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O servo e o Senhor (Chico Machado)

Sábado da Quinta Semana da Páscoa. O primeiro final de semana do mês mariano apontou no nosso horizonte histórico. Pentecostes está bem ali à nossa frente. Seguimos contemplando o Ressuscitado, já sentindo o gostinho do Espírito Santo que vem renovar a nossa prática de fé. Podemos dizer que Pentecostes é a festa da unidade na diversidade. A festa da luz diante das trevas das estruturas de pecado e da morte. A festa do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, caminho, verdade e vida (Jo 14,6). O Espírito Santo dirigindo a nossa vida, rumo ao encontro da pessoa do Ressuscitado que vive e reina em nós.

O final de semana chegou, mas para a “Igreja do Caminho”, temos que olhar o passado recente, e agradecer pela vida de um dos grandes expoentes desta Igreja. Na quinta feira passada (2 de maio), celebramos a memória de Dom Tomás Balduino, que fez a sua páscoa neste dia, no ano de 2014, aos 91 anos de idade. Bispo emérito de Goiás e frade dominicano, foi o fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Ficou conhecido em todo Brasil por seu trabalho em defesa da reforma agrária e dos direitos dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, e por justiça social. Amigo e parceiro de nosso bispo Pedro, o conheci assim que cheguei à Prelazia, pilotando ele mesmo o seu teco-teco.

“Direitos Humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé”. Esta foi uma das frases ditas por este bispo, que marcou época em nossa Igreja, nos fazendo sentir saudades dos bons tempos, em que os bispos tinham uma atuação evangélico/profética, e não estavam tão preocupados com a instituição e as vestes clericais, como nos tempos atuais. Como diz um amigo meu: “quanto maior é a mitra do bispo, mais vazia é a sua cabeça, e o seu descompromisso com os mais necessitados”. Circunstâncias assim fazem-nos lembrar de uma das intuições proféticas do frade franciscano e escritor francês François Rabelais: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram quando podiam”.

O texto Joanino que refletimos hoje na liturgia começa com Jesus fazendo uma observação bastante forte aos seus discípulos e discípulas: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim”. (Jo 15,18) Isto significa que os seguidores e seguidoras de Jesus terão que enfrentar o ódio e as perseguições do mundo, assim como Ele mesmo as enfrentou. A perseguição faz parte do itinerário daqueles que se fazem fieis à escuta da Palavra de Jesus. Os discípulos serão perseguidos pelo mundo, porque ele não suporta aqueles que se opõem aos seus princípios e a lógica de seu sistema. Os que fazem a sua adesão a Jesus serão considerados estranhos e inimigos pelo mundo. A perseguição é uma das consequências da fidelidade à missão de evangelizar, de acordo com os critérios e valores do Evangelho.

O cristianismo não nasceu no berço de ouro do palácio, residência oficial dos dirigentes políticos e religiosos da Palestina no tempo de Jesus. Foi assim com Jesus e continua sendo com os seus fieis seguidores. Assim, a fé em Jesus faz com que a vida se transforme num constante testemunho, de quem faz o caminho do Reino, luta pela justiça e busca construir relações de igualdade, fraternidade e paz. O ódio do mundo manifesta-se na perseguição contra todos aqueles que optam por caminhar, baseados nos valores do Evangelho. Todavia, quem segue os passos de Jesus, não devem desanimar na sua vida de fé e no cumprimento da missão de evangelizar. A perseguição, a dor e o sofrimento, deverão ser vividos em “união hipostática” com Jesus. Lembrando que esta expressão é usada na teologia para designar a concepção cristológica acerca da união das naturezas divina e humana na única pessoa de Jesus de Nazaré.

“O servo não é maior que seu senhor”. (Jo 15,20) Somos servos do Senhor. Somos servos de todos aqueles que necessitam dos nossos cuidados. Não devemos temer as atitudes de indiferença e hostilidade vindas daqueles que nos perseguem e praticam o seu ódio. Este já é um dos sinais de fidelidade ao Projeto de Deus. Evidente que tais situações levam-nos ao desgaste e, por vezes, nos angustiam. Entretanto, não devemos entrar em crise se alguns não pensam como nós. O sinal concreto do seguidor de Jesus é o amor. O sistema de poder que organiza a sociedade e seus adeptos (o mundo) reage com ódio, pois não aceitam os valores do Evangelho. Não existe possibilidade de conciliação entre o mundo e a proposta de Jesus. O confronto cresce, porque os adeptos do “mundo”, não aceitam o Deus de Jesus, que denuncia a perversidade da sociedade injusta e liberta o povo oprimido da sua escravidão.

Luiz Cassio

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