O banquete dos pobres, por Chico Machado.

Segunda feira de trigésima primeira semana do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Último dia do mês das missões. Dentro em breve chegaremos no Tempo do Advento. Diferente do ano civil, que começa em 1º de janeiro e termina em 31 dezembro, as celebrações da Igreja seguem o calendário litúrgico, que começa sempre no 1º Domingo do Advento (27), terminando no último sábado do Tempo Comum, em 26 de novembro do corrente ano. Lembrando que neste ano a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, nos popôs refletir sobre a temática da educação com o tema: “Fraternidade e Educação” e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Sabedoria que leva a pessoa para a justiça, a honra, a prosperidade e a vida plena.

O dia de hoje é um dia especial. Comemoramos nesta data o Dia do Servidor, cujo feriado foi transferido excepcionalmente do dia 28 para esta segunda feira. Os servidores são aqueles e aquelas valorosos cidadãos e cidadãs que dedicam as suas vidas na prestação de seu serviço à população, seja na saúde, educação, ou nos vários órgãos públicos espalhados por este Brasil. Nem sempre valorizados adequadamente. Sou um destes servidores que ora encontro-me aposentado na educação. Mesmo aposentado, não sou ainda reconhecido por alguns governantes, que se deram ao trabalho de descontar 14% de meus vencimentos a título de “Contribuição Previdenciária”. Estou pagando por algo que não irei usufruir.

“Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Este é o imperativo que nos desafia no hoje de nossa história. Falar do servidor público é falar dos profissionais da educação. Nossa educação vai muito mal! Como se não bastasse os baixos índices de aprendizagem de nossos alunos, os profissionais da educação recebem uma ninharia em forma de salários. De saber que todos os demais servidores passam necessariamente pelas mãos e mentes dos profissionais da educação. Teremos um gigantesco trabalho pela frente no sentido de retomar o rumo de uma educação de qualidade social para os nossos estudantes, sobretudo daqueles de baixa renda que usufruem do espaço da educação pública.

Educação que Jesus tratou de fazer com o seu ensino com sabedoria para uma das autoridades que era o chefe dos fariseus. A ele o Mestre diz: “quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir.quando deres um almoço ou um jantar” (Lc 14, 13-14). Jesus apresentando uma lógica completamente distinta da lógica de nossa sociedade, cheia de bajuladores em busca de honrarias, prestígio e privilégios. Inclusive dentro da nossa própria Igreja, com alguns dos nossos sem entenderem nada desta proposta de Jesus. Basta vermos alguns tipos de evangelizações midiáticas, que ficam o tempo todo massageando o ego de uma elite burguesa, sem apontar as contradições presentes na desigualdade social da sociedade capitalista.

Jesus não somente aponta qual deve ser a nossa atitude perante os pobres e marginalizados, como também mostra de que lado Ele está. O texto de Lucas é bastante elucidativo, com o qual Jesus faz deste, o seu projeto de vida messiânica: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para pregar o Evangelho aos pobres. Ele me enviou para proclamar a libertação dos aprisionados e a recuperação da vista aos cegos; para restituir a liberdade aos oprimidos”. (Lc 4,18) A salvação está na opção que fazemos de estar com e para os pobres, contra a pobreza, é claro! “Na dúvida, fique do lado dos pobres”, já nos dizia o nosso bispo Pedro. Sem medo de errar e sem medo de ser feliz!

Jesus está prestes a chegar a Jerusalém. Situação que o evangelista São Lucas faz questão de frisar. Estando na casa de um dos líderes dos fariseus, Ele critica veementemente o conceito de honra baseado no orgulho e na ambição, que geram aparências de justiça, mas que por detrás escondem as maiores contradições sociais. A honra de uma pessoa não depende de si mesma, mas de Deus, o único que conhece a fundo a situação real de cada pessoa. Nesta concepção de Jesus, aqueles que caminhamos consigo precisamos superar a crença de que possamos ter nossos próprios méritos. O verdadeiro amor jamais poderá ser um tipo de comércio, mas tem que se estruturar na gratuidade do serviço pelo Reino. Fica também claro que somente Deus poderá retribuir ao amor gratuito. Uma boa dica nos é dada pela Madre Teresa de Calcutá: “O amor, para que seja autêntico, deve nos custar”. Quanto custa mesmo o seu amor?

Pedro Dias

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