◊♦Quinta feira da Segunda Semana do Advento. O tempo é de preparação, esperança e alegria. É também tempo de conversão. Mudança radical de vida, do modo de ser, agir e pensar, como perspectiva para a espera daquele que vai chegar. A criança de Belém está renascendo em cada gesto concreto solidário com os mais pobres e vulneráveis.

O Natal é a festa do Menino-Deus, cumprindo a promessa já feita. Deus, na sua infinita misericórdia, pleno de luz e amorosidade, vem visitar e morar com o seu povo. O Verbo encarnado é a transcendência divina de Deus, se manifestando numa criança pobre e indefesa da periferia de Nazaré. “O filho do carpinteiro. O nome de sua mãe é Maria”. (MT 13,55)

Somos seguidores do filho de seu José, com a dona Maria de Nazaré. Assim como foi seguidor deste”malfeitor”, o nosso pastor, Dom Paulo Evaristo Arns, que no dia de hoje celebramos sete anos de sua páscoa, ocorrida naquele fatídico dia 14 de dezembro de 2016. Ainda trago a lembrança do rosto de nosso bispo Pedro quando lhe comunicamos a passagem de seu grande amigo.

Me ordenei presbítero no ano de 1989, e fui trabalhar na Zona Leste de São Paulo, mais precisamente na Região de São Miguel Paulista, sob a batuta de Dom Angélico Sândalo Bernardino. Naquela ocasião, tudo estava organizado como Arquidiocese de São de São Paulo, em formato de regiões episcopais, tendo Dom Paulo Evaristo Arns, nosso cardeal, pastor/mentor. Tive a felicidade de trabalhar sob a luz deste grande pastor dos direitos humanos e da luta contra a ditadura.

Hoje o meu dia começou atribulado. Já bem cedo, estava eu as portas do cardiologista, para que me libertasse dos incômodos aparelhos, conectados em mim por 24 horas. Entre um apito e outro do aparelho, rezei a oração da angústia, com o coração monitorado, já pedindo pra voltar para o meu Araguaia. Quando a gente se afasta, ele pede pra voltar. Ele ficou apertadinho ontem, depois de atender uma ligação de uma das lideranças indígenas dizendo: “volta logo, estamos precisando de você aqui”.

Mal consegui trazer presente em minha oração a proposta litúrgica desta quinta feira. Desde ontem, estamos lidando com a figura de João Batista, aquele que veio preparar os caminhos do Senhor. João é aquele profeta radical, que fecha o ciclo do Novo Testamento. O profeta do deserto. De todos os profetas do Antigo Testamento, que anunciaram a vinda do Messias, João foi o único deles que conheceu e conviveu diretamente de perto com Jesus.

No texto que a comunidade de Mateus nos apresenta hoje, Jesus está se referindo exatamente à pessoa do profeta do deserto: “de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista”. (Mt 11,11) Realça a importância do Batista para o projeto salvador de Deus para a humanidade. Todavia, a deixa maior de Jesus fica por conta do fechamento deste versículo, quando Ele diz: “o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”. Desta forma, os que queremos fazer parte deste Reino, entramos na lista daqueles que são maiores que João. Viu, como você pode ser importante, quando se alia ao menino pobre de Belém?