Reflexões Bíblicas

Saber, Pensar e agir! (Chico Machado)

Quarta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Depois dos festejos de São João, o mês de junho nos encaminha para o final dele, onde ainda passaremos por Pedro e Paulo, Solenidade do Martírio de Pedro e Paulo, as colunas da Igreja. Enquanto isso, vamos aqui vivendo um dia de cada vez, sempre buscando a intensidade deste dia, seguindo uma dica dada por Jesus no finalzinho do capitulo 6 do Evangelho de Mateus: “não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade”. (Mt 6,34) Como canta Chico Buarque, em uma de suas canções: “Amanhã vai ser outro dia!” Nesta busca de viver um dia de cada vez, vamos construindo relações de partilha e fraternidade. O necessário para a vida virá junto com a justiça do Reino, como fruto natural da árvore boa que devemos ser.

Uma quarta feira especial para aqueles que deixaram sua terra natal. Hoje é o “Dia do Imigrante”. Não confundir com “Migrante”. Migrante é alguém que se desloca de um local para outro, dentro do mesmo país ou entre países diferentes. Esse deslocamento pode ser temporário ou permanente e pode ocorrer por uma variedade de razoes. Já o “imigrante” é uma aquela que se estabelece em um país diferente daquele em que nasceu ou do qual é cidadão. A imigração é também um fenômeno que ocorre quando há o deslocamento de grupos de indivíduos das regiões/países em que nasceram para terras estrangeiras. O Dia do Imigrante foi criado para homenagear essas pessoas, que deixam para trás amigos e família em busca de melhores condições de vida, além de colaborarem para o crescimento do país que se destinam. O que seria do Brasil, não fossem os seus imigrantes?

Por falar em Imigrante, hoje estamos nos despedindo de uma grande imigrante: a Teóloga Ana Flora Anderson. A Teologia feminista está de luto. Na noite de ontem (24), faleceu, aos 90 anos, em um hospital onde estava internada na capital paulista, cidade que a norte-americana compartilhou os anos de vida e seus muitos estudos sobre a Palavra de Deus com gerações de sacerdotes, religiosos consagrados e leigos. Florence Mary Anderson nasceu em Nova York, nos Estados Unidos, em 6 de junho de 1935. Depois de concluir uma pós-graduação na Universidade de Michigan, ganhou uma bolsa de estudos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP), chegando ao Brasil em 16 de fevereiro de 1959. Grande parceira do Frei Gilberto Gorgulho, na divulgação de uma teologia encarnada na realidade dos empobrecidos da periferia.

Nunca vou me esquecer de um de seus livros: “A História da Palavra”, Vol I. Ela soube como ninguém encontrar o lugar de vez e fala das mulheres feministas, numa Igreja marcada pela forte presença masculina patriarcal hierárquica. Não tive o prazer de ser seu aluno no curso de Teologia no ITESP (1985-1988), mas tive o privilegio de encontrar-me com ela por diversos momentos no Curso de Verão do CESEEP, em São Paulo. Sempre puxava a minha orelha, de que tinha que escrever a minha experiência junto aos povos indígenas, na companhia de Pedro, aqui na Prelazia de São Félix do Araguaia. Quem sabe um dia, né?

Uma quarta feira em que a liturgia nos alerta fortemente sobre o cuidado que devemos ter com os falsos profetas, através de uma perícope do evangelista Mateus. Jesus alertando os seus discípulos sobre a presença dos falsos profetas no meio deles: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. (Mt 7,15) Como estão presentes em nossa vida real estes personagens? Cada um com as suas formas apropriadas de disseminar aquilo que não são. Era assim no tempo de Jesus e é assim também no meio de nós. Eles sobreviveram ao tempo. Se especializaram em ser aquilo que não são. Profetas da aparência. Falam, arrotam, verborrageiam suas verdades, mas não são capazes de fazerem nada daquilo que propagam de cima de seus púlpitos. Geralmente se fantasiam com as suas vestes litúrgicas, cada dia mais sofisticadas, mas sequer pisam os seus pés no chão nas quebradas das periferias geográficas e existenciais, lá onde o povo sofrido está.

Jesus ainda continua afirmando que se conhecem as árvores pelos frutos que elas produzem: “Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons”. (Mt 7,18) Somos estas mesmas árvores, das quais fala Jesus. Para que produzamos bons frutos, precisamos estar unidos à árvore maior: Jesus. E isto fazemos, conjugando três verbos distintos: saber, pensar e agir. Saber quem é Jesus, conhecê-lo; pensar como Jesus, vendo a realidade que nos cerca; agir como Jesus agia, fazer. Falar e fazer. Fazer o que se falar, praticar. Só poderemos perceber a nossa falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de poder, que levam à exploração e opressão. Mediante esta perspectiva, sigamos o conselho dado por Paulo, na Carta aos Hebreus: “Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. (Hb 13,5) O amor fraterno não é puramente sentimento interior; é comportamento expresso por atitudes concretas, dentro e fora da comunidade: fraternidade, solidariedade, espírito de partilha. Saber, pensar e agir!

Luiz Cassio

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