Sábado da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. Neste sábado a liturgia celebra a Memória dos Santos Joaquim e Ana, pais de Maria de Nazaré e avós de Jesus, segundo a tradição cristã. Não há nenhuma referência bíblica acerca deste casal. Tudo o que sabemos, foram extraídos dos Evangelhos Apócrifos, principalmente do Protoevangelho de Tiago. Evangelhos Apócrifos são os textos sobre a vida de Jesus e alguns personagens bíblicos associados, como Maria e José, que não foram incluídos no cânone bíblico cristão. Eles são chamados de “Apócrifos”, palavra que significa “escondido” ou “secreto”, pois muitos deles foram considerados não autênticos ou heréticos pela Igreja. Nestes Evangelhos Apócrifos são abordados diversos temas, como a infância de Jesus, a vida de Maria, a paixão de Jesus e até mesmo a vida de outros personagens bíblicos, como José e os apóstolos. Alguns deles, como o de Tomé, apresentam discursos e ensinamentos atribuídos a Jesus que não constam nos Evangelhos Canônicos.
Joaquim e Ana são apresentados como um casal piedoso e justo, mas estéril. Eles rezaram por longos anos para terem filhos. Deus ouviu suas orações e anunciou que eles teriam uma filha, Maria, que se tornaria a mãe de Jesus. Naquela época, para os judeus, não ter descendentes era uma maldição, um sinal da falta de bênção de Deus. Segundo a tradição, Maria foi consagrada a Deus no templo e Joaquim e Ana a visitavam. Numa desta vistas ao Templo, Joaquim foi repreendido por uma liderança religiosa, pelo fato de não ter filhos. Por essa razão, ele não tinha o direito de apresentar as ofertas. Assim, ele ficou transtornado com a repreensão e decidiu retirar-se para o deserto. Durante quarenta dias e quarenta noites, suplicndo a Deus que lhe desse descendentes. Ana também passou dias em oração, pedindo a Deus a graça da maternidade. Deus os ouviu e veio Maria, a Mae de Jesus.
Lembrar-se de Joaquim e Ana é lembrar-se de Maria, a Mãe de Deus e nossa. Com este pensamento, como sempre faço aos sábados, fiz-me presente com Pedro, rezando e absorvendo um pouco da mística e energia que emanam daquele lugar sagrado, onde estão os restos mortais de nosso bispo, poeta, profeta. Aliás, foi de Pedro que ouvi a melhor definição de Maria de Nazaré. Pedro não se relacionava com Maria como uma “santíssima Virgem” inacessível, mas via Maria de Nazaré como uma figura central na teologia da libertação, identificando-a com as mulheres oprimidas e com a luta por um mundo mais justo, fraterno e igual para todos e todas, como afirmava. Ele a via como uma profetisa, uma mulher de iniciativa e coragem, que se coloca a serviço de Deus e dos mais pobres, conforme o Evangelho de Lucas a apresenta no Magnificat (Lc 1,46-55). Maria identificada com os pobres que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através de Jesus de Nazaré.
No dia da Festa dos avós de Jesus, celebramos também a vida dos nossos avós, afinal dia 26 de julho é o Dia dos Avós. Recordar as nossas origens sanguíneas, olhando para o passado e valorizando todos aqueles e aquelas que contribuíram com o projeto da criação de Deus, como coautores da vida, possibilitando estarmos vivos no hoje da história. Quem não é capaz de olhar pelo retrovisor, o passado que se foi, perde a força da origem e da fonte da ancestralidade, negando a memória que permanece viva no sangue que pulsa em nossas veias. As minhas memórias mais felizes, foram aquelas que passei, junto com os meus avós. Era feliz e sabia o quanto era! Hoje, trago comigo um pouco de cada um deles, sobretudo depois que alcancei a “terceira idade”. Recordando cada dia que passei (sem celular na mão) ao lado daqueles que eu muito admirava, sem luxo e riqueza, mas na simplicidade de quem sabia acolher e cuidar com o carinho maternal de Deus.
No dia da Festa de Ana e Joaquim, a liturgia nos apresenta de forma muito simples, apenas dois versículos do capítulo 13 de Mateus: “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”. (Mt 13,16-17) Olhos para ver e ouvidos para ouvir. Parece mecânico, mas requer que toda esta lógica, seja orientada pelo pulsar do coração. Ver e ouvir! Perceber e sentir! Muitos veem, mas não enxergam. Da mesma forma que ouvem, mas não escutam. Não basta ter olhos para ver, é preciso enxergar com os olhos do coração. Não basta ouvir, mas é preciso escutar com a força que vem de dentro como aqueles e aquelas que sabem amar de verdade.
“O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração” (O Pequeno Príncipe – Saint Exupéry) As coisas mais importantes e essenciais da vida não podem ser vistas com a visão física aparente dos olhos, mas sim sentidas com o coração. Por isso temos a palavra misericórdia que, traduzida, significa perceber e sentir o que o outro está sentido, colocando-nos no lugar daquela pessoa, através de emoções e experiências solidárias do cuidado. Ouvir e enxergar, perceber e sentir o que o outro está sentindo, vivenciando, padecendo. Deus é infinitamente misericordioso para com todos! Este é o sentimento que também deve brotar do coração de todo aquele e aquela que fazem a sua opção pelo seguimento do neto de Ana e Joaquim. Somente aqueles e aquelas que estão com Ele, são capazes de perceber e sentir, que o Reino de Deus está se aproximando através de sua ação. Os que não seguem a Jesus ficam “por fora”, e nada podem perceber e sentir.
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