Segundo Domingo da Páscoa. “Domingo da Misericórdia”, como assim o definiu João Paulo II, que instituiu este dia, celebrado todos os anos, no domingo seguinte à Solenidade da Páscoa do Cristo Ressuscitado. O clima é Pascal e nos remete a alegria e a esperança de tê-lo vivo no meio de nós, como sintetizou muito bem o Apocalipse de São João, alimentando a nossa coragem de esperançar: “Não tenha medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Sou o Vivente. Estive morto, mas estou vivo para sempre”. (Ap 1,17-18) O Ressuscitado está presente no meio de nós e nos traz a tranquilidade e segurança, porque é o Senhor da história (Primeiro e Último) e o Senhor da vida (tem as chaves da morte e da morada dos mortos).

Todo dia é da misericórdia! Não precisamos de um dia apenas, pois em todos eles, somos desafiados a sermos misericordiosos conosco mesmo e com todos aqueles e aquelas pessoas com as quais convivemos no cotidiano, afinal, o Deus vivo que está presente em mim, está também nela (Namastê). Cuidar de mim para poder também cuidar de você, ainda mais neste dia em que comemoramos o Dia Mundial da Saúde. Data esta, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como um momento especial para que questões sérias relacionadas à saúde sejam trabalhadas, garantindo a sensibilização das pessoas sobre esse tema e estimulando a criação de políticas públicas voltadas ao bem-estar e viver da população como um todo. Saúde é direito e lutar por ele é dever.

Um domingo em que iniciei o meu dia de alma lavada, rememorando ainda os acontecimentos do dia de ontem. Joguei-me dentro de um barco (voadeira) e fui passar o dia com a comunidade Iny (Karajá), em uma de suas aldeias, na Ilha do Bananal/TO. Fui acompanhar de perto o ritual da primeira alimentação sólida da criança Iny. Tudo devidamente preparado, com todos os adornos e adereços culturais a que a criança tem direito. Todos ali em volta da criança, alegres e em festa, esperando para também participar do banquete. Muito peixe e frutas variadas. Aproveitei para entregar ao jovem pai da criança, um notebook, que os amigos lá de fora me ajudaram adquirir, para aquele estudante universitário do curso de Letras, da UNEMAT. Só Deus sabe a alegria que meu coração e o dele experimentamos.

Neste Segundo Domingo da Páscoa, seguimos com Jesus dando-se a revelar aos seus, como o Cristo Ressuscitado, em meio ao medo e ao fechar-se do grupo, em decorrência do estado de espirito que reinava entre eles. Em Jerusalém, centro do poder e das forças da morte, longe de suas casas e da Galileia, onde tinham passado com Jesus de Nazaré, os grandes e melhores momentos de suas vidas. O texto do evangelista São João de hoje, inicia descrevendo uma das características do grupo, contextualizando aquele momento: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam”. (Jo 20,19) De portas fechadas, dominados pelo medo e a insegurança.

Jesus, mais uma vez, se coloca no meio deles, não mais como o Jesus histórico de Nazaré, mas o Cristo vivo ressuscitado, trazendo-lhes a saudação de paz, reconfortando o coração deles, devolvendo-lhes a coragem perdida em meio a tantos acontecimentos ruins, dos últimos dias em Jerusalém, jogando por terra o sonho de todos aqueles seguidores seus. Jesus sabe que o medo inibe as ações e impede o anúncio e o testemunho. É por este motivo, que Ele procura libertá-los inicialmente do medo, mostrando-lhes que o amor doado até à morte é sinal de vitória, esperança e alegria. Quem quer ser feliz precisa aprender a superar as adversidades e a não ter medo dos próprios sentimentos.

O clima é de medo, mas também de descredito em tudo aquilo que Jesus lhes havia dito sobre si. O testemunho daqueles que haviam estado com o Ressuscitado não valera de nada, pois não acreditaram em suas palavras. A atitude de Tomé é uma evidência clara desta postura: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. (Jo 20, 25) Ver para acreditar. Só acredita vendo com os olhos físicos biológicos. A atitude de Tomé simboliza todos aqueles e aquelas que não acreditam no testemunho da comunidade, e exigem uma experiência particular para acreditar: eu e Deus. Deus e eu. Jesus, porém, dá-se a revelar a Tomé dentro da comunidade, pois Ele sabe que as gerações futuras acreditarão em Jesus vivo e ressuscitado, através do testemunho da comunidade cristã, daqueles e daquelas que creem e o seguem com fidelidade.

Ainda hoje, há muitos “Tomés” entre nós. Nós também, em algum momento de nossas vidas, tivemos as mesmas atitudes daquele discípulo incrédulo. Somos Tomé todas as vezes que não acreditamos em nós mesmos e nas nossas possibilidades e potencialidade, em realizar a nossa missão enquanto seguidores e seguidoras d’Ele. Somos Tomé, quando não acreditamos nos companheiros e companheiras da caminhada, entendendo que, é na união de todos, que venceremos as forças da morte que insistem ainda em matar a esperança da vida plena para todos. Com Jesus ressuscitado no meio de nós, somos revestidos da missão de dar continuidade às mesmas atividades d’Ele. Acreditar sem ver. É pegar ou largar! Não há meio termo.