Sexta feira da Terceira Semana do Advento. Sextando pela última vez no ano. À caminho do Natal que já vem dobrando na esquina. Passamos por muitas cenas, ao longo do ano, de Jesus nascendo nas encruzilhadas das realidades múltiplas, embora os nossos olhos da fé só consigam enxergar a manjedoura simbólica de Belém. Um olho na Bíblia e outro na realidade, eis o nosso desafio.

Não havia lugar para eles, ontem e hoje. Com o Natal se avizinhando, abramos o nosso coração e mentes para acolher os muitos “Jesuses” que passam pelas nossas vidas e não há lugar também para eles em nossas moradas de fé. Não os olhamos com os olhos do amor incondicional, da solidariedade aproximativa, do olhar nos olhos compassivamente. Amar é olhar, sentir, aproximar e cuidar!

Minha oração começou na casa do Canuto e da Daili e se estendeu até o consultório do ortopedista, que é de onde rabisquei na tela do celular. A maratona das consultas e exames chegando ao fim. De agora em diante a expectativa fica por conta do reencontro no Curso de Verão, o primeiro presencial depois da pandemia. Contando as horas para cair dentro do abraço dos companheiros e companheiras de longa estrada.

A motivação da oração veio do texto do início do Evangelho de Lucas. Como bom aprendiz do CEBI, tentei fazer uma leitura orante da Bíblia, com os pés fincados no chão vermelho da estrada. Leitura Orante (lectio divina) que é composta por quatro momentos dintintos, mas integrados: a) leitura), b) meditação, C) oração) e d) contemplação). Eu acrescentaria o viver. Um excelente caminho pedagógico/exegético/espiritual de sintonia com a Palavra.

Ler o contexto além do texto, pois todo texto fora do contexto é mero pretexto para justificar nosso modo acomodado de ser. No dia de hoje, Lucas coloca na boca de Maria o “Magnificat”, o “Cântico dos Pobres” ou o “Cântico dos Pequenos e Empobrecidos”. Uma das páginas mais desconcertantes de todo o Novo Testamento. Deus sendo partidário dos pobres, e dizendo que foi principalmente para eles que o Verbo se fez carne e veio morar entre nós.

Deus se fazendo pobre, com os pobres e para os pobres. Esta é a lógica da prédica e prática de Jesus e de todo o Evangelho. Evangelizar vendo a realidade pela ótica dos empobrecidos e construindo um mundo que lhes caiba, com igualdade, fraternidade, justiça e paz. Somente movidos pela compaixão e um amor generoso, seremos capazes desta missão.

Maria, a Mãe de Jesus e nossa. A mui digna representante da comunidade dos empobrecidos, que anseiam pela libertação. Da boca da Mãe sai o “Cântico dos Pobres”, que reconhecem a vinda de Deus para libertá-los através de seu Filho Jesus. A história será transformada, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história.