A fé libertadora, por Chico Machado.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Segunda feira da quarta semana da quaresma.
Iniciamos a semana ainda olhando para o dia de ontem, repercutindo em nós, os belos textos da liturgia de ontem. Nada melhor do que saber que somos filhos e filhas de um Pai extremamente amoroso, que cuida de cada um de nós. Também no dia de ontem relembramos a páscoa de um dos grandes teólogos, expoente máximo da Teologia da Libertação: José Comblim (1923-2011). Este belga de nascimento morou e trabalhou muitos anos aqui no Brasil, influenciando o pensamento de toda uma geração como a minha, com a sua vasta produção literária teológica. Sempre muito lúcido na caminhada de uma Igreja identificada com a proposta de Jesus de Nazaré. Morreu aos 88 anos na cidade de Simões Filho (BA), deixando-nos um legado primoroso. Aconselho a leitura de “Vocação para a liberdade”.

Um iniciar de semana preocupante para os amantes da ética e das coisas feitas de forma correta. Parece contraditório, mas no ano em que a CNBB nos apresenta a Campanha da Fraternidade com a temática da educação, assistimos incrédulos, a um dos maiores escândalos de corrupção no Ministério da Educação (MEC). Mais uma vez o “gabinete paralelo” se fazendo presente, envolvendo diretamente o Ministro Milton Ribeiro, com lobistas evangélicos controlando e vendendo vantagens para obtenção de verbas do Fundo de Desenvolvimento da Educação (FNDE), configurando crimes de improbidade administrativa e tráfico de influência. Segundo os áudios, tudo indica que o presidente é o mentor do esquema. Nossa educação vai mal. Muito mal!

É preciso ter muita fé para continuar na nossa luta de resistência na construção de um país mais igual e que caibam a todos. A educação tem um papel preponderante nesta luta. Pena que o texto elaborado para a reflexão da Campanha da Fraternidade deste ano, não faça alusão em momento algum a grande contribuição dada por Paulo Freire, na construção de uma educação de qualidade social em nosso país. Cabe a nós educadores, no compromisso de lutar por uma educação libertária, fazer esta interlocução, trazendo para o debate, as ideias de Freire. “Falando com sabedoria, ensinando com amor” (Pr 31,26), em sintonia com o sonho de Paulo Freire, que dizia: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”.

Fé e coragem que sobraram na pessoa do funcionário do rei que foi até Jesus solicitando que o mesmo fosse até a sua casa e curasse o seu filho que estava doente. Um pagão da região da Galileia, faz o seu encontro pessoal com Jesus e acredita piamente em suas palavras. Tanto que ao retornar à sua casa, recebe a notícia de que naquele exato momento, que Jesus conversar com ele, seu filho ficou curado da enfermidade que o atormentava. Um homem de muita. Ter fé é acreditar que a manifestação de Deus vai chegar, e nos entregar confiantes no vazio do abismo, sabendo que a mão de Deus ali está para amparar-nos. A fé nos faz crer no incrível, ver o invisível e realizar o impossível, sonhando o mesmo sonho de Deus.

A liturgia desta segunda feira nos reservou um texto extraído do Evangelho de São João. A estrutura literária de João difere dos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Enquanto os três primeiros relatam muitos milagres e palavras de Jesus, o mais jovem dos discípulos de Jesus, fala dos “sete sinais” realizados por Ele: As bodas de Caná (2,1-12); Cura do filho de um funcionário (4,43-54); Cura do paralítico (5,1-47); Multiplicação dos pães (6,1-15); Caminhar sobre as águas (6,16-70); Cura do cego de nascença (9,1-41); Ressurreição de Lázaro (11,1-54). João tem um objetivo muito bem definido em seu evangelho, visando despertar e alimentar a fé das pessoas em Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, a fim de que estas pessoas tenham a vida. Seria o mesmo que uma espécie de meditação, que procura aprofundar e mostrar o conteúdo da catequese existente na comunidade que ele representava.

Hoje estamos diante do segundo sinal: Cura do filho de um funcionário (4,43-54) Jesus realizando a sua missão evangelizadora em terras de pagãos, distante das instituições que se consideravam salvadoras. Enquanto os judeus o recusavam, publicanos, pecadores e pagãos o acolhem de braços abertos, como foi o caso do funcionário do rei. Um pagão marginalizado que acredita na palavra de Jesus e se converte com toda a sua família. Numa clara demonstração de que a salvação é dom gratuito de Deus para todos aqueles e aquelas que se abrem e respondem a esse dom. Também nós somos desafiados a manifestar pela nossa fé o acreditar no Projeto de Deus. Acreditar em nós mesmos, e de que somos capazes de caminhar na mesma toada de Jesus. Acreditar no irmão/Irmã que caminham conosco, edificando a cada dia o Reino. Acreditar sempre! Por mais que os dias sejam difíceis, não podemos perder a fé e nem deixar que nos tirem a esperança utópica do Reino. Como bem dizia nosso bispo Pedro: “Só vivendo a noite escura dos pobres, é possível viver o Dia de Deus. As estrelas só se vêem de noite”.

Pedro Dias

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