Reflexões Bíblicas

Os frutos de cada dia (Chico Machado)

Sábado da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a Igreja Católica, que celebra nesta data, a memória de São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja. A cor litúrgica deste dia é a branca, que simboliza a pureza, a alegria e a Ressurreição de Jesus. Sempre que me refiro às cores litúrgicas, me recordo de uma situação pela qual passei. Fui convidado para celebrar a Eucaristia em uma comunidade e, lá chegando usei a minha estola vermelha, que o bispo Pedro me deu de presente, trazida da Nicarágua. Ao final da celebração, fui perguntado por algumas pessoas, se eu era comunista. Expliquei-lhes que usei a cor vermelha, porque naquele exato dia, estávamos celebrando a memória de um dos mártires da caminhada. O vermelho, no caso, simboliza o fogo do Espírito Santo, o sangue dos mártires e o sangue de Jesus derramado na Paixão, e é usado no Domingo de Ramos, na Sexta-feira Santa, no Domingo de Pentecostes, não porque o padre é comunista.

São João Crisóstomo nasceu no ano 348, em Antioquia, na Síria. Arcebispo de Constantinopla, foi um dos mais importantes patronos do cristianismo primitivo. Por ser um grande orador, seu nome passou para a história com o apelido de “boca de ouro” por causa de sua incrível capacidade de falar sobre a Fé. Nascido em uma família muito rica, fez o contraponto, dedicando-se aos pobres e provocando os padres de sua época, a deixarem a vida de luxo e riqueza, exigindo que assumissem uma vida uma vida de pobreza e simplicidade evangélica, já que precisavam ser exemplo para o rebanho. Diferente de outros santos, não teve uma canonização formal, pois sua santidade foi reconhecida pela Igreja Católica através da veneração popular e pela sua aceitação como Doutor da Igreja, sem um ato único de canonização. Ele é celebrado em 13 de setembro, dia anterior à sua morte, devido à coincidência com a Exaltação da Santa Cruz e foi proclamado padroeiro dos pregadores e do Concílio Vaticano II.

“Nada provoca mais dano do que a hipocrisia. O mal oculto sob a aparência do bem é muito mais eficiente”. Esta é uma das frases atribuídas ao nosso santo de hoje, e que tem tudo a ver com o texto do Evangelho de Lucas que estamos refletindo neste sábado. Jesus ensinando os seus discípulos numa linguagem simples, clara e objetiva, para que o entendimento deles fosse absorvido e vivido na prática cotidiana deles, como seguidores do Mestre. “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos”. (Lc 6,43-44) Certamente os discípulos entenderam o conteúdo central desta mensagem, pois é de todos sabido que é pelos frutos que alguém produz que passamos a conhecer esta pessoa de fato.

Diz o provérbio popular que “o fruto não cai longe da árvore”. Isto significa que os filhos costumam se assemelhar aos seus pais em comportamento, valores, atitudes ou até mesmo no destino que traçam para as suas vidas. Todavia, este dito nos sugere que, tal como um fruto que cai próximo à sua árvore de origem, uma pessoa carrega consigo as características e influências dos seus genitores. Nesta sociedade pós-moderna que ora estamos vivendo, tal experiência talvez não tenha o mesmo sentido que nos tempos passados, visto que, as crianças de hoje, desde muito cedo, são consumidas pelas telas dos celulares, colocados em suas mãos precocemente, e elas não tem mais o tempo de socialização com as demais crianças de sua idade, já que o celular não as deixa. A infância se desenvolve brincando e não deslizando o dedo no celular, com os olhos fixos nele. É com crianças deste tipo de criação que devemos intuir como será a sociedade do futuro.

O texto lucano de hoje nos ajuda a entender que, assim como as árvores são conhecidas pelos frutos que produzem, do mesmo modo as pessoas são conhecidas pelos seus atos, por aquilo que elas fazem, ou deixam de fazer. É pelos nossos frutos que seremos conhecidos, pois eles dizem sobre nós e que somos, diante da proposta de uma nova sociedade trazida pelo projeto do Reino, anunciado por Jesus. Assim sendo, quem põe em prática a mensagem de Jesus, constrói a vida pessoal e comunitária sobre alicerce firme, que resiste às tentações do tempo, à alienação, ao conformismo e a indiferença, aos conflitos e até mesmo à perseguição. Quem fica preso somente no ouvir ou no falar, muito comum na vivência da fé por parte de algumas pessoas, jamais colabora na construção desta nova sociedade, pois não produzem os frutos necessários para a edificação desta.

“Não olhe para o céu, olhe para o pobre que lhe estende a mão, pedindo”, provoca-nos São João Crisóstomo. É pelos frutos que produzimos que somos conhecidos e reconhecidos, e não pelas vezes que participamos das celebrações litúrgicas a cada final de semana. Na linguagem de Jesus, somos comparados a uma árvore, seja porque pode dar “bons frutos”, seja porque não se lhe podem exigir bons frutos se for “má”. Nesta perspectiva, somos desafiados a sair de uma experiência interior da fé para uma prática exterior, quando os frutos que produzimos dizem sobre nós de quem somos. Desta forma, as perguntas que todos devemos fazer são: que tipo de árvore sou eu? Que frutos estou produzindo mesmo? Que este versículo de hoje oriente as nossas ações no dia a dia: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.

Luiz Cassio

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