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O esperançar de Deus (Chico Machado)

Quinta feira da Sexta Semana da Páscoa. Estamos percorrendo o 130º dia do calendário cronológico gregoriano. Mais outros 236 dias, estaremos batendo às portas do ano de 2025. Entretanto, o calendário que norteia a nossa fé, é o litúrgico que nos diz que estamos atravessando o período pascal em direção à Pentecostes. 10 das bastam para que possamos fazer a experiência profunda da Festa do Paráclito. Deus preenchendo o nosso vazio interior com a chegada do Grande Defensor, o Espírito da Verdade, provocando novos rumos ao nosso existir. Abandonarmos em nós mesmo para entregarmos nos braços do Pai amoroso.

Rezei nesta manhã em espírito de solidão, na companhia do pastor. Experimentei a solidão, como vazio de mim mesmo, para permitir Deus preencher o meu vazio interior. Na solidão de mim mesmo, me fiz próximo de Deus, encontrando refúgio em seu colo amoroso de Pai/Mãe. Aconchegado nos braços d’Ele, fiz-me presente em mim mesmo, saboreando a doçura do abandonar-me em Deus. Nesta incursão interior, experimentei a libertação do humano percorrendo o espiritual no Deus de todas as horas. Fiz-me sintonia com a metafísica de Arthur Schopenhauer (1788-1860), refletindo seu pensamento: “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”. Como não sou filósofo, tratei de voltar à realidade, pisando o chão da estrada de Pedro.

Chão batido de terra vermelha do Araguaia. Chão da caminhada de tantos que por aqui passaram, dedicando parte de suas vidas, na procura do Reino, vendo esta Igreja florescer. Contemplar o Deus de Jesus de Nazaré, fazendo a história acontecer com e ao lado dos empobrecidos desta realidade sofrida do “Vale dos Esquecidos”. Igreja Povo de Deus, que soube traduzir as orientações e diretrizes do Concílio Vaticano II (1962-1965), pelas coordenadas da Conferência Episcopal de Medelín (1968), fazendo desta o nosso grande Pentecostes, como Pedro gostava de nos dizer, com a “Opção Preferencial pelos pobres”.

O momento litúrgico é pascal, mas é também de angústia, tristeza e sentimento de abandono por parte dos discípulos de Jesus. A triste partida do Mestre, os deixam abatidos e pensativos. Partida mais que necessária, já que Ele retorna para o colo do Pai, de onde saíra para vir estar conosco. “A Palavra se fez carne e acampou entre nós”. (Jo 1,14) Ele se vai, mas não estamos mais condenados a caminhar cegamente, sendo guiados por pequenas luzes no meio das trevas, por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus, vivo e encarnado como manifestação total de Deus. O Filho retorna à Casa do Pai, preparando ali um lugar para todos os que o seguem. Mais que isso, retorna, mas deixa conosco o Espírito de Deus: “É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei”. (Jo 16, 7)

“Eu não vos deixarei órfãos: eu irei, mas voltarei, e o vosso coração muito há de se alegrar. (Jo 14,18) A partida de Jesus pode até significar ausência e tristeza para o coração humano dos discípulos. Mas a tristeza, dará lugar à alegria, uma vez que será o princípio de uma presença nova, a presença do Ressuscitado, que age mediante o Espírito Santo. A morte de Jesus não é o fim de tudo, mas o começo da vida em plenitude, pois o que acontece com Ele acontecerá com todos, conforme a lógica da semente: para dar fruto, o grão de trigo deve morrer. Como os discípulos, somos chamados ao testemunho, que pode ir até à morte, como entrega total de nós mesmos em favor da vida que Deus quer para todos. O esperançar de Deus pulsa dentro de cada um de nós pela ação do Espírito Santo.

“Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt 16,25) Quem deseja seguir a Jesus, precisa estar disposto a se tornar marginalizado e perseguido, por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino d’Ele: morrer como subversivo, contra um sistema opressor (tomar a cruz). Este não foi o entendimento inicial dos discípulos. Somente na sua caminhada como apóstolos, é que eles conseguem fazer este discernimento. “Perder a vida para salvá-la”, não é esta a lógica do mundo competitivo em que vivemos. Quando aceitamos a Jesus, estamos renunciando a este pensar individualista e possessivo. Abraçar as causas de Jesus é estar a favor das causas da vida, em todas as circunstâncias, em que ela está sendo ameaçada. Difícil tarefa para aqueles que acham que, ter fé, é ficar olhando para o céu, contemplando um Deus nas alturas, esquecendo-se que a luta se dá aqui no chão do aqui e agora.

Luiz Cassio

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