Segunda feira de Semana Santa. A Semana Santa quer nos lembrar da última semana de vida terrena de Jesus de Nazaré. Como nos diz a Cristologia, estamos nos preparando para os últimos dias do “Jesus Histórico” entre nós. Jesus que deixa a periferia e vai à Jerusalém, apesar de saber que a sua vida corria sério risco ali, pois as autoridades religiosas, escribas, fariseus e doutores da Lei, não viam a hora de colocar as mãos n’Ele. O próprio Jesus criou esta situação, desde o tempo em que expulsou os vendilhões do tempo (Jo 2, 13-22). Fora os sinais que Ele vinha realizando, aumentado por demais a sua popularidade entre o povo simples, fazendo com que, as autoridades se sentissem ameaçadas. A sorte de Jesus estava lançada. Era questão de tempo.

O início de uma Semana Santa que nos coloca diante de um acontecimento histórico importante da História do Brasil. No dia 25 de março, comemoramos o Dia da Constituição. A escolha desse dia faz referência à primeira Carta Constitucional do Brasil, outorgada 1824, pelo imperador d. Pedro I. Esse documento foi responsável por organizar o funcionamento das instituições políticas e jurídicas do país, após a conquista da sua “falsa independência”. Ao todo, o Brasil possui sete Constituições, com a Carta Magna de 1988 (Nova República), que está em vigor. As três primeiras foram a de 1824 (Brasil Império); a segunda, a de 1891 (Primeira República) e a terceira Constituição, a de 1934 (Segunda República).

Mas voltando ao contexto litúrgico, depois de celebrarmos o Domingo de Ramos, em que relembramos o fato histórico da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e também o relado da Paixão e Morte de Jesus, hoje nos deparamos com este mesmo Jesus visitando seus amigos em Betânia. No tempo de Jesus, como ainda hoje, Betânia era um subúrbio de Jerusalém. Uma pequena aldeia que ficou conhecida por ter sido o lar da família de amigos muito próximos de Jesus: Marta, Maria e Lázaro. Também em Betânia, deram-se alguns dos acontecimentos importantes, que marcaram o ministério de Jesus. Esta aldeia ficava a cerca de três quilômetros da cidade de Jerusalém, do outro lado do Monte das Oliveiras, na estrada para Jericó, perto de Betfagé.

Jesus visita mais uma vez seus amigos e amigas. Da outra vez que ali estivera, foi exatamente para ressuscitar Lázaro. Em ali estando, Maria toma a iniciativa de lavar os pés de Jesus com um perfume de alto valor comercial. Esta mesma cena aparece também nos outros evangelhos com algumas diferenças significativas: Lc 7,36-50, Mt 26,6-13 e também em Marcos 14,3-9. No contexto joanino, a mulher no caso, tem nome. Trata-se de Maria, irmã de Marta e Lázaro. Chama atenção a atitude de Judas Iscariotes, que achou um desperdício, usar aquele perfume tão caro nos pés de Jesus, dizendo que deveria ser vendido e dar o dinheiro aos pobres, sendo que o mesmo carregava em si a alcunha de “ladrão”, entre os discípulos, já que o mesmo era o responsável pelo dinheiro do grupo e, certamente “passava a mão”.

“Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis”. (Jo 12,8) Falando de si mesmo e da importância de sua presença ali com eles, certamente Jesus faz também referência a uma citação contida no Livro do Deuteronômio: “Não faltam indigentes na terra. É por isso que eu ordeno a você: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente na terra onde você está”. (Dt 15,11) No dizer de Jesus, o que Maria estava fazendo, era algo que prefiguraria o sepultamento dele e que não faltaria oportunidade para que os pobres fossem atendidos, se bem que no projeto de Deus, a sociedade justa é aquela onde poder e riqueza, são repartidos de modo que não haja oprimidos e pobres, mas sim liberdade e vida para todos, todos, todos.

Jesus quer que os seus aproveitem os últimos momentos dele ali com eles. Ele está a caminho do enfrentamento. O gesto amoroso de Maria prepara o corpo de Jesus para a morte, isto é, o ato final com que Ele entregará sua vida em favor das pessoas todas. Desperdício? O espírito do poder que corrompe se apossara de um dos discípulos de Jesus, que se deixou levar e sucumbiu. Judas desculpa sua própria avareza, disfarçando-a com uma preocupação assistencialista/paternalista pelos pobres. Como seguidores e seguidoras de Jesus teremos que ser pobres com os pobres e para os pobres, sempre abertos à fraternidade com eles. Na irmandade com Jesus, todos somos irmãos e irmãs e, enquanto houver um só pobre, a sociedade toda é responsável e deverá prover às necessidades dele. Esta é a nossa luta. Isto pode escandalizar alguns dentre nós, mas como nos disse o Papa Francisco, “os pobres são os santos escondidos entre vocês”.