Sexta-feira do Tempo do Natal antes da Epifania. Janeiro dando as caras, sextando pela primeira vez. Para os mais devotos, na primeira sexta-feira, Dia do Sagrado Coração de Jesus, é a oportunidade de celebrar o amor vivo de Jesus de Nazaré que se doou pleno na cruz por toda a humanidade. Neste dia somos convidados a oferecer a Deus, por meio da oração e da ação transformadora, o melhor que podemos ser para que o Reino seja uma realidade entre nós.

Sexta feira do segundo dia do Curso de Verão, o 37° da caminhada. Um dos melhores cursos de educação popular do Brasil. A caminhada da Igreja pensada a partir da realidade das periferias geográficas, existenciais e sociais. Uma caminhada feita à luz do movimento de Jesus, numa tentativa de motivar os/as participantes a serem instrumentos na construção do Reino entre nós. Estou aqui, como monitor, desde o primeiro deles.

Os primeiros acordes de minha oração foram ainda no amanhecer no quarto do belo casarão da minha amiga Maria de Lourdes, que me acolhe neste ano. Como sempre faço, em minhas humildes preces, trago os amigos e amigas, sobretudo aqueles/as que estão mais necessitados de cuidados. Namastê! O Deus que cuida de mim, cuida também de você! Como nos disse o teólogo Leonardo Boff: “O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude”.

Meu coração matuto, bate timidamente neste espaço urbano. O cheiro das matas e dos rios não chegam por cá. Uma saudade infinita e infinda se aloja em todo o meu ser, que não sabe mais ser urbano. Quando a gente se afasta, de nosso cantinho de chão vermelho batido de nossa terra, coração pede pra voltar. Meu Araguaia corre suas águas dentro de mim e eu não sei ser eu, sem ele correndo dentro de mim.

Nesta sexta-feira, seguimos refletindo o Evangelho de João. No dia de hoje, concluímos o capítulo 1, que apresenta para nós o 4° dia da atividade de Jesus na Galileia. É sempre bom saber que João faz questão de nos apresentar as reações que as pessoas têm diante de Jesus. De um lado, reação de aceitação, que leva à vida; outro de recusa, que leva à morte. Recusa e hostilidade que levam Jesus à morte; aceitação que produz a primeira comunidade reunida em nome d’Ele.

Hoje nos deparamos com a figura tipificada de Natanael, ao ouvir falar de Jesus. A sua reação imediata dele, diante de Jesus, é movida pelo preconceito: “De Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo 1,46). Antes mesmo de ter o contato físico com Jesus, ele se deixa levar pela maldade do preconceito. Alguém vindo de Nazaré, ainda mais sendo filho de Dona Maria e seu José. Já dizia o filósofo iluminista francês Voltaire: “Preconceito é opinião sem conhecimento”.

Conhecer Jesus é o desafio de todo aquele e aquela que deseja com Ele caminhar. Conhecê-lo na sua intimidade, e não apenas do ouvir dizer. Fazer uma experiência de intimidade com Ele, pois na medida em que o conhecemos numa relação mais profunda, faremos também a mesma experiência de Natanael: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. (Jo 1,49) Não basta conhecer Jesus. É necessário abrir o coração para com Ele caminhar pelas estradas da vida.

Deus nos ama profundamente e de forma absolutamente generosa. Sua amorosidade está presente em nós desde o ar que respiramos e que faz pulsar o nosso coração em direção à vida. Ele nos conhece muito mais do que aquilo que achamos que conhecemos de nós mesmos: “Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas”. (1 Jo 3,20) No mais, podemos seguir o conselho do filósofo Sócrates: “Conhecer a si mesmo significa descobrir Deus nos outros”. O rosto dos “outros” mostram-nos o rosto do Filho de José.