Reflexões Bíblicas

O traje da justiça (Chico Machado)

Quinta feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Neste dia 21 de agosto a Igreja celebra a memória de São Pio X, 257º Papa da Igreja Católica, governando de 1903 até sua morte em 1914. Pio X foi o primeiro Papa, na história contemporânea da Igreja, proveniente da classe camponesa, cuja formação foi exclusivamente pastoral. É considerado o “Papa da Eucaristia”, dedicando-se com humildade a fortalecer e renovar a igreja, com reformas na liturgia e favorecendo a comunhão diária e entre as crianças. Seu estilo de governar a Igreja era direto, mas não teve grande apoio da aristocracia europeia, ao denunciar, por exemplo, a crueldade para com à dignidade humana, em plena época, as vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ele nos ensinou a buscar na Eucaristia a força e a alegria para a nossa vida cristã. Foi canonizado em 1954 pelo Papa Pio XII.

O representante máximo da Igreja Católica atual é o Papa Leão XIV, 267º pontífice, que teve a sua eleição ocorrida no dia 8 de maio de 2025, completando assim pouco mais de 100 dias de seu pontificado. Pouco tempo para avaliar o seu desempenho à frente da Igreja Católica. Para alguns, não disse a que veio, depois de termos um Papa carismático, simples e de uma empatia que nos deixou a todos com muita saudade. Igual a Francisco, creio que levará muitos anos. Com certeza, fosse ele neste contexto do massacre genocida da população palestina, na Faixa de Gaza, promovido pelo governo de Israel, Francisco já teria estado presente, ali no campo de guerra. Este atual parece estar mais preocupado com a hierarquia, as vestimentas, numa atitude de boa convivência com “os vizinhos”.

Vaticano a parte, seguimos com a nossa reflexão bíblica com o texto proposto pela liturgia. Desta vez, Mateus relata Jesus falando em parábolas para os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. Lembrando que, enquanto os sumos sacerdotes eram as figuras religiosas de maior importância no antigo Israel, atuando como líderes espirituais e mediadores entre Deus e o povo, sendo os responsáveis por conduzir o culto, oferecer sacrifícios e, principalmente, entrar no Santo dos Santos uma vez por ano para realizar o ritual de expiação pelos pecados da nação; por sua vez, os anciãos eram líderes do povo, homens mais velhos e experientes, escolhidos por sua sabedoria e posição social para aconselhar, julgar e liderar a comunidade. É com esta categoria de pessoas que Jesus está dialogando, tentando convencê-los acerca do Reino dos Céus.

Jesus compara o Reino dos Céus como uma grande festa de casamento. Aliás, para a tradição bíblica, o banquete de casamento era a mais alta expressão de festa. Nesta festa a qual Jesus se refere, trata-se de um banquete que um determinado pai, preparou para o casamento de seu filho. Todavia, em meio à festa, surgem os imprevistos: alguns convidados recusam o convite para participar da grande festa, e isto, à época, era considerado, uma grande desfeita. Na compreensão teológica do evangelista Mateus, esta parábola refere-se a Israel, desde os seus princípios até à vinda do Messias. Foi sempre um povo rebelde, que recusa o Messias, e tudo o que Ele representa no projeto libertador de Deus para a humanidade. Diante deste contexto, Deus muda de estratégia e abre o banquete a outros convidados: “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. (Mt 22,14)

Participar do Reino é participar de uma festa. Embora o convite para esta festa, é uma graça, um dom que envolve e compromete pra valer toda a nossa vida, é necessário comparecer na festa com o traje apropriado: o traje da justiça. Ainda que a entrada seja gratuita e oferecida a todos e todas, exige de todos os participantes, este traje, esta vestimenta. Ao aceitarmos participar desta festa, somos convidados também a revestir-nos da pessoa de Jesus de Nazaré: “todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo”. (Gl 3,27). Assumindo esta condição, somos transformados para nos tornarmos imagem d’Ele.

Este é o Reino que Jesus veio anunciar com a sua vida, promovendo ações libertadoras, transformadoras, sobretudo na vida dos mais pobres. O Verbo de Deus se encarna em nossa realidade humana, para que assim nós pudéssemos experimentar as alegrias do Reino. Em Jesus Deus convoca a todos nós para fazer parte de uma nova aliança, simbolizada pela festa de casamento. Como ficou claro na parábola de Jesus, os que rejeitam o convite são aqueles que se apegam ao sistema religioso que defende seus próprios interesses e, por isso, não aceitam o chamado de Jesus. Estes serão julgados e destruídos juntamente com o sistema, que estão apegados, e o defendem. Assim sendo, o convite é dirigido agora aos que não estão comprometidos com este maldito sistema, mas, ao contrário, são, inclusive, marginalizados por ele. Começa na história novo povo de Deus, formado de pobres e oprimidos, os destinatários primeiros do Reino.

Luiz Cassio

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