Domingo da Solenidade da Epifania. Neste domingo, a Igreja no Brasil celebra a solenidade da Epifania do Senhor. Esta é uma festa que podemos associá-la como um prolongamento do Natal. A palavra Epifania quer dizer manifestação, aparecimento, resplandecimento. Uma festa que quer nos lembrar da plena manifestação de Deus em Jesus de Nazaré, como luz, guia e Senhor de todo o mundo.

A tradição popular comemora a festa de Santos Reis sempre no dia 6 de janeiro. Entretanto, a Igreja celebra esta grande festa no domingo seguinte. O Evangelho desta deste dia é sempre o mesmo para todos os anos litúrgicos A, B ou C: Mt 2,1-12. Nesta perícope, Mateus narra para nós, o episódio da visita dos magos do Oriente, os primeiros personagens do Evangelho de Mateus a reconhecer Jesus como Rei-Messias.

Rezei nesta manhã recordando a minha infância feliz, quando íamos todos celebrar esta festa, ouvindo as muitas folias de reis, mineiras como eu, na “Malhada de Santos Reis”, um dos bairros de minha cidade natal. Ali vivíamos uma odisseia, viajando nas muitas melodias encantadoras das folias de reis mineiras, nos colocando em sintonia com a cena de Maria, José e o menino em Belém.

Rezei concluindo a minha oração na Igreja de São Judas. Lá fui, não somente para participar da Eucaristia, celebrada pelo padre Júlio Lancellotti, mas também entregar-lhe uma carta/compromisso, assinada pelos cursistas e monitores do 37° Curso de Verão do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEEP, em solidariedade ao “profeta das ruas de São Paulo”.

A igreja estava lotada. Muitas pessoas, das mais variadas denominações religiosas, inclusive palestinos, prestando sua solidariedade e apoio ao padre Júlio. Pena que o bispo de São Paulo, que presidiu a celebração, não soube expressar em palavras claras e objetivas o seu apoio a este homem injustamente perseguido. A sorte é que, um bispo de fora, que também se fazia presente na celebração, em poucos minutos, disse tudo o que gostaríamos de ouvir, sendo ovacionado ao final de sua fala.

A liturgia deste dia favorecia para uma boa hermenêutica, dada a sua simbologia teológica. Jesus nascendo na periferia, sendo reconhecido por magos pagãos, trazendo-lhe presentes: ouro, significando a realeza de Jesus: incenso, a sua divindade e mirra, prefigurando o final da vida do Messias, que passaria pelo calvário. Uma cena forte, mostrando o destino de Jesus: rejeitado e morto pelas autoridades do seu próprio povo, é aceito pelos pagãos.

O que chama a atenção neste texto de hoje é que, a estrela que guiava os magos, se apaga no instante em que eles se dirigiam ao centro do poder e voltou a acender quando eles se voltaram para a periferia. A salvação vem da periferia e não dos palácios dos reis, dos bispos e dos padres que se encastelam. Daí, talvez a razão do bispo não conseguir dizer uma palavra sobre a realidade dos empobrecidos, vulneráveis e descartados das ruas, a quem o padre Júlio tanto se faz como “servo sofredor”. Já dizia Leonardo Boff: “a cabeça pensa a partir de onde o pés estão pisando. Mais do que dar presentes à Jesus, sejamos nós os presentes à todos os que sofrem e são marginalizados, inclusive por aqueles que se dizem religiosos.