Papa. Escolheu o sugestivo nome de Leão XIV, numa alusão ao também Papa Leão XIII. Muito próximo de Francisco, Prevost, de 69 anos, é o 1º Papa nascido nos EUA, apesar de sua cidadania peruana. Só de não ser um europeu (italiano), já é um bom sinal.

Lembrando que o Papa Leão XIII exerceu o seu pontificado entre os anos de 1878 até sua morte em julho de 1903. É considerado um grande intelectual que renovou a filosofia cristã, deu novo impulso aos estudos sociais e fortaleceu os estudos bíblicos. Foi um contestador das correntes filosóficas que ganhavam expressividade na época, especialmente aquelas que se deslocavam do terreno metafísico para o terreno materialista. Ele é o autor da Encíclica Rerum Novarum, em 15 de maio de 1891, como uma resposta da Igreja Católica ao fortalecimento do liberalismo e do capitalismo monopolista na Europa. Este Papa tinha uma forte preocupação com as questões sociais, a justiça social, a classe trabalhadora, abrindo assim as portas da Igreja à Doutrina Social da Igreja (DSI), num contexto de avanço da Revolução Industrial, massacrando os direitos trabalhistas.

O Papa Francisco deve estar feliz, olhando lá de cima. De certo modo, ele trabalhou pela indicação de alguém que fosse muito próximo de si, pelo menos é o que nos faz concluir pela escolha de seu nome como Papa. Leão XIII foi um revolucionário na abertura da Igreja ao social. Lembrando que São Francisco de Assis teve um grande amigo em vida, Frei Leão, com quem dividiu os desafios de ser seguidor coerente de Jesus, no contexto da Idade Média, em que a Igreja estava mais preocupada com as suas posses e riquezas. Prevost não escolheu Francisco II, mas, por tabela, segue de certa maneira, na linha da mística franciscana, apesar de ser oriundo da Congregação dos agostinianos. Contudo, não devemos esperar deste Papa a mesma desenvoltura do anterior, sobretudo nas questões mais progressistas, tais como a ordenação de mulheres, o fim do celibato, o diálogo com as questões de gênero, e a defesa ambiental, como Francisco soube muito bem conduzi-las.

A “Igreja em Saída”, comunhão e participação, na perspectiva sinodal, segue como nosso maior desafio e não devemos baixar as guardas, mantendo vivo o legado de “Franciscus”. Igreja povo de Deus, seguidora da proposta radical de Jesus: estar com e para os empobrecidos e marginalizados, como foi toda a vida de Jesus, durante a sua atividade messiânica, fazendo opção pela periferia na Galileia dos pagãos. Segundo o Evangelho de João de hoje, desta vez, Jesus está ensinando na Sinagoga de Cafarnaum. Entre estes ensinamentos, Ele faz uma forte afirmação, desencadeando assim toda uma reação desfavorável por parte das lideranças religiosas: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida”. (Jo 6,51)

O trecho escolhido para hoje pela liturgia, não traz esta citação acima, mas a decorrência dela, narra a reação que os judeus estão tendo a respeito de Jesus se colocar como pão vivo descido do céu: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” (Jo 6,52) A mensagem é teologicamente tão profunda, que eles não conseguem acompanhar o raciocínio de Jesus, que está se colocando de forma sacrificial e eucarística. A Eucaristia é o sacramento que manifesta em cada um dos que creem e seguem a Jesus, o ponto central da encarnação e da morte de Jesus, que se entregou por nós. A vida definitiva se encontra justamente na condição humana de Jesus (carne): Ele é o Filho de Deus que se encarnou para dar vida à humanidade. Esta vida definitiva começa quando nos comprometemos com Jesus, aceitando a própria condição humana, vivendo-a em favor dos outros. E Jesus dá um passo além: Ele vai oferecer sua própria vida (carne e sangue) em favor de todos nós. Por isso, o compromisso com Jesus exige que também estejamos dispostos a dar a própria vida em favor dos outros. Que Deus abençoe o pontificado de Leão XIV.

Luiz Cassio

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