Sábado da Segunda Semana da Páscoa. O tempo é pascal, mas a perspectiva é da chegada d’Ele, o Espírito Santo de Deus. Ele vem vindo em nossa direção. A Divina “Ruah”, que sobre Ele disse-nos Santo Tomás de Aquino: “Espírito Santo, Deus de amor, concede-me a inteligência que Te conheça; a angústia que Te procure; a sabedoria que Te encontre; a vida que Te agrade; a perseverança que enfim Te possua”. O segundo final de semana de abril aparece no nosso limiar histórico. Já estamos quase em meados do mês de abril. O tempo está passando muito rápido, o que nos obriga a manter-nos vigilantes e atentos para não perder o foco.

Sábado com previsão de chuva aqui pelas bandas do Araguaia. Assim, o sol tirou folga neste amanhecer, permitindo que imensas nuvens colorissem o firmamento. Enquanto ela não vinha, resolvi desafiá-la, fazendo uma breve visita ao túmulo de nosso pastor. Sempre que posso, ali estou. Rezar na companhia dele, e beber na fonte da mística da caminhada, de quem fez tudo pelo Reino. Enquanto ali rezava com ele, veio-me claramente na memória, os versos de um de seus poemas: “Chamar-me-ão de subversivo. Eu responderei incisivo: o sou. Pelo meu povo que luta, Pelo meu povo que trilha apressado, caminhos de sofrimento. Eu tenho fé de guerrilheiro e amor de revolução” (Pedro Casaldáliga). Com este pensamento e correndo da chuva, sintetizei minha oração silenciosa, considerando a vida de um mineiro que se apaixonou pelo Araguaia.

A liturgia deste dia continua a nos provocar mais uma vez com o texto do Evangelho de João. Este evangelista tem uma peculiaridade diferente dos demais. Enquanto os três primeiros Mateus, Marcos e Lucas, relatam muitos milagres e palavras de Jesus, João se ocupa em descrever apenas sete milagres, que são chamados sinais: As bodas de Caná (2,1-12); Cura do filho de um funcionário (4,43-54); Cura do paralítico (5,1-47); Multiplicação dos pães (6,1-15); Caminhar sobre as águas (6,16-70); Cura do cego de nascença (9,1-41); Ressurreição de Lázaro (11,1-54) Lembrando que João tem o propósito de despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que as pessoas tenham a vida plenamente (Jo 10,10).

Ontem, nós tivemos a oportunidade de refletir sobre um destes sinais (milagres): a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15). No dia de hoje somos desafiados a interpretar corretamente (hermenêutica), fazendo a exegese de mais um destes sinais: Caminhar sobre as águas (Jo 6,16-21). O primeiro aspecto a ser observado é que os discípulos foram tomados por muito medo, assim que viram Jesus caminhando sobre as águas. Tanto que a primeira atitude do Mestre foi de dizer-lhes: “Sou eu. Não tenhais medo”. (Jo 6,20) Natural que assim o fosse, quanto à atitude dos discípulos, afinal estava escuro e o mar agitado. Tudo conspirando para que o medo se apossasse daqueles simples pescadores.

Neste relato apresentado por São João, durante a noite, os discípulos embarcaram para cruzar para o outro lado do Mar da Galileia, sem Jesus, que havia subido a um monte próximo sozinho para rezar. No percurso da viagem pelo lago, os discípulos foram atormentados por ventos e ondas, mas veem Jesus andando sobre as águas e indo na direção deles. Eles ficaram atemorizados ao verem Jesus, mas Ele pede-lhes que não temam. Bem que eles quiseram recolher Jesus na embarcação, mas rapidamente chegam à margem.

Quando agimos movidos pelo medo, nem sempre sabemos o que estamos fazendo e se estamos fazendo o certo. É preciso ter coragem para não sermos atormentados pelo medo e pela insegurança dai decorrentes. A coragem vem pela fé e confiança que adquirimos, quando fazemos a nossa adesão pelo seguimento de Jesus. Ele é a nossa força e nos mantém firmes na caminhada, desde que acreditemos, e a Ele nos entreguemos. Confiança de quem tem fé e acredita. É importante salientar que o relato de hoje é imediatamente após a multiplicação dos pães. Tanto que uma grande multidão acorre a Jesus. Isto demonstra que a proposta d’Ele não é entendida pela multidão e é mal interpretada pelos discípulos. A multidão quer fazê-lo rei, o Messias da abundância. Os discípulos se retiram, talvez pretendendo voltar à vida de antes. Jesus vai ao encontro deles, demovendo-os da ideia de querer se acomodar, pois a jornada será longa e exigirá deles e de cada um nós, que estamos dentro deste mesmo barco. Sou eu! Não tenham medo! Quem tem medo do escuro, teme estar sozinho consigo mesmo. Nestas horas é bom lembrar que Ele é um conosco e não estamos sós.