Outros Escritos

O IDOSO POR QUEM CHOREI, CULPA PASSADA PORQUE O REENCONTREI. (NELSON PEIXOTO)

Gisele B. Alfaia @giselealfaia

Nos primeiros voos de amor missionário, inserindo-me em um bairro pobre, andava com fervor a visitar as casas, conhecer as famílias e com vontade de servir como amigo de todos. Queria vincular-me e dar significado à rotina de uma presença viva, junto às famílias e junto aos idosos. Talvez nesse tempo voltava a emergir em mim o amor aos idosos de minha infância, que hoje reedito aos 74 anos, através de histórias de vida, escutando e registrando o que me contam com toda a liberdade e autorização.

Naqueles distantes anos, minha meta era estabelecer relações afetivas e sempre estar em atitude de prontidão para servir. Tanto assim, que, em certa manhã, em andanças por ruas sujas e esburacadas, encontrei em uma família que cuidava de um velhinho adoentado e bem fraquinho. Era a segunda vez que eu o encontrava no fundo da rede de dormir e sugerira que o levassem para o hospital. Diante da dificuldade de transporte, ofereci levá-lo, e assim aconteceu. Senti-me feliz de ter ajudado e voltei à casa onde ele morava com a filha que o levou comigo para o hospital.

Corri para almoçar e descansar um pouco. Não consegui e resolvi retornar ao hospital. Algo estranho pairava no ar… quando recebi a notícia da morte do velhinho, provavelmente de choque anafilático. Ele estava sem sorriso, mas espelhava sua doçura que contrastava com o meu pesar, misturado com culpa ou responsabilidade por ter levado ao hospital.

Fui à casa dele noticiar a tristeza e lamentar o acontecido, pedindo perdão. Foi difícil encarar a situação, pois mil temores assaltavam-me na ocasião, diante de alguns olhares de desaprovação. Compreendi que amar tem seus riscos, assim como a prudência para nos acompanhar, mas nunca nos acovardar de ajudar alguém, nem que seja para escutar.

Dias depois, fiz uma viagem de barco pelos rios, dormi cansado e sonhei que brincava entre as nuvens em barcos velozes. Daí, vinha um velhinho de barba carregando a bandeira do Divino cantando este verso:

“Que o perdão seja sagrado,
Que a fé seja infinita
Que o homem seja livre,
Que a justiça sobreviva, ai, ai.”

Quando acordei, eu vi um tronco de árvore à beira do rio e um casal de velhinhos que estavam amarrando a canoa. Depois, subiram aonde eu estava e me convidaram para ir até o seu barraco tomar um café com tapioca. Durante o percurso, ouvindo o som das remadas, fui-me sentindo aliviado e perdoado.

@giselealfaia

Amanhecera e pude contar com a presença do Espírito Santo de Deus, animando a vida e trazendo a vontade de amar como serviço e gratuidade.

Recordando esse fato de tantos anos, entendi que, na minha velhice, eu estaria com mil planos para dar atenção aos idosos e a ouvi-los.
Partilho, neste atual estágio da minha vida, o segundo projeto de escrever outro livro que contará mais histórias significativas e exemplares de idosos, particularmente aqueles que vivem nas residências de longa permanência (ILPI = Instituição de Longa Permanência para Idosos).
Pintura de Paula P. Leal
VOAR É PRECISO PARA ENCONTRAR NOVOS HORIZONTES DE JUSTIÇA!
ATENÇÃO AOS DIREITOS DOS IDOSOS, SEM MEDO DE INCORRER EM FALTA, E TER APOIO PARA REALIZAR ESSA MISSÃO! AMAR TEM SEUS RISCOS!
Luiz Cassio

Recent Posts

CAPS (THOZZI)

Às vezes,muitas vezes,não tenho nada pra fazer, então gosto de ficar na sacada do apartamento…

3 dias ago

Fui ver o mar. (THOZZI)

c Estou acostumado ver o mar em Ilhabela. Há 14 anos as filhas moram lá...volta…

3 dias ago

O tamanho da justiça (Chico Machado)

Quinta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Apesar de usarmos a nomenclatura “comum”, não…

3 dias ago

A Gratuidade da missão (Chico Machado)

Quarta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Enquanto o outono derruba as temperaturas lá…

3 dias ago

Celebração dos 30 Anos da UNESER — União Nacional dos Ex-Seminaristas Redentoristas 25, 26 e 27 de julho de 2025 – Pedro Luiz Dias

Celebração dos 30 Anos da UNESER — União Nacional dos Ex-Seminaristas Redentoristas 25, 26 e…

4 dias ago

O Sim que tudo mudou (Chico Machado)

Segunda feira da Décima Semana do Tempo Comum. Depois do Período da Quaresma e do…

5 dias ago