Então, era numa época em que ele não sabia ler os sinais da natureza, mas que lhe dava a impressão de estar bem próxima a morte das mudas de plantas. Depois de extremado cansaço para semear tomates no alto do barranco e aguardar o tempo do transplante, sentia-se desfalecido. Subia e descia com suas latas, levando água do igarapé que secava no verão intenso, para não fenecer seu canteiro de mudas de tomates. Mas conseguiu e as salvou com sua teimosia e com toda a força da qual ainda dispunha com fé, mas com risco de se desesperar.
No tempo certo do transplante, depois de construir as leiras e adubar a terra com NPK (nitrogênio, potássio e fósforo), replantou-as nas leiras, ajudado por alguns trabalhadores contratados, confiando que as chuvas chegassem para aliviar a terra tórrida do verão escaldante. Quem passava por elas, não acreditava que fossem crescer, de tão frágeis.
No amanhecer do dia seguinte, foi espiar as mudas e começou a desesperar-se, vendo as plantinhas envergadas ao chão e secando, debaixo daquele céu escaldante e de um amarelo brilhante de sol. Contemplava o lago, cintilando aos seus olhos com lágrimas que chegavam. Com o choro contido, foi ajoelhar-se à sombra de uma imbaúbeira para pedir a Deus um milagre, mas acabou debruçado sobre folhas secas. Falou com Deus, com poucas palavras, mas sabia que Deus já conhecia a sua dor.
Contou-me que naquela posição de entrega à terra, começou a sentir uma espécie de saudável tremor no corpo como uma sensação gostosa de confiança na alma. Orou dispensando as palavras. Ainda de joelhos viu o lago sereno e um pequeno rastro de nuvem perdida entre o verde distante, do outro lado da margem. Ele, conhecedor da Bíblia, me disse que não foi nuvem, em forma de mão, como na Bíblia, um profeta esperava morrer de fome e sem pão.
Foi me relatando que a sua nuvem trazia a brisa leve soprando uma paz que se alojou no seu coração, em forma de confiança de que nada estaria perdido em sua plantação de tomates. Pois aquela nuvem foi se expandindo tanto que cobriu o céu durante três dias e três noites de chuva fina.
“Era Deus me falando e acreditei que chegara um inverno provisório para salvar minhas plantas. Uma experiência de que Deus existe para nos amar. Não era coincidência e sim providência, em tempo de precisão. Mesmo com minha humilde oração sem palavras, Deus, Senhor dos Tempos e das Estações, mandara um inverno chuvoso em pleno verão amazônico que resultou numa produção imensa de tomates.”
Comparando um pouco forçosamente, conhecí um livro com o tíitulo de “O Pequeno Mestre da Nuvem Branca” cujo enredo era buscar nos montes, a primavera perdida”, (Editora Telucazin, 2023) de André Kondo. Embora seja um livro classificado como literatura infanto-juvenil, tem um pouco de cada um de nós, de crianças e idosos, capazes de abrirem o coração para a fé e para o sentido da vida que não findará com o fracasso.
Nelson Peixoto, em 19 de julho de 2025.
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