Reflexões Bíblicas

O Noivo esperado (Chico Machado)

Sexta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Depois das andanças médicas pelas terras goianas, cá estou no meu cantinho, retomando a vida. Felizmente, apesar da rodagem dos 6.8 de quilometragem, o organismo aqui segue correspondendo à altura, dando-me condições de continuar na caminhada, fazendo o que mais gosto: dedicar a minha vida aos povos indígenas daqui da região. Alguns deles me viram pela estrada e manifestaram a sua alegria em saber que vou continuar. É muito bom ser querido por eles, sobretudo pelas lideranças e professores indígenas que atuam nas respectivas aldeias. Cada dia aprendo um pouco mais com eles, pois “no território indígena, o silêncio é sabedoria milenar. Aprendemos com os mais velhos a ouvir, mais que falar”, como afirma Márcia Wayna Kambeba.

Por falar nos povos indígenas, lembramos que no dia 5 de setembro, comemoramos o dia da maior floresta tropical do Planeta: o Dia da Amazônia. Esta data foi escolhida para chamar a atenção para a importância de uma das maiores riquezas da humanidade. A Amazônia é um patrimônio natural inestimável de todos, sendo a maior reserva natural do Planeta. Possui sete milhões de quilômetros quadrados, sendo cinco milhões e meio de florestas, compondo a maior bacia hidrográfica do mundo. Sendo assim, a proteção do bioma amazônico é fundamental para o equilíbrio do meio ambiente e do clima na Terra, e para a produção e conservação dos recursos hídricos. Além dos nove países que fazem parte do bioma amazônico (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela), ela está presente em nove estados brasileiros (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte do Maranhão e o nosso Mato Grosso aqui).

Viva a Amazônia! Um privilégio morar por aqui, apesar de que as forças do “agro veneno” seguem destruindo tudo deliberadamente. “A natureza é nosso pulmão. Se acabar com a natureza, não conseguiremos mais sobreviver, não vamos ter mais ar para respirar”. Simples assim, como observa a grande liderança da etnia Caiapó, o cacique Raoni Metuktire. Somos defensores intransigentes da Amazônia, seguindo na mesma direção da resistência teimosa revolucionária, de nosso bispo Pedro, que desde 1971, data da primeira Carta Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia: “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, defendemos as causas amazônicas. Por incrível que pareça, uma carta muito atual, apesar dos vários anos de sua implantação nesta Igreja da qual fazemos parte. Quem ainda não eu, precisa ler!
https://servicioskoinonia.org/Casaldaliga/cartas/1971CartaPastoral.pdf

Leitura orante que também fazemos hoje do texto bíblico, escolhido pela liturgia, para a nossa reflexão diária. Lucas hoje, nos traz uma discussão acalorada entre os discípulos de João Batista, os fariseus e os discípulos de Jesus. O centro da discussão era a prática do jejum, não observada pelos seguidores de Jesus, segundo a observação legalista dos seguidores do Batista e dos fariseus. Como bons observadores da Lei, os fariseus tinham uma prática comum do jejum. Segundo seus costumes, eles jejuavam duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras (cf. Lc 18,12). O povo, de maneira geral, tinha a prática de jejuar no dia do perdão, Yom Kippur, (Dia do Perdão, da expiação), como descreve num dos livros do Pentateuco (Cf. Lv 16,29-34). Já os discípulos de João Batista jejuavam, o que poderia ser por causa da morte do mestre, pois o jejum era recomendado em situação de morte de alguém muito querido deles.

“Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações. Mas os teus discípulos comem e bebem”. (Lc 5, 33) Naquele contexto, não era adequado, a prática do jejum, sobretudo porque está presente com eles, o Noivo, o Messias enviado por Deus. Tanto que a pergunta de Jesus decifra aquele enigma trazido pelos fariseus: “Os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles?” Jesus nesta compreensão exegética é o “Noivo” que vem buscar a sua “Noiva”, a Igreja, que é o corpo de seus seguidores e seguidoras.

É importante salientar também que, naquele tempo, o jejum caracterizava o “tempo de espera”. Todos aguardavam a vinda do Messias, anunciado pelos profetas do Primeiro Testamento. Mas esse tempo de espera termina com a chegada de Jesus. Desta forma, chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e a humanidade, trazida pelo Messias. A atividade de Jesus mostra que o amor de Deus vem para salvar a pessoa humana concreta, e não para manter as estruturas que sugam e exploram as pessoas. Na sequência do texto de hoje, nós podemos ver que a novidade que é Jesus, rompe estas estruturas simbolizadas pela roupa e barril velhos. Jesus não veio para reformar; Ele exige mudança radical. Entretanto, quem está habituado às estruturas do velho sistema, como os fariseus de ontem e de hoje, não se predispõem à mudança necessária, e jamais aceitam a novidade trazida por Jesus, que é a defesa dos pequenos, pobres e marginalizados, por leis que não priorizam a defesa da vida humana.

Luiz Cassio

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