A medida do amor (Chico Machado)

Segunda feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Mais uma semana que se inicia em nossas vidas. Ser gratos a Deus é reconhecer que Ele está nos concedendo mais um dia em nossas vidas. Agradecê-lo por estarmos vivos e pelo dom da vida é o mínimo que um coração generoso é capaz de manifestar. A vida é o nosso dom maior de Deus. Somos suas criaturas, mas trazemos em nós o selo original de sua imagem e semelhança (Gn 1,26-28) Começar o dia agradecendo, nos faz bem e melhores pessoas. Como nos diria o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616): “Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos”. Ainda bem!

Uma semana que iniciamos fazendo memória de uma importante data. No dia 26 de junho comemora-se, em todo o mundo, o “Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura”. Esta data surgiu de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), como forma de prestar solidariedade, apoio e ajuda às pessoas vítimas da tortura, além de também realizar um combate efetivo à utilização da prática de tortura, principalmente por parte das forças de segurança do Estado. A tortura é uma das chagas abertas que a história brasileira terá que carregar, pois fomos marcados por tal prática durante os anos da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Esquecer, jamais! Combater, julgar e punir, um dever! A História não nos perdoará.

A liturgia desta segunda feira nos motiva a repensar o nosso jeito de julgar. Para isso, retomamos o “Sermão da Montanha”, com Jesus ensinando, orientando e alertando os seus discípulos, quanto à prática de julgar que comumente temos grande facilidade de fazer: “Não julgueis e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes”. (Mt 7,1-2) A medida do julgar é a medida do amor. Quem ama, não julga. Quem julga, não ama. Os critérios de valores pessoais egoístas se sobrepõem a prática do amor. Quem ama perdoa e acolhe.

Deus muito nos ama! Tanto ama que nos fez suas criaturas. O grau de amorosidade, ternura e compaixão de Deus é tamanho que Ele nos acolhe e cuida de nós assim como somos. Em Lucas, Jesus usa uma metáfora que traduz bem este seu amor para conosco: “Quantas vezes eu quis reunir vocês e seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!” (Lc 13,34) O julgamento de Deus é a nossa referência de justiça, uma vez que Ele nos julga com a mesma medida que usamos para julgar os outros. O alerta feito por Jesus é que o nosso julgamento sobre o nosso próximo (cisco) mostra que desconhecemos por completo as nossas próprias fraquezas, limitações e fragilidades, sobretudo, a nossa condição de pecadores inveterados diante de Deus (trave).

Infelizmente um setor da nossa Igreja perdeu o fio da meada no que diz respeito ao julgamento. Ainda é comum vermos entre nós, lideranças religiosas que, não somente julgam as pessoas como também as condenam. O exemplo clássico é o daquele padre que não dá a comunhão para “certas pessoas” porque, segundo este, estas pessoas estão em pecado. Não seria este um julgamento? Tal padre esqueceu-se daquilo que Jesus disse no Evangelho de Marcos: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. Eu não vim para chamar justos, e sim pecadores”. (Mc 2,17) Jesus mostra que sua missão é reunir e salvar aqueles e aquelas que a sociedade hipócrita rejeita como maus e pecadores.

“A medida do amor é amar sem medida”, já nos dizia Santo Agostinho. A medida do perdão é perdoar infinitamente. A medida do julgar é olhar para dentro de nós mesmos e perceber que somos seres limitados, frágeis e necessitamos muito de ter Deus em nós como parceiro de nossa caminhada, assim como Jesus nos revelou. Ao revelar-se a si mesmo em nossa história humana, Jesus nos revela a face de um Deus pleno de amor e misericórdia: “Ele existe antes de tudo o que há, e nele todas as coisas subsistem”. (Col 1,17) Ou seja, o Divino que é Deus invisível e inatingível se torna visível e acessível em Jesus, o Filho que se encarnou no mundo e na história. Deus nos conhece profundamente e sabe quem somos nós. Ele sonda e conhece o nosso coração e os nossos pensamentos. Entregarmo-nos em suas mãos é a melhor maneira de viver na sua paz inquieta, sem julgamentos e condenações afinal, como Jesus mesmo disse: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele”. (Jo 3,17)

Luiz Cassio

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