Reflexões Bíblicas

Semear a esperança (Chico Machado)

Quarta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. Uma quarta feira que o meu coração mineiro, amanheceu entristecido. A família Machado, da qual sou originário por parte de minha saudosa mamãe, está de luto. No dia de ontem o Padre Valdomiro Soares Machado, fez a sua páscoa definitiva. Frei Valdo, como era de todos conhecido, nos deixou aos 76 anos, grande parte deles dedicados à Igreja que tanto amou e serviu. Primeiro, como franciscano, já que passou vários anos como membro da ordem, e depois como padre incardinado à Diocese de Montes Claros, nossa cidade natal, no norte de Minas Gerais. Tia Ana reencontrando com o seu filhão, que era uma de suas referências e maior orgulho. Tive a oportunidade de estar várias vezes com ele, ainda como franciscano, e ali, pude testemunhar o seu zelo e dedicação no trabalho pastoral. Vai fazer muita falta!

Frei Valdo se foi, assim como Ariano Suassuna (1927-2014), que no dia de hoje, há 11 anos, também nos deixou. Estou me lembrando deste intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, professor, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta, porque ele era um homem de esperança, como ele mesmo se definia. Esperança que não pode faltar nas nossas vidas, sobretudo nos momento de dor da partida de um ente querido, por exemplo. A dor toma conta de nosso coração, nos momentos da morte, mas não podia ser diferente, afinal, nos separaremos daqueles que tanto amamos em vida. Todavia, para quem vive da fé, a morte é apenas um reencontro com Aquele que nos criou. Quem acredita na Ressurreição, acredita na vida que pede passagem para outro plano, num estágio mais elevado. A esperança nos faz acreditar que estaremos nos braços do Pai. “A esperança não decepciona” (Rom 5,5)

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”, afirmava Suassuna. Esperançar com a vida e com tudo aquilo que realizamos por aqui. Foi Ariano, juntamente com Paulo Freire, que nos deu a ideia do esperançamento, assim como a palavra “amorosidade”, escrevendo-a no cotidiano de nossas lutas. Esperançar com amorosidade, acreditando que nem tudo está perdido, por mais que algumas pessoas do meio de nós, põe suas esperanças naquilo que o dinheiro possa comprar, por mais que entendam que ao tentar preencher o vazio com bens materiais, elas não conseguem ver, sentir, tocar. O vazio não vai embora. O esperançar nas relações de amorosidade faz a gente entender que juntos, podemos ser mais fortes e alcançar a vida que queremos para todos, sob uma nova perspectiva de mundo.

Esperançar com a semente lançada, que é o grande ensinamento de Jesus para nós no dia de hoje, com o texto de Mateus, proposto pela liturgia. Jesus, mais uma vez, falando em forma de parábolas. Ele utilizava a linguagem das parábolas em seus ensinamentos, para tornar as verdades mais acessíveis e compreensíveis para o povo simples, usando exemplos do cotidiano, para ilustrar os mistérios do Reino de Deus. Aliás, as parábolas são muito comuns na literatura oriental e consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida. Possuem todo um simbolismo, onde cada elemento da história tem um significado específico. Entre as parábolas de Jesus, algumas das mais conhecidas são: a parábola do filho pródigo, parábola dos talentos, parábola do trigo e do joio, parábola do semeador.

A parábola do semeador. É esta que o evangelista Mateus narra, com mais um dos ensinamentos de Jesus para os discípulos, à multidão e também para nós. Esta parábola é também contada pelo Evangelho de Marcos 4,1-9 e Lucas 8,5-15. Em ambos os textos, Jesus está comunicando os mistérios do Reino de Deus (Reino dos Céus em Mateus porque ele escreve o seu Evangelho para os judeus). Alguém sai para semear. A mensagem de Jesus traz vários tipos de terrenos, sobre os quais a semente é lançada pelo semeador. Uma linguagem simples para nos fazer entender que é assim que acontece com a Palavra de Deus semeada nos vários tipos de corações: a beira do caminho, em terreno pedregoso, no meio dos espinhos e em terra boa. Todavia, apesar de todas as adversidades dos obstáculos, o semeador realiza seu trabalho, confiando na colheita que vai ter, pois acredita que quem vai realizar o nascer e prosperar da semente, é o próprio Deus.

Numas das passagens de Lucas ele nos deixa claro que: “A semente é de Deus a palavra, Jesus é o semeador; todo aquele que o encontra, vida eterna encontrou”. (Lc 8,11) De uma maneira ou de outra, somos todos e todas semeadores/as. Nossa missão é semear! Semear a esperança! Confiar na ação de Deus em sintonia com as nossas ações. Sem nos esquecermos de que a omissão e a indiferença são também formas acomodadas de semear. Cada pessoa vê e entende a partir do lugar que ocupa na sociedade e das dificuldades que encontra para se comprometer com Jesus e para continuar a ação dele no mundo. Semear a semente da esperança com esperançamento, fazendo e acontecendo o Reino, no aqui e agora de nossa história. Somente quem abre o seu coração de forma esperançosa é capaz de acolher a semente da vida, e fazê-la brotar no chão dos caminhos dos que esperam por libertação.

Luiz Cassio

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