Tende coragem! (Chico Machado)

Segunda feira da Sétima Semana do Tempo Pascal. Iniciando o mês de junho, em que somos desafiados a continuar acreditando em Deus, em nós mesmos e no outro que caminha conosco. A vida se constitui de permanentes desafios. Seguindo em frente, vamos dando respostas a cada um destes desafios, embasadas na fé que professamos e na Palavra que procuramos seguir, fazendo o discernimento necessário para que sejamos coerentes no seguimento de Jesus. Ter fé e acreditar n’Ele, requer que tenhamos a lucidez do discípulo e da discípula fiel. É sempre bom olhar para trás e refletir confiante com o salmista: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; frente a quem eu temerei? (Sl 27,1) A confiança em Deus e no seu projeto nos faz criar força e coragem para enfrentar as mais difíceis situações.

Tende coragem! Esta é a palavra de ordem de Jesus, dirigida a seus discípulos, para que eles consigam levar adiante o projeto de salvação e libertação, anunciado por Ele. Esta fala esta dentro do assim chamado, “Discurso de Despedida” de Jesus. Em João, este discurso vai do capitulo 14 ao 17 de seu evangelho. Trata-se de uma mensagem de conforto, de encorajamento e, sobretudo de esperança. Estando com eles, estas são as palavras ditas pelo Mestre, para que o discipulado se encha de entusiasmo, força e coragem, diante do caminho que percorrerão, anunciando a Boa Nova do Reino. Jesus não engana o seus seguidores, mas os adverte que não terão vida fácil: “No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33)

“Vencer o mundo” tem um significado especial para Jesus. Ao contrário daquela concepção dualista que alguns moralistas de plantão defendem, vencer o mundo significa vencer todas as forças que se contrapõem à vida, que se estruturam numa sociedade de desigualdade, de injustiça, que explora e oprime os pobres, doentes, excluídos e marginalizados. Vencer com Jesus estas forças da morte é lutar por um mundo mais justo, fraterno, onde predomine a vida em plenitude que Deus criou para todos os filhos seus. Desta forma, seguir os passos de Jesus significa estar preparado para fazer este enfrentamento, em defesa da vida dos pequenos, sabendo que não estamos sozinhos nesta difícil tarefa de lutar pelo Reino, tendo em nós a mesma convicção do apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece”. (Fl 4,13)

Foi com este propósito em mente, que me fiz orante nesta manhã no túmulo do profeta Pedro do Araguaia. Uma manhã de outono, bem mais fresca que os dias anteriores, mesclados pelo forte calor do verão que já ficou para trás, mas insiste em querer dar “pitaco” nesta estação. Sempre admirei a coragem profética de Pedro, nos enfrentamentos que assumiu por estas bandas de nossa Prelazia, que compreende 102.000 km². Simplesmente, ele não nos dizia como fazer, mas ele mesmo ia à frente fazendo acontecer. Ele levou a sério esta palavra dita por Jesus: coragem! Por este motivo, incontáveis vezes fora ameaçado de morte, sem falar que, de dentro da própria Igreja, vinham as críticas mais ferozes, em virtude desta sua coerência como testemunha fiel do Ressuscitado. Se por um lado, ficávamos preocupados com tal situação, ele simplesmente seguia adiante com o seu lema de vida: “As minhas causas valem mais que a minha vida”.

A nossa Igreja precisa de mais pessoas que assumam o compromisso de “enfrentantes” da realidade de injustiça que secularmente vivemos em nosso país. Somos um dos países mais desiguais do mundo. O Brasil está entre aqueles países, cuja concentração de renda fere de morte a vida de milhares de brasileiros. Uma minoria que acumula para si fortunas, sem se importarem com a falta de comida na mesa de centenas de milhares de famílias. Tal desigualdade clama aos céus, enquanto os “influenciadores midiáticos digitais”, prestam um desserviço à evangelização, ignorando por completo as contradições desta nossa sociedade. Que falta já nos faz o Papa Francisco, que nos seus 12 anos de pontificado, tocou pra valer nas feridas mais cruéis deste “mundo cão”. Sempre irei me lembrar desta sua frase: “Adorar é ir ao essencial: é o caminho para se desintoxicar de tantas coisas inúteis, de vícios que anestesiam o coração e entorpecem a mente”.

Como já foi dito, Jesus não engana aqueles que, por ventura, fizerem a sua adesão ao projeto do Reino. O futuro dos discípulos naquele contexto e também o nosso tempo de agora, passa necessariamente pelo testemunho, em meio às lutas e perseguições. Mas é também tempo de confiança e paz, pois os seguidores e seguidoras, podemos contar com o amor do Pai: “Eu não estou só o Pai está comigo”. (Jo 16,32). E, desde sempre, podemos estar certos e confiantes na vitória: Jesus já venceu todos os seus adversários, inclusive e principalmente, a morte. Para os que acreditamos em Jesus, a ordem social injusta, que condena o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre, pois “Ele venceu o mundo!” (Jo 16,33) A última palavra é a de Deus e é vida! Vivamos esta vida na luta sempre, acreditando que seremos também os vencedores!