Quinta feira da Quarta Semana da Quaresma. Estamos passando pelo 30º dia de nosso retiro quaresmal, visando a nossa conversão. Com o olhar voltado para o nosso coração, tendo como perspectiva a Páscoa da Ressurreição de Jesus. A nossa caminhada quaresmal só tem sentido se estiver voltada para o calvário, em que celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Converter-nos ao projeto messiânico de Jesus é o nosso maior desafio. Sair de uma fé de introspecção para assumir uma fé consciente e libertadora no trato das coisas do Reino. Não basta conhecer Jesus, é preciso caminhar com Ele, na procura do Reino. Sermos com Ele, já que conosco Ele está!

Meu amanhecer de hoje foi em clima de festa. Rezei na companhia de meus ilustres visitantes matinais. Aves madrugadoras, sem medo de ser felizes! Eles cantando e o meu coração em festa, em clima de aniversário. Celebramos ontem (13), com imensa alegria, os 11 anos de Pontificado do Papa Francisco! No dia 13 de março de 2013, após o quinto escrutínio, foi escolhido o primeiro pontífice jesuíta e também do continente americano. “HABEMUS PAPAM” (“temos um papa”). O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, então com 76 anos, se tornou o nosso Papa, escolhendo o inédito nome de Francisco. Embora jesuíta, o que não fez impedi-lo de aliar-se ao nome de São Francisco de Assis. Sagrada escolha feliz.

Rezei pelo Papa Francisco, que tem esmerado num pontificado de sobriedade e de profundas mudanças na caminhada da Igreja. Razão pela qual, tem enfrentado duras críticas e até perseguições de padres, bispos e até cardeais, talvez por causa de seus privilégios e regalias ameaçadas. Devemos todos rezar pelo nosso pontífice! Ele que tem insistido tanto no aspecto do “ir além” e evitar a tentação daquilo que ele chama de “autorreferencialidade”: “quando começamos com esta psicologia, espiritualidade do espelho, deixamos de ir além e voltamos sempre para o nosso coração que está doente”. Sua preocupação tem sido de alavancar uma Igreja que saia de si mesma e viva aquilo que está proposto nos Evangelhos. Igreja do Evangelho e não da sacristia!

“Hebemus Papa” e também “Habemus bispo”. Depois de aceitar o pedido de renúncia do bispo prelado de São Félix do Araguaia (MT), Dom Adriano Ciocca Vasino, o Papa Francisco, nomeou o seu sucessor. O escolhido pelo Pontífice foi o padre Lucio Nicoletto, membro do clero da diocese de Roraima (RR), que receberá a ordenação episcopal. O terceiro bispo a substituir o nosso saudoso bispo Pedro. Embora italiano, pelo menos é uma pessoa que já estava atuando aqui na nossa Amazônia e conhece as nossas lutas. Que venha com muita força e disposição, para levarmos adiante o legado de Pedro, que está muito vivo entre nós, sobretudo nos “enfrentantes” de outrora. Sê bem-vindo, Dom Lúcio ao “Vale dos Esquecidos!” A mística dos Mártires da Caminhada e a espiritualidade da libertação o aguardam.

Nesta quarta feira quaresmal, estamos findando o quinto capitulo do Evangelho de São João (Jo 5,31-47) Se nele começamos com a cura, em dia de sábado, de um homem doente há 38 anos, na perícope de hoje, Jesus está falando diretamente acerca do testemunho a ser dado sobre a pessoa do Filho de Deus encarnado. Ambos os testemunhos diz claramente de Jesus. O primeiro deles são as suas ações libertadoras em favor da vida e da liberdade; o segundo testemunho é dado pela pessoa de João Batista, ele que viera para “aplainar os caminhos do Senhor”; e o terceiro e mais forte deles, é aquilo que diz as Sagradas Escrituras acerca do Messias a ser enviado para cumprir as promessas de Deus feitas na Antiga Aliança.

Evidente que as autoridades religiosas de Jerusalém, não ficaram contentes com este anúncio verdadeiro de Jesus, que fala em nome do Pai: “o Pai que me enviou dá testemunho a meu favor. Vós nunca ouvistes sua voz, nem vistes sua face, e sua palavra não encontrou morada em vós, pois não acreditais naquele que ele enviou”. (Jo 5,37-38) Ao anunciar o seu messianismo, Jesus desqualifica as autoridades religiosas, que falavam em seus nomes próprios, e praticavam uma religião alienada e opressora dos pequenos. Em nome da Lei judaica, tais autoridades cometiam as maiores atrocidades, em relação aos pequenos, pobres, doentes, marginalizados e descartados. A prática religiosa girava em torno dos interesses da classe dominante, escribas, fariseus, mestres da Lei e sumos sacerdotes. A religião da dominação. Não é à toa que é esta classe de pessoas que vai tramar a morte de Jesus.

Alguns setores de nossa Igreja, infelizmente, não estão muito distantes destes religiosos do tempo de Jesus. A religião do “sacramentalismo”, do devocionismo e do “autorreferencialismo” da “espiritualidade do espelho, não dão testemunho de Jesus de Nazaré, sua prédica e prática. Trata-se de um contratestemunho, uma vez que as palavras ditas no púlpito das igrejas, não descem, em forma de ação, à realidade sofrida do povo na sua luta cotidiana pela sobrevivência. De nada adianta dizer que temos fé e repetir as palavras que lemos na Bíblia; é necessário que as nossas ações sejam continuação da mesma ação de Jesus, dando testemunho da própria fé. Como sabiamente nos dizia o teólogo francês João Calvino (1509-1564): “Nossa fé não tem que estar fundamentada no que nós tenhamos pensado por nós mesmos, senão no que nos foi prometido por Deus”