Vigilância esperançosa (Chico Machado)

Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum. Dois outros domingos nos separam do final do ano litúrgico A. No domingo do Advento (03), iniciamos uma nova etapa litúrgica: ano litúrgico B. Por enquanto, seguimos a caminhada num clima de vigilância e prontidão, próprio deste momento atual a que somos convidados a mantermos em atitude de alerta, para não sermos surpreendidos. Estarmos imbuídos de uma vigilância constante de nossas atitudes, ações, emoções e pensamentos e que muito nos ajudarão na construção de uma vida equilibrada, pronta para a superação de todas as adversidades. Como diria o cartunista Millôr Fernandes (1923-2012): “O preço da fidelidade é a eterna vigilância”.

O tempo é de espera. Espera vigilante! Uma espera escatológica. A escatologia é um ramo de estudo da Teologia que promove uma reflexão acerca dos acontecimentos do fim dos tempos. A palavra origina-se da junção de dois radicais gregos,”éskhatos” que significa “último” e “logia” que quer dizer estudo, formando algo com o sentido de “estudo das últimas coisas”. Para a doutrina cristã, o fim dos tempos é um dos eventos mais estudados e aguardados, pois é a partir dele que haverá renovação, com o retorno do Cristo Salvador: “Então verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu”. (Mc 13,26-27) O “Filho do Homem” é Jesus que, pela sua Morte e Ressurreição, testemunhadas pelos discípulos, irá reunir todo o povo de Deus.

A atitude vigilante é a temática que predominará nestes três últimos domingos deste ano litúrgico. Neste domingo, o evangelista Mateus traz para nós o “Discurso Escatológico” de Jesus. Evidente que com este seu discurso profético e apocalíptico, Jesus não tem a intenção de amedrontar e espalhar o terror entre os seus discípulos, mas devolver-lhes a esperança diante de um contexto adverso em que eles estavam enfrentando. Lembrando que Mateus escreve o seu evangelho nos cinquenta primeiros anos depois da Ressurreição de Jesus, num contexto em que a comunidade dos seguidores, estava sofrendo perseguições e ameaças. O “sitz im leben” (contexto vital) da comunidade mateana era de permanentes ameaças.

Jesus falando de coisas complexas em formato de parábolas, para que o entendimento de todos fosse atingido com objetividade. Uma linguagem recheada de simbologias, que precisavam ser de domínio de todos os seus ouvintes, para que assim eles não perdessem o foco e dispersassem. O clima de medo e insegurança se apossa de toda a comunidade. Todavia, a tensão que se estabelece é a tensão da esperança. A esperança é o desejo ardente de realizar, no contexto da história, a vontade de Deus. O Reino de Deus já está acontecendo permanentemente. É a sedução do bem, da vida, da comunhão com Deus, da solidariedade, da fraternidade, da partilha, da alegria. E as palavras de Jesus são anunciadas como convite a participar do banquete da vida.

O seguidor, a seguidora de Jesus, tem que ser alguém que se veste desta esperança. Este germinar de esperança é um sinal evidente da presença do Filho do Homem fazendo a escatologia acontecer. A certeza final é a de que chegará um tempo de plenitude. Este, tempo, porém, está sendo preparado pela aproximação paulatina daquilo que todos nós esperamos. Esperar, esperançando de forma vigilante e alerta, pois não sabemos nem o dia e nem hora que isto tudo acontecerá.

“É preciso vigiar e ficar de prontidão; em que dia o Senhor há de vir, não sabeis não!” (Mt 24,42a.44) Não se trata de um tempo de espera acomodada e dispersa, mas de fazer as coisas acontecerem no “esperançamento” da chegada d’Ele. Como o texto do Evangelho de hoje mesmo diz, neste dia haverá o encontro do noivo (Jesus) com a noiva (a comunidade). O noivo é Jesus, que virá no fim da história. As virgens (jovens) representam todas as comunidades cristãs, que devem sempre estar preparadas para o encontro com o Senhor, mediante a prática da justiça (o óleo). Os que estivermos preparados e vigilantes, faremos parte deste encontro. Neste sentido, bem que São Paulo nos alerta: “Estejam vigilantes, mantenham-se firmes na fé”. (1Cor 16,13) Marana-tá” “Vem, Senhor!” Como as comunidades primitivas cristãs, estejamos preparados e alertas para a vinda gloriosa de Jesus. Esperar esperançando, sendo, fazendo e acontecendo, em gesto de amor doação serviço, às causas do Reino!

Luiz Cassio

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