Terça feira da Oitava da Páscoa. Estamos dando os primeiros passos da primeira semana (oito dias), destes cinquenta dias, que se iniciou no Domingo de Páscoa. A Oitava da Páscoa vai até o domingo seguinte (2º Domingo da Páscoa ou Domingo da Misericórdia). Para a liturgia católica, é considerado como se fosse um só dia, ou seja, o júbilo do Domingo Pascal é prolongado durante oito dias. Estamos a caminho de Pentecostes, pois depois do Domingo da Ressurreição, começa os cinquenta dias do Tempo Pascal, terminando com a Solenidade da Vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e nós que comungamos da mesma fé.

A Oitava Pascal traz para o centro da celebração litúrgica das nossas comunidades o mistério da Ressurreição de Jesus. Todos, devemos estar cientes, de que a Festa da Páscoa é o coração da fé cristã, afinal, se Jesus de Nazaré não ressuscitasse, vã seria a nossa fé. Portanto, não é tempo de cultuar a morte, a tristeza, o medo, a decepção e o fracasso. É tempo de esperança e alegria! Devemos viver com a intensidade da presença do Cristo vivo ressuscitado, embriagar-nos da fonte da presença viva d’Ele no meio de nós. É tempo de anunciar Deus ressuscitado e dizer ao mundo que Ele é Deus conosco e está no meio de nós, hoje e sempre: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Jesus está vivo e sempre presente no meio da comunidade, como o Emanuel, o Deus-conosco (cf. Mt 1,23).

Hoje, ainda muito cedo, fui beber da fonte de nosso eterno pastor: rezei na companhia do profeta do Araguaia. Pelo menos uma vez na semana faço este ritual de estar ali com Pedro, meditando, refletindo e buscando sua intercessão junto do Pai, para que possamos ser fieis às mesmas causas de Jesus, junto aos empobrecidos. A sintonia de oração se faz harmonia naquele espaço sagrado, fortalecendo o nosso espírito, recarregando de energia a nossa vontade, para continuar lutando como ele fez, na resistência, teimosia, esperançando com a sua radicalidade evangélica. Para ele, “ter esperança é um ato de rebeldia”.

Ainda vivenciando este clima pascal, o Evangelho proposto para o dia de hoje, segundo o evangelista João, conta-nos a experiência de Maria Madalena com a primeira aparição de Jesus. Uma experiência forte que, a princípio, ela não havia reconhecido Jesus, mas ao ouvir seu nome, sendo pronunciado por Jesus, ela exclamou: Rabuni, que quer dizer Mestre. A literatura neo testamentária nos apresenta Maria Madalena como uma fiel seguidora de Jesus Cristo. Tudo indica que o nome “Madalena” provavelmente vem do nome de uma cidade que ficava perto do mar da Galileia chamada Magdala. Não se sabe exatamente, mas pode ser que Maria tenha morado nessa cidade.

Maria Madalena foi uma das muitas mulheres que faziam parte do grupo de Jesus, viajando com Ele. Ela esteve presente no calvário e viu Jesus ser executado na cruz. Madalena foi também uma das primeiras pessoas a ver Jesus depois de Ele ter sido ressuscitado, como atesta o evangelista Marcos: “Aí estavam também algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena,. Maria, mãe de Tiago, o menor, e de Joset, e Salomé”. (Mc 15,40) Mulheres que acompanharam Jesus desde a Galileia, ali estavam como testemunhas oculares de todo o sofrimento de Jesus. Como podemos perceber, muitas mulheres acompanhavam Jesus mais de perto. Muitas Marias. A Bíblia fala, pelo menos, de seis mulheres chamadas Maria: a mãe de Jesus (Mt 1,18); a irmã de Marta e Lázaro (Jo 11,1-2); Maria Madalena (Lc 8,2); a mãe de Tiago e Josés (Mt 27,56); a mãe de João Marcos (At 12,12). O nome Maria em grego é o equivalente ao nome Miriã em hebraico, que era o nome da irmã de Moisés (1Cr 6,3).

O nome de Maria Madalena traz uma conotação bastante negativa, que a tradição cristã foi impingindo a ela historicamente. Entretanto, a Bíblia não diz que Maria Madalena era uma mulher perdida, uma prostituta. A única coisa que a Bíblia fala do passado dela é que Jesus expulsou sete demônios dela. (Lc 8,2). É esta mesma mulher que se torna a primeira testemunha ocular de Jesus ressuscitado. Ela está presente na cena do túmulo vazio e Jesus faz questão de revelar a ela a sua condição de ressuscitado: “Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’, e contou o que Jesus lhe tinha dito. (Jo 20,18) Viu e acreditou, dando testemunho d’Ele vivo, confirmando aquilo que Ele mesmo havia dito aos seus discípulos: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar depois de três dias”. (Mc 8,31) Ele vive em mim, em você, em nós! Como Maria Madalena, sejamos testemunhas da presença viva d’Ele em nós!