Segunda feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Festa em Solenidade a Santo Agostinho (354d.C.-430d.C), bispo e doutor da Igreja. Se no dia de ontem, fizemos a memória de sua mãe, Santa Mônica, hoje é a vez do filho. Mãe e filho. Agostinho, um homem de inteligência rara, que vagou pela filosofia e, posteriormente pela teologia. No primeiro momento de sua vida, por suas cabeçadas, deu muito trabalho à sua mãe, que passou grande parte de sua vida rezando pelo filho. Converteu-se ao cristianismo aos 33 anos, sendo batizado por Santo Ambrósio. Daí em diante, sua vida ganha novos rumos.

Rezei nesta manhã, acompanhado de meus hospedes matutinos. Vários deles saboreando as mangas, jabuticabas, goiabas e até as jacas, agradecidos a Deus pelo dom da vida e mais uma semana no histórico de nossas vidas, na busca das nossas realizações. No meu diálogo com Deus, me inspirei em Santo Agostinho e tentei vivenciar uma de suas frases que diz: “Sê humilde para evitar o orgulho, mas voa alto para alcançar a sabedoria”. Sabedoria que vem de Deus, mas também está presente nas coisas simples da vida, como no cantarolar feliz de meus anfitriões. Cada qual louvando a Deus com os seus acordes característicos. Na obra do Criador, o mistério da vida acontece.

Santo Agostinho foi um grande pensador como filósofo e também como teólogo da História da Igreja. Seus escritos influenciaram o pensamento de muitos. Ele é considerado o maior teólogo do cristianismo e também o maior filósofo desde Aristóteles. Coube a ele fazer a primeira sistematização do pensamento cristão, incorporando as ideias de outros filósofos como Platão ao cristianismo. Sua importância é tamanha que seu pensamento serviu como ponto de apoio para o embasamento de toda a teologia cristã ocidental. Entusiasmado com o seu pensamento, fiz de seu livro “Confissões”, o meu livro de cabeceira durante os estudos da teologia.

Ainda influenciado pelo pensamento do Dr. Agostinho, iniciei a semana de uma segundona preguiçosa, refletindo o significativo Evangelho de Mateus. Mais uma vez este evangelista nos relata uma dura fala de Jesus direcionada aos mestres da Lei e fariseus, autoridades religiosas de seu tempo. Jesus os chama de hipócritas, fazendo o enfrentamento de suas condutas no trato das questões religiosas, aproveitando-se delas para oprimir o povo pobre: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós fechais o Reino dos Céus aos homens. Vós porém, não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam”. (Mt 23,13-14) Tais autoridades não consideram o Reino de Deus como dom, nem respeitam a liberdade dos filhos de Deus.

Jesus critica veementemente a conduta das autoridades religiosas que não trabalham no acolhimento daqueles que mais necessitam de cuidados e, portanto, estão fora do Projeto de Deus. Autoridades que se sentem os donos da Lei, interpretando-as segundo os critérios de seus próprios interesses. Usam a religião para explorar e oprimir o povo. Por isso recebem uma dura reprimenda de Jesus, pois o que fazem em nome de Deus é totalmente contrario aos anseios do Pai, em relação aos seus. Ao contrário do pastoreio, são lobos vorazes que maltratam as ovelhas, levando-as ao matadouro, contrariando o que diz o bom pastor: “Minhas ovelhas escutam minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. (Jo 10,27)

Jesus está também dizendo hoje para cada um de nós que colocamos a hipocrisia à nossa frente e fazemos as mesmas coisas dos mestres da Lei e fariseus daquela época. Dentro de cada um de nós mora um “mestre da Lei”, um “fariseu”, quando deixamos a hipocrisia tomar conta de nossas atitudes, nossos pensamentos, nosso jeito de ser e viver a fé. Uma fé de aparência e falsidade. Uma fé do faz de conta. Uma fé sem envolvimento com as causas dos pequenos e marginalizados. Precisamos superar os formalismos, as coisas banais para abraçar as essenciais. O texto do Evangelho de hoje nos mostra que a religião formalista e jurídica não é meio de salvação, mas produz uma prática escravizadora e é frontalmente oposta àquela que deve ser vivida por qualquer comunidade que busca seguir os passos de Jesus. Façamos nosso este pensamento de Santo Agostinho: “Enquanto houver vontade de lutar haverá esperança de vencer”.