Reflexões Bíblicas

São José de Nazaré (Chico Machado)

Quinta feira da Segunda Semana da Páscoa. Como se trata de um dia muito especial para a classe trabalhadora, damos uma pausa neste momento litúrgico pascal, para falar de um personagem bíblico de suma importância para a fé cristã: São José de Nazaré. Ele é tão importante que é celebrado duas vezes por ano na liturgia católica: 19 de março – São José, esposo de Maria e 1º de maio – São José Operário. Coube ao Papa Pio XII, em 1955, instituir na Igreja a Festa de “São José Operário” para dar um protetor aos trabalhadores e também um sentido cristão à “Festa da trabalhadora e do Trabalhador”. Assim, cristãmente o Papa deu à classe trabalhadora um protetor e modelo: São José, o operário de Nazaré.

Oficialmente, 1º de maio é o Dia do Trabalho, ou Dia Internacional do Trabalho, já que mais de 80 países do mundo, celebram esta data. Entre o Dia do Trabalho e o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, a classe preferiu ficar com esta segunda opção. No Brasil esta data ganha força com o Presidente Getúlio Vargas, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943. Todavia, foi o Presidente Arthur Bernardes que sancionou este dia como feriado nacional, em 1924, que passou a valer no ano seguinte. O que importa é que esta data é comemorada pela classe trabalhadora, como um momento de resistência, para marcar as conquistas e continuar na luta pelos direitos dos trabalhadores por uma vida mais digna e justa, já que são eles que carregam este país nas costas, com o seu trabalho e dedicação.

Mas falemos de São José de Nazaré. Um dos santos mais queridos pela sabedoria popular, dentro do devocionário católico. Embora não tenha tido muitos escritos a respeito dele nos evangelhos, e não ter registrado nenhum de suas falas, o homem é muito querido para os seguidores da fé católica. Sua vida simples, seu jeito sóbrio de viver, sua dedicação à Família de Nazaré, despertou a admiração de muitos dos seus devotos, que ainda hoje, em tempos de “Inteligência Artificial” (IA), seguem-no rezando e pedindo a sua proteção. Aos que ainda não o conhecem mais a fundo, seria bom ouvir este conselho de Santa Teresa d’Ávila: “Quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome a este glorioso santo por mestre e não errará no caminho”.

Como a liturgia dá uma pausa neste momento forte do período pascal, com a reflexão de Joao, o texto escolhido para esta quinta feira é do Evangelho de Mt 13, 54-58. Jesus retornando à sua terra natal, ensinando na sinagoga, para a admiração de muitos dos que o ouviam ali atentamente: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? (Mt 13,54) A primeira reação é de seus interlocutores é de entusiasmo, pois se tratava de um deles: “Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco?” (Mt 13,55-56) Inadmissível para eles que, um como eles, pudesse ter tamanha ascendência com o Deus Criador de tudo e de todos. A falta de fé faz com que deixem de acreditar na presença viva de Deus, se fazendo um conosco, num humano como eles.

A sabedoria de Jesus vem de Deus: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30) Tal sabedoria também passa pela participação de sua Mãe e de José na sua vida, afinal ela é a grade família de Nazaré: Jesus, Maria e José. A Mãe ensinou os primeiros passos ao Menino Jesus e também a mística e espiritualidade do projeto salvador de Deus. Entretanto, Jesus aprende também como membro daquela família humilde e operária de Nazaré, através do trabalho, que era expressão de amor. José foi um humilde carpinteiro artesão toda a vida. Jesus aprendeu e exerceu também essa profissão durante os anos de vida ali na vilazinha de Nazaré: “e Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc 2,52) O Menino Jesus ia aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro homem. Embora sendo Jesus o Verbo Encarnado de Deus, seus conterrâneos demoraram para entender que ali, do meio deles, estava nascendo e crescendo aquele que revolucionaria o mundo, trazendo Deus para morar definitivamente no meio da humanidade.

Um operário da vilazinha de Nazaré, dedicado à arte e o ofício da marcenaria. Simples e inexpressível nas palavras, como um homem qualquer. De poucos estudos, cuja sabedoria fora adquirida através dos saberes no meio dos pobres. Um homem justo, título adquirido por causa de sua personalidade íntegra. São José de Nazaré, um homem de Deus. Um colaborador direto do plano salvífico de Deus. Para dar conta de sua missão, contou com a contribuição decisiva de uma grande Mulher, que através de seu Sim, revolucionou a história da humanidade. José, simples como Maria, pobres da periferia. Com Maria e José, no berço da família de Nazaré, Jesus mostrou que Deus tem lado definido, o lado dos pobres. Com José, Jesus assumiu a sua consciência de classe, como nosso bispo Pedro assim resumiu em um de seus poemas: “No ventre de Maria, Deus se fez homem, mas na oficina de José Deus também se fez classe”.

Luiz Cassio

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