Reflexões Bíblicas

Ressurreição é vida! (Chico Machado)

Sábado da 33ª Semana do Tempo Comum. Chegamos a mais um final de semana neste 11º mês, que vai findando. Viver a vida com intensidade torna-se o nosso maior desafio, neste tempo pós-moderno, em que alguns de nós, deixamo-nos ser dominados pela tela dos celulares. A convivência humana prazerosa vai perdendo, aos poucos, a essência da companhia alegre e feliz com as pessoas que a gente quer bem. Importante lembrar que o verdadeiro valor das coisas não está no tempo que elas possam durar, mas na intensidade com que as vivemos. Os momentos inesquecíveis acontecem na mesma proporção da intensidade com que dedicamos na vivência deles. Se bem que Friedrich Nietzsche já nos dizia: “Não é a intensidade dos sentimentos elevados que faz as pessoas se superarem, mas a sua duração”.

Um sábado chuvoso aqui pelas bandas do Araguaia. Aliás, a noite inteira foi acompanhada por uma chuvinha intermitente. Clima propenso para deixar que o nosso coração seja invadido pela nostalgia. Foi assim que meu espírito despertou nesta manhã: uma vontade imensa de sair e abraçar todos os amigos e amigas lá de fora. Como não tenho em mim o dom de poetizar, gostaria de lembrar às pessoas que fazem morada em meu coração, com uma recomendação feita pelo grande poeta Mario Quintana: “Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho”. Definitivamente, o tempo não para! É a saudade que faz as coisas pararem no tempo, permitindo que possamos revivê-las.

Com o tempo favorecendo à oração, rezei aproveitando a deixa do salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Prova-me, e conhece os meus sentimentos! Vê se não ando por um caminho fatal, e conduze-me pelo caminho seguro”. (Sl 139,23-24) Sonda o meu coração e vê que ele foi dormir entristecido na noite de ontem. Tudo porque, uma amiga, dos bons tempos pastorais, na Zona Leste de São Paulo, partiu ontem para a casa do Pai. Geanne realizou a sua páscoa na noite de ontem, deixando um casal de filhos, depois de passar por momentos muito difíceis com o quadro de sua saúde. O Céu está em festa, mas ela vai fazer falta para os seus mais próximos, e para nós que a conhecíamos de longa data. Seja acolhida, querida, na Glória do Pai!

Segundo Jesus, todos os que crermos n’Ele, iremos provar da Ressurreição definitiva no Pai. Aliás, a Ressurreição é a temática central do texto litúrgico deste sábado. Os saduceus, aproximando de Jesus, para dialogar com ele, acerca desta temática. O texto já inicia dizendo que os saduceus não acreditavam na Ressurreição. De fato, eles eram materialistas e não acreditavam na ressurreição, nem nos anjos. Lembrando que eles formavam um partido religioso, econômico e político dominante na época de Jesus. O grupo era composto pela maioria dos sacerdotes. Apesar da pequena quantidade, os saduceus representavam a aristocracia dominante do judaísmo nos tempos do Novo Testamento. Eles formavam o escalão superior dos sacerdotes e parte do Sinédrio, exercendo, por isso, grande influência política.

Fazendo uma análise do contexto histórico-político da época de Jesus, o judaísmo, a nação judaica, não era homogênea. Ao contrário, ela estava dividida em vários grupos e partidos antagônicos, com doutrinas, ideologias e tradições bem distintas, movidos, ora por motivações políticas, ora religiosas. Ao contrário dos fariseus, que reconheciam a importância da tradição oral, os saduceus aceitavam somente a Lei escrita (Torá). Por isso que eles trazem um questionamento a Jesus, resgatando a figura de Moisés, quanto ao futuro da existência humana, segundo os planos de Deus. Jesus aproveita do ensejo para desconstruir o pensamento dos saduceus, apresentando o cerne das Escrituras: Deus é o Deus comprometido com a vida. Ele não criou ninguém para a morte, mas para a aliança consigo para sempre. A vida na Ressurreição não pode ser pensada como uma cópia do modo de vida deste mundo.

Ressurreição é vida! Vida plena em Deus! Nada comparado com esta vida deste plano em que estamos. Entretanto, não cabe a nós ficarmos esperando pela chegada deste momento, mas nos dedicarmos a viver no aqui e agora. A preocupação primeira agora não é “salvar a alma”, como é o propósito de um movimento enraizado dentro da Igreja Católica. A alma esta presente no corpo humano! Corpos feridos, maltratados, machucados, que precisam ser cuidados, para que assim também a alma sobreviva junto aquele corpo. Geralmente, quem está preocupado apenas em “salvar as almas”, não tem compromisso com a transformação para a libertação dos corpos feridos. Nunca me esqueço de uma resposta dada pelo nosso bispo Pedro a uma jornalista que lhe perguntara, se ele não tinha preocupação com as almas das pessoas? “Talvez porque eu não tenha visto nenhuma alma passando aqui pela porta de casa. O que vejo são corpos feridos, maltratados e explorados pela força do latifúndio”.

Luiz Cassio

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