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O defensor (Chico Machado)

Segunda feira da Quinta Semana da Páscoa. Seguimos celebrando cada dia, como dia de Páscoa. O Ressuscitado está vivo no meio de nós e faz história conosco. Iniciando mais uma semana, indo ao encontro do Espírito Santo, do defensor, do Paráclito, aquele que nos defende, guia protetor, intercessor, mentor, consolador. Vinte dias nos separam da grande festa de Pentecostes, que neste ano será celebrada no dia 19 de maio. Para lá vamos nós, colocando toda nossa confiança em Deus, rezando cada dia com o salmista: “O Senhor é o meu guia. Nada pode me faltar. Onde houver muita fartura. Para lá vai me levar”. (Sl 23)

Neste dia 29 de abril, a Igreja Católica celebra também a festa em memória de Santa Catarina de Sena (1347-1380) Uma santa italiana do século XIV, pertencente à Ordem Terceira de São Domingos. Apesar de ter sido alfabetizada apenas na idade adulta, tornou uma grande doutora da Igreja, vindo a falecer ainda muito jovem, apenas com 33 anos de idade. A Igreja reservou o dia de hoje para nos lembrarmos da santa, pois foi neste dia em que ela realizou a sua páscoa. Apesar de ter falecido precocemente, viveu intensamente o seu amor a Deus, acreditando firmemente que “Pelo amor, o homem se torna outro Cristo. É pelo amor que o homem se une a Deus”.

Depois de ter-me ausentado das redes digitais por três dias consecutivos, o fiz por uma boa causa. Fui à cidade de Porto Alegre do Norte, distante 217 km de São Félix do Araguaia, ministrar um módulo de formação na Escola de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia. Trabalhei ali na sexta, sábado e domingo, a temática “A História dos Direitos Humanos e a forma que a nossa prelazia encontrou de trabalhar os Direitos Humanos, desde antes da criação desta Igreja, em 13 de maio de 1969, pela Bula Quo Commodius do Papa Paulo VI. Igreja esta que se ocupou, desde os primórdios, na defesa das causas dos peões, posseiros, indígenas, mulheres, retireiros, ribeirinhos, pescadores.

Um final de semana cansativo, mas de grandes realizações. Encontrei ali pessoas ousadas, interessadas em conhecer mais, para melhor defender os direitos negados diuturnamente, por aqueles que deveriam, por lei, defender os direitos negados dos pequenos, pobres e marginalizados. Voltei para casa de alma lavada, por encontrar ali, pessoas jovens aguerridas, teimosas e resistentes, dispostas a tudo para fazer valer, não apenas os seus direitos, mas os daqueles que ainda não sabem os caminhos a serem trilhados para a defesa de seus direitos. Durante todo tempo que ali estive, provoquei-os a aderirem ao pensamento de Hannah Arendt, quando ela diz: “A essência dos Direitos Humanos é direito a ter direitos”. Sabendo que, quem não luta pelos seus direitos, não é merecedor deles.

Direitos que Jesus buscou durante toda a sua atuação pública terrena entre nós. Ele foi o maior defensor dos Direitos Humanos. Toda a sua palavra, mensagens e ações, giravam em torno da defesa intransigente dos pequenos: doentes, mulheres, pagãos, estrangeiros, gente da periferia, sendo-lhes negados todos os direitos para viverem com dignidade. É por este motivo que todos aqueles e aquelas que seguem os mesmos passos de Jesus precisam ser também, defensores e defensoras dos direitos iguais para todos: moradia, trabalho, lazer, educação, saúde, transporte, alimentação saudável. Estar com Jesus é defender a vida que se constitui de direitos, inspirando-nos naquilo que fora dito por Rui Barbosa (1849-1923): “A força do direito deve superar o direito da força”.

Iniciamos a segunda feira dando continuidade à reflexão do Evangelho de São João. No texto que nos foi reservado hoje pela liturgia, Jesus está ensinando (instruindo) os seus discípulos: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14,21) Uma síntese teológica perfeita que mostra a forma concreta da relação entre Deus e nós e nós e Deus. Os seguidores que fazem a sua adesão a Jesus, somos amados pelo Pai. Isto porque o amor do Pai por Jesus também atinge os seus discípulos. Desta forma por e em Jesus, nós crentes participamos no amor do Pai pelo Filho. Jesus é a via pela qual o amor do Pai chega até nós, e é também o caminho pelo qual chegaremos ao Pai: “Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”.(Jo 14,6)

Não é fácil fazer a nossa adesão de escolha por Jesus. Alguns de nós vivemos enganando a nós mesmos, achando que, da forma em que vivemos a nossa experiência de fé, estamos seguindo os passos de Jesus. A nossa sorte é que a nossa vida é visitada por Deus, uma vez que Ele habita no mais íntimo do coração de cada um de nós. Além disso, recebemos do próprio Deus, a força transformadora do Espírito Santo. Jesus se encarregou de nos enviar o Espírito Santo como o nosso defensor: “o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. (Jo 14,26) É o Espírito que nos ajudará a discernir os acontecimentos para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é vida e o que é morte, e realizando novos atos de Jesus na história. Decidir pela vida com o coração, pois eles é o lugar teológico da verdadeira oração, do encontro de amor com Jesus na pessoa dos irmãos.

Luiz Cassio

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