PÓ E PEDRA – PRESENTES EM CRISTO JESUS. por NELSON PEIXOTO

“Tu és pó”. “Tu és Pedra”.

NELSON PEIXOTO. Diretor de Liturgia da UNESER.

Duas afirmações em contextos diferentes que podem alimentar nossa espiritualidade, desde o primeiro dia de novembro.

Porque tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3, 19). “Então o Senhor Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o alento da vida, e ele tornou-se um ser vivente” (Gn 2, 7).

A síntese da vida humana está aqui condensada como revelação divina, segundo a pedagogia dos autores bíblicos.
Na boca de Jesus, feito carne, pelo sopro do Espírito no ventre de Maria, tem-se a nova criação e a figura complementar que Ele mesmo pronunciou sobre Simão e a comunidade, na origem dos seguidores do seu caminho. Mostrou o destino, a base sólida que nossa adesão a Jesus nos faz ser “pedras viva” para a construção do Reino.
Em Mt 16,13-19, lemos a vocação de todos nós, quando professamos a fé na pessoa de Jesus, após a Ressurreição, quando amedrontados pela morte, pelas diferenças e ameaças de divisão:
“…tu é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”.

A saudade de Jesus, após pender morto na cruz, estava prestes a virar o pó do esquecimento. Mateus não deixa que isso aconteça, e vai recordar o que Jesus revelara para manter a vida presa ao seu coração e perseverante no Caminho, na Verdade e na Vida.
Não existe o dualismo excludente em termos absolutos: “Ser pó ou ser pedra”, diríamos assim se fôssemos incapazes de ver a vida pelo olhar do Espírito vivificador de Jesus, Morto e Ressuscitado.
Somos pó, diria a sabedoria que sintetiza a condição humana precária e finita com a morte corporal.
Somos pedra porque, enquanto corpo, construímos com a matéria criada a história com aqueles que faleceram, mas que vivemos a amizade, criamos laços e consolidamos a esperança na vida eterna.
Pedro e pedra, pó e poeira são apenas lados complementares de uma vida alicerçada em Deus, mesmo sentindo as ausências de muitos de nossa vista. Cremos, que, após a falência bioquímica do nosso corpo, nossos santos sustentam a fé da Comunidade Igreja.
Pedras vivas, memória e saudade, gestos que marcaram nossas histórias! Esses são mais do que pó, são areias acimentadas por Deus Pai para todo e sempre. Memória e gratidão pelos vivos e pelos “mortos”, em cada Missa.

Obs. Essa reflexão nasceu de uma postagem de um amigo que escreveu da experiência com seus avós, nesses termos:
“Um dia, minha vó cega, pediu para me aproximar dela. Curvei-me e ela me puxou para bem pertinho e sussurou nos meus ouvidos: “Afonso, eu eu nasci para virar pedra”.

Pedro Dias

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