Sábado da Trigésima Terceira Semana do Tempo Comum. O Ano Litúrgico “A” vai dando o seu adeus. Mais um final de semana se aproxima, e amanha estaremos celebrando a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O ano civil também vai chegando próximo do final. Passou depressa demais, dirão alguns. Os tempos de hoje, já não são os de antigamente, afirmam os mais vividos e experientes por aqui. O tempo voa mais do que o pensamento, por isso sigamos no ritmo da canção de Jota Quest: “Hoje o tempo voa amor, escorrega pelas mãos, mesmo sem se sentir, que não há tempo que volte amor. Vamos viver que há tudo pra viver”. Viver na intensidade maior de que somos capazes. Dar o melhor que podemos ser.

Dentro de um mês estraremos celebrando o Natal, mas o momento de hoje é de nos voltarmos para uma reflexão mais aprofundada acerca da Mulher. No dia 25 de novembro, celebramos o Dia Internacional de Luta pelo fim da Violência contra a Mulher. Esta data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1999. Todavia, foi no dia 25 de Novembro de 1991, que teve início a Campanha Mundial pelos Direitos Humanos das Mulheres, sob a coordenação do Centro de Liderança Global da Mulher. Nunca é demais lembrar que a violência doméstica, nas suas multifacetadas manifestações, física, sexual e psicológica, é um problema de saúde pública relevante pela magnitude do número de vítimas. Os dados são alarmantes, pois, em média, 4 mulheres são vítimas de feminicídio por dia no país e a cada 8 minutos, uma menina ou mulher é estuprada no Brasil. Que vergonha para um país que se diz cristão!

As mulheres sempre foram vítimas e subjugadas como seres inferiores aos homens. É ainda assim hoje, como o foi no tempo de Jesus. A mulher, entre os judeus, era considerada um objeto pertencente ao marido, como seus servidores e demais posses. Ela devia total lealdade ao esposo, mas, por princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz, por exemplo, não tinha nenhum valor. Entretanto, embora fosse obrigada a ser fiel ao matrimônio, o marido não tinha os mesmos deveres matrimoniais. Além de tudo, ele podia rejeitá-la por qualquer motivo, mesmo que, legalmente, não pudesse negociá-la como qualquer outra propriedade.

Mediante este contexto, é muito significativo o diálogo que Jesus tem hoje com os saduceus, que a liturgia nos apresenta, através do texto de Lucas. Eles vão até Jesus e querem saber dele, na ressurreição, de quem será a posse de uma determinada mulher que teve vários casamentos em vida. Os saduceus formavam um partido religioso e aristocrático, constituído por ricos latifundiários, que emergiu no período entre o Antigo e o Novo Testamento. Os saduceus formavam um grupo de famílias sacerdotais. O sumo sacerdote pertencia a este grupo. Eles se opunham a muitas das ideias e ensinamentos de Jesus, incluindo aí a ressurreição dos mortos. Além do mais, eles desempenharam um papel importante no julgamento e condenação de Jesus.

Estranha é a pergunta deles a Jesus, pois, além de terem uma visão fundamentalista da Bíblia Hebraica (só acreditavam no Pentateuco), não acreditavam em doutrinas como a ressurreição dos mortos, anjos ou espíritos. Eles rejeitavam veementemente a crença na imortalidade da alma. A intenção deles, portanto, é deixar Jesus numa situação embaraçosa, para que assim tivessem motivos para o enfrentamento. Percebendo a astúcia deles, Jesus os desarma, apontando que o ponto central das Escrituras é a ideia de que Deus é o Deus comprometido com a vida: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. (Lc 20,38). Ou seja, Deus não criou ninguém para a morte, mas para a vida plena, e assim, estabelecer a aliança consigo para sempre. A vida na ressurreição dos mortos não pode ser pensada simplesmente como uma continuação desta vida terrena.

Somos filhos e filhas do Deus da vida! Não nascemos para morrer, mas para viver o dom maior em forma de plenitude. O Deus da vida é conosco! O sonho maior de Deus foi o de criar-nos à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). Deus é plenitude de vida e nós, como suas criaturas, trazemos em nós esta marca indelével. Deus nos criou para a vida plena. Ao insuflar sobre nós o sopro divino da vida, Ele nos designou para que a vida fosse a nossa maior dádiva. Não foi para a morte que o nosso Deus nos criou. A morte é apenas uma circunstância finita de uma realidade que abre para o infinito que é a transcendência de Deus. A vida após a morte tem outra compreensão lógica que foge ao nosso raciocínio de seres imanentes. Só Deus mesmo, na sua transcendência para nos acolher em seu aconchego, apesar de todas as nossas limitações e fraquezas. Como o salmista, possamos dizer: “Em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos a luz”. (Sl 36,9) A justiça de Deus consiste em libertar o fraco e o pobre dos opressores e exploradores.

Obs.: amanhã quero falar especificamente acerca do martírio de uma das maiores lideranças dos Povos Indígenas: Marçal de Souza Tupã’i, liderança guarani e kaiowá. Aguardem-me!