Terceiro Domingo da Páscoa. Jesus está vivo e não é mais um crucificado. Deus se encarregou de fazer justiça, descendo-o da cruz, dando vida nova. A morte não detém a última palavra. A palavra final vem de Deus, e é vida plena, como o apóstolo Paulo definiu belamente no seu “hino cristológico”: “Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. (Fp 2,9-11) Ele é o Senhor do Universo e da história. Deus Conosco que aqui está no meio de nós. Somos a família de Deus que se torna luz do mundo, por meio do testemunho do Evangelho, Palavra de vida.

“Altíssimo, Onipotente, Bom senhor! Teus são o louvor, a glória, a honra e a benção. Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”, assim São Francisco de Assis se referiu ao Deus da criação no seu Cântico das Criaturas. Este é o clima que celebramos também neste Terceiro Domingo da Páscoa. Enquanto caminhamos em direção à Pentecostes, vamos contemplando a presença viva do Senhor Ressuscitado no meio de nós. Viver este dia, sabendo que a cruz do castigo humano não prevaleceu sobre o dom da vida, com a qual Deus nos presenteou na sua gratuidade e amorosidade. Jesus está vivo e todos nós fomos projetados para viver na intensidade com que Ele nos criou para este mundo.

Mais um domingo em que somos convidados a contemplar as aparições de Jesus aos seus apóstolos e apóstolas. Não se trata de um fantasma ou uma invenção lunática dos seguidores d’Ele. Jesus aparece no meio deles e faz questão de provar que possui um corpo, o mesmo que traz as marcas da paixão e morte na cruz: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” (Lc 24,39) Evidente que não se trata mais do Jesus histórico, mas não perde a identificação com este corpo ferido, maltratado, torturado pelas autoridades religiosas e políticas de seu tempo. Num primeiro momento, há uma dificuldade muito grande dos seus seguidores, em crer na Ressurreição. Ou seja, a primeira comunidade cristã, tem uma enorme dificuldade em crer na ressurreição da carne, talvez influenciada pelo pensamento do dualismo grego, da separação entre corpo e espírito.

Apesar de injustiçado pela guerra tramada contra Ele, Jesus é o portador da paz. Como sua aparição se dá num contexto de medo, incertezas e muitas dúvidas, Ele faz questão de lhes transmitir a sua paz: “A paz esteja convosco!” (Lc 24,36) O contexto em que estavam vivendo os seus seguidores, era de escuridão total, não somente da natureza física da noite, mas com as tempestades interiores que cada um deles estava vivendo naquele momento de profunda decepção. Viviam a noite da alma, que estava repleta de angústias, de perturbações, de dúvidas. É neste contexto que Jesus Ressuscitado se apresenta, devolvendo-lhes a força e a razão de viver, para que eles e elas se transformassem em testemunhas do Ressuscitado.

Nós também vivemos as nossas noites escuras de agonia, medo e incertezas. Nem sempre estamos prontos a fazer o enfrentamento destas questões em nosso interior e, quase sempre, nos deixamos levar pelo desânimo, perdendo a vontade de lutar, ou assimilando uma fé intimista, e que não nos levam ao confronto com a realidade que precisa ser transformada pelas nossas ações. Diante desta nossa insegurança, é necessário que o Senhor abra nossos corações e nossas inteligências para que também nós, possamos crer em sua Ressurreição. Não basta vermos e sentirmos, é preciso a graça, o dom de Deus para entendermos as Palavras d’Ele: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia.” (Lc 9,22).

Sua ressurreição é a sua vitória e a nossa vitória. Aqueles e aquelas que quiserem acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terão que percorrer o mesmo caminho d’Ele na própria vida e nos caminhos da história: renunciando a nós mesmos e às glórias do poder e da riqueza, assumindo a mesma condição do “Servo Sofredor”. Somos testemunhas do Ressuscitado. Como testemunhas, somos enviados a anunciar o “querigma”, ou seja, a novidade para a humanidade: Jesus é o Filho de Deus encarnado que ressuscitou trazendo-nos a vida nova que Deus quer para todos. Portanto, a nossa missão como batizados que somos é anunciar a redenção de Jesus, sua ressurreição, e amar a todos e todas sem limites, testemunhando “até os confins da terra”. (At 1,8)