O Pão da Vida (Chico Machado)

Quarta feira da Terceira Semana da Páscoa. Em tempos de Ressurreição de Jesus, seguimos a nossa rotina diária, buscando a identificação com o projeto de Deus, tentando seguir os passos de Jesus. Não é de todo fácil, estar em sintonia com o Nazareno, que fez da sua vida uma entrega total pelo Reino de Deus, como opção de caminhar lado-a-lado com os empobrecidos, marginalizados e excluídos, (descartados como diria o Papa Francisco), por uma sociedade que, ao visar o poder, coloca em primeiro plano a ganância e os privilégios de classe, usando a religião para alcançar os seus intentos. Nosso Deus está do lado dos pobres, e Jesus não é diferente disto. “Na dúvida, fique do lado dos pobres”, afirmava nosso profeta do Araguaia.

O dia 7 de maio marca a história da Igreja. Sim, porque na data de hoje, está começando em Roma o Conclave que elegerá o 267º sucessor de Pedro. Às 11h30 (horário de Brasília), os 133 cardeais votantes, entrarão na Capela Sistina, marcando o início formal do Conclave. A partir deste momento, os cardeais ficarão isolados até a escolha do novo Papa. O papa será eleito ao obter 89 dos 133 votos. A famosa chaminé da Capela Sistina, será observada atentamente pelos olhos de todos nós, pois a fumaça branca (Habemus Papam), anunciará a eleição bem-sucedida, enquanto a fumaça preta indicará que ainda não houve consenso, necessitando de novas votações. A verdade é que já estamos com saudades de Francisco. Já está fazendo falta.

É sempre um momento de expectativa, principalmente depois do pontificado de Francisco. Teremos um papa como ele, alegre, simples, humilde, simpático e dialogal? Dificilmente teremos um Papa nos moldes de Francisco. O que se percebe, olhando de fora nos corredores do Vaticano, é um verdadeiro desfile de egos inflados, predominantemente revestidos pela ostentação de uma vestimenta que está muito distante da realidade dos empobrecidos, que participam das nossas comunidades. Há quem diga que não há ali uma disputa politica interna, já que, quem dá as cartas, é a ação do Espirito Santo. Difícil acreditar que realmente esta seja a tônica do direcionamento para a escolha do novo Papa. Que Deus possa iluminar a mente e o coração dos cardeais ali presentes, para que possamos ter um Papa mais sintonizado com a proposta de Jesus e o Evangelho, e menos afeito à defesa da doutrina e da instituição.

Estamos todos envolvidos neste processo, rezando e acreditando. O futuro da Igreja depende do Papa que teremos daqui por diante. Neste sentido, duas perguntas nos saltam aos olhos neste momento: qual é a Igreja do futuro, e qual é o futuro da Igreja? É com esta perspectiva que vamos caminhando por aqui, sempre tentando levar adiante o legado de nosso bispo Pedro. Dados os compromissos destes últimos dias, fiquei ausente das redes digitais. Primeiro, em função de um exame de vistas, para a realização da cirurgia de catarata, que farei mais adiante; depois porque fui socorrer uns amigos do município próximo daqui, na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) de uma das escolas indígenas Xavante. Agora estou de volta, com a disposição de sempre, no desejo de chegar até vocês, com estes meus humildes rabiscos.

Liturgicamente estamos dando continuidade à reflexão do Evangelho de São João. O evangelista João é um caso a parte. Como ele tem uma densidade maior em seus escritos, fica mais fácil entender quem é Jesus sob sua perspectiva. Pra começo de conversa, ele nos traz algumas afirmações muito diretas sobre Jesus, que nos ajudam a definir a sua pessoa: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14,6); “Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo” (Jo 10,9); “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Todas estas afirmações sobre Jesus nos colocam em sintonia com o projeto libertador de Deus para nós. Jesus é o único caminho de salvação. Crer n’Ele e segui-lo é o horizonte de todos os cristãos. Conhecer Jesus é conhecê-lo. Conhecê-lo é segui-lo pelas estradas da vida.

“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. (Jo 6,35) Interessante notar que nos evangelhos, Jesus sempre se apresenta como Aquele que veio de Deus para dar a vida definitiva à humanidade. Esta perspectiva entra em choque com as autoridades político-religiosas, que jamais admitem que um homem pobre da periferia de Nazaré possa ter origem divina e, portanto, possa dar a vida definitiva. Entretanto, com a sua pedagogia sapiencial, Jesus se apresenta como o revelador da verdade do Pai, já que tem a consciência clara de que Ele é a personificação da revelação divina. O divino se fazendo humano, para que a nossa realidade humana possa alcançar o Ser divino de Deus. Neste sentido, Ele utiliza o simbolismo do Pão, (que outrora foi o Maná, que saciou a fome do povo de Israel no deserto), para definir a sua própria revelação e o significado da sua pessoa. Jesus se fez homem, gente como a gente, não para satisfazer a sua vontade, mas a vontade d´aquele que o enviou. Como seria bom se todos os nossos lideres religiosos entendessem fielmente esta proposta revelada por Jesus! Talvez não tivéssemos entre nós aqueles que pregam a si mesmos e suas vaidades egocêntricas, e não a revelação real deste Jesus para nós.